sábado, 28 de junho de 2008

Não é você.

"Eu deveria distribuir bulas, como se eu fosse um remédio com caixinha tarja-preta. Seria mais fácil para eu e todo mundo conviver em harmonia, sem esses dramas corriqueiros. Não que o egocentrismo tenha tapado meus olhos a ponto de impedir-me de aceitar a existência de outras pessoas, mas eu realmente penso que é mais complicado comigo - como a maioria deve pensar... Acontece que é tudo previsível. Veja, que legal!, nós nos beijamos. Sabe, nem sempre beijo é tudo na vida. É deprimente ficar entediada e desejar estar sozinha. Ainda bem que isso não parece acontecer com os outros habitantes desse planeta. No fundo, é até meio covarde aceitar ser um pedaço de alguma coisa para alguém que não tem nada, sabe. Quer dizer, é como alimentar vampiros com sangue de cadáver, sabe? E não existe isso de dizer que não sabia, porque a gente sempre sabe quando é importante - ou pelo menos tem um pouco de noção. É tão trágico pensar nessa relação de que mesmo 'sozinhos e felizes' existe a impressão ou curiosidade de como seria se fôssemos nós e mais um ou outro. E você liga a tv, assiste um filme, vai no supermercado e se depara com todo esse sentimento de que 'ok, você está sobrando, baby' - porque não tem ninguém para chamar de baby ou algo mais brega. A minha intenção não é seguir repetindo o que já se sabe, mas enfim, tentar jogar um balde de água fria nessa merda toda de construir e desmoronar. Nos outros animais essa relação macho-fêmea é tão mais objetiva, que inveja! Existe gente por toda parte, gente procurando qualquer coisa, gente sonhando com algo específico, gente ocupada demais com alguma coisa que perto da idéia de amor não é tão importante (tipo a cura da Aids), gente ocupada com qualquer outro pensamento. E, então, eu penso: onde eu me coloco? Porque eu não estou procurando ninguém, não sou exatamente ocupada com nada e metade das coisas que eu digo eu invento na hora. A idéia da bula não é original, mas realmente não é má idéia. Acabaria com a mágica da coisa, mas seria tão mais eficiente aceitar e recusar paixonites alheias como se faz com contatos do Orkut. Não é querer promover a libertinagem, mas o apego emocional inibe tantas sensações. Cruzar a linha é algo tão simples e perigoso quando se fala em relacionamentos - depois que algo começa isso só tende a acabar. Ótimo, renovação! - você pensa, mas a conseqüência chega em uma mala de problemas que te tiram o sono. Pensando na Clementine, na Claudia e numa outra personagem de um outro filme, da linha "que toda adolescente acha meigo", não parece horrível não autorizar alguém a alimentar sentimentos por mim. Isso pode ser encarado como uma sinceridade fria e resumiria muita coisa. "Oi, não quero ter nada com você pois sei que vou ficar entediada" - dizer isso e resistir àquelas frases de efeito comuns, onde a pessoa promete que vai agir de um jeito diferente - isso é triste, uma vez que ela vai pensar em alguma história comum de relacionamento que fracassou entre você e outro alguém. A primeira coisa é pensar que te traíram, a segunda é perto disso - e nunca chegam no real problema. Até por isso eu não acho um crime o típico suspiro de "não é você, sou eu". Afinal, sou eu que escondi todo esse emaranhado de coisas que você me fez ou não sentir. Ou não escondi, como pode acontecer, mas, enfim, você não viu - e isso não é motivo para mais drama e músicas com a letra "mas você não viu...", tipo Pitty. Realmente, perderia a graça escrever um manual... dizer que eu visto cinza nos dias cinzas e preto nos momentos de raiva, comentar que verde ajuda a destilar veneno e rosa é sinônimo de insegurança. O processo de decadência faz parte da evolução, sabe. Eu falo disso, de saber ouvir, entender e crescer. O problema maior é que as pessoas simplesmente trocam as duplas e se esquecem das vezes em que foram ridículas, seja por fazerem ou não alguma coisa. O que me faz agir como um tabuleiro de xadrez é pensar que as jogadas são previsíveis, uma vez que se percebe quem são os jogadores por trás das peças. Mas eu queria dizer que comigo é mais complicado, não é? Então talvez não adiante muito concluir com "não é você, sou eu" como justificativa. Que se foda."

Laurah.


(Sem mais posts com a temática 'amorzinho' pela frente - eu espero.)

terça-feira, 17 de junho de 2008

'Alguém'


E ele abriu os braços rapidamente, protegendo aquele pedaço de solidão. Sabia que se completavam - ao menos nessa semelhança, onde um concluía a tristeza inacabada do vazio do outro. Seria um abraço silencioso, não fosse o soluço abafado. Normalmente ele sabia o que fazer, mas essa situação foi totalmente inesperada. Olhou ao redor, pensou em acomodá-la em um banco, mas não fez nada além de acariciar seus cabelos, um tanto nervoso. Paralelamente, seus pensamentos beiravam o branco - não havia o que precisasse ser nítido, uma vez que era ele quem deveria manter o controle. O vento gélido não foi suficiente para acabar com o calor daqueles corpos tão colados, unidos não só pelo toque da pele. Algum outro narrador mais piegas enfatizaria que os dois corações batiam juntos, mas falar isso com tanta emoção seria denunciar que eu nunca vivi tal sentimento. Falar na terceira pessoa pode ter um sabor especial, sabendo que posso acrescentar detalhes e enfeites que não passariam de fantasia aos olhos de quem lê caso eu me posicionasse como a mocinha desabrigada que busca refúgio nos ombros de um alguém. Nos ombros de um alguém. O ponto é que encontrar 'alguém' vai muito além de trocar carícias e palavras, muito além das verdades e mentiras que se cruzam nos olhos, muito além de conhecer uma pessoa e gostar dela - aprender a gostar, como diriam alguns. Diferente do que se lê em poemas ou se percebe em uma novela global, o processo do autoconhecimento nem sempre é individual, simples ou descritível. Ás vezes, é preciso buscar em um abraço o pedaço que falta, que insiste em gritar - uma vez que o soluço se silencia, a terceira pessoa - ou eu, como quiser -, sabe que está diante de 'alguém'.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Bocejo.

Às vezes eu penso que nem me lendo eu entendo o que eu quero dizer com certas coisas. Tentar me explicar, principalmente citando meus erros, parece funcionar como um auto-flagelo falso, que me livra de maiores pesos na consciência. Não gosto de estar familiarizada com pedaços de mim que insistem em me fazer colocar em risco. Minha cabeça de fantasias já não diferencia o que foi real e o que não passou de sonho. Não sei se meu conforto em me posicionar como egoísta orgulhosa não passa de mais medo.

Fingir não se importar não torna a vida mais fácil.
Mas e daí?!