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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

bananafish

Tenho medo de, de repente, parecer tão previsível e tão menina e tão eu. Acho que estou me aproximando de uma realidade vivida numa espécie de aquário, em que eu sou um peixinho bonitinho. Não é que eu não seja capaz de compreender o que está ao redor, mas os olhos grandes por detrás do vidro me assustam. Eu ganho comida (a comida que eu gosto!), e a água é limpa (como eu gosto!), e tudo é muito tranqüilo e alegre ao mesmo tempo. Pensando bem, não sei do que eu tenho medo. De repente, percebi que sou mais insegura do que eu pensava. Aliás, eu não sei daonde saiu tanta insegurança. E, ao mesmo tempo, não mudaria nada do que anda acontecendo - parece que eu escrevi isso em um caderninho de sonhos. Mesmo. Tipo brega ao extremo, mas nem um pouco mentira. Acho graça quando encontro alguém muito parecido comigo. Se torna fácil amar e odiar a mesma pessoa. Difícil é ignorar as semelhanças... E ignorar é o que eu menos quero agora: estou encantada demais no meu aquário. O lado bom de eu parecer mais transparente acontece não só nas transmissões de pensamento em momentos triviais, mas no trato de situações que poderiam ser encaradas como mais delicadas. Não há nada a ser negativamente criticado, nem uma palavra. Nenhuma. Resta, então, o desconforto em parecer, às vezes, tão menina quanto as outras: tão infantil, irracional, impulsiva; emotiva. É, tenho que aprender a lidar bem com imprevistos. Afinal, não são todos que reconhecem um "bananafish". E menor ainda é o número dos que entendem realmente um peixinho tão bonitinho.



segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Estilo "Let it be".

          E a gente fez aquela coisa de sentar onde der e ficar por isso mesmo. Eu nem lembro qual era o assunto, mas sei que não ficou aquela coisa de "Veja como o céu está estrelado!". Quando a gente não se importa muito com o que está ao redor, parece que ele incomoda menos: a grama não pinica, o clima fica mais agradável, o vento não é exagerado nem insuficiente.
          Eu fiquei pensando no que dizer e, ao mesmo tempo, eu não estava preocupada com o que eu diria exatamente, mas em estar ali. Dizendo besteira, dizendo o que fosse, ou não dizendo nada. A gente sempre tinha assunto, talvez até demais. Isso é reconfortante, parece ser tão ideal. E, então, o meu não saber o que dizer deixava de brilhar na minha mente: talvez o que eu não soubesse fosse o meu lugar naquilo. O meu lugar em tudo. E o não saber o que dizer deixava transparecer as reticências que me preenchiam.
          Até que eu disse "Hey, eu não sei o que dizer.", e isso foi tão porcamente sincero e não mostrou nada do que eu queria mostrar. Por trás das palavras que eu não sabia escolher, existia uma mensagem que insistia em ser pronunciada. Mas, antes das sílabas se encaixarem, eu precisava ter certeza de pelo menos alguma coisa naquela realidade tão cinematográfica.
          E sei lá quanto tempo se passou. Não farei suspense para concluir que eu não disse nada. Não disse, não disse nada do que talvez eu quisesse dizer. Mas tem coisas que parecem nos enganar: querem pular do coração para a boca, sem passar pela cabeça. Os pés têm que estar no chão - ao menos eles precisam estar a salvo... ao menos eles...
          O mais legal de tudo é que não foi uma cena romântica. Foi descontraída o bastante para poder se repetir involuntariamente quantas vezes fossem, sem se tornar clichê. E a gente fez aquela coisa de caminhar de um lado pro outro e não se encontrar. Parecia que existia uma barreira plástica que nos impedia de estar completamente no mesmo lugar - mas isso só causava mais interesse, mais curiosidade. E, por vezes, essa parede invisível filtrava algumas imperfeições. "Imperfeições... Imperfeições... Imperfeições não existem!", eu comecei a pensar. Acho que ele sempre teve acesso ao meu lado mais ou menos de ser. E talvez eu quisesse mostrar meu lado mais legal, digo realmente me esforçar.
          Para algumas pessoas vale a pena fazer algum esforço. Fato. E, de repente, foi o que ele fez também quando me poupou de elogios rotineiros, desses que qualquer um faz para qualquer uma. É engraçado pensar que talvez ele também estivesse lutando com as palavras, ou que desconhecesse seu papel em tudo. E acho estranho como eu me importo sem sofrer: de onde vem essa segurança e para onde ela vai? Às vezes, o que basta mesmo não é dizer a frase certa, mas estar presente. De corpo e alma, pés, mãos e boca. Estilo "Lei it be".




terça-feira, 6 de outubro de 2009

Gold Soundz

Ele parou o carro no posto de gasolina. Deixou o cara do posto enchendo o tanque e entrou na lojinha para comprar chicletes e coca-cola. Quando ele começou a se aproximar, eu fechei a janela do carro - deixei que o vidro escuro me deixasse quase invisível. Eu me sentia melhor assim, gostava de observá-lo sem que ele percebesse. Voltou com duas cervejas, os chicletes, a coca e uns três pacotes de bolacha. Pegou a chave com o cara e, uns segundos depois, estávamos de volta no asfalto. Durante a viagem, ouvíamos qualquer coisa. Digo isso porque nosso gosto era mesmo parecido. Músicas, livros, filmes e todas essas coisas que parecem dar mais sentido e personalidade às pessoas. Não exatamente tão clichê. A pretensão não era voltada para uma tentativa de fazer nascer qualquer porcaria de sentimento, apenas existia a intenção de aproveitar os acontecimentos. Se temos que viajar, que seja legal. Se queremos viajar, e queremos ir juntos, ok. Simplesmente ok. Estrada, noite, vento e música - nada errado. Eu sempre gostei de ficar olhando para o cabelo dos outros, mas, com ele, minha atenção sempre se voltava para sua barba enigmática. Eu falo isso porque nunca soube se ela era como era propositalmente ou por preguiça, acidente, qualquer outro motivo aleatório. Eu gosto de coisas inusitadas, e barba por fazer, e pessoas que se vestem bem porque realmente combinam com o que vestem (e não, necessariamente, porque combinam as peças ou coisa que o valha). Ele dirigia com uma mão na direção, falando besteira atrás de besteira. E como eu adoro besteira! O fato é que eu ri muito durante a merda da viagem. Aquelas seis horas passaram muito, muito rápido. Devo ter ouvido os melhores cd's do mundo e dito todas as coisas que me passaram pela cabeça. E, quando ele falava, eu ficava olhando a boca dele se mexendo. E pensando na barba, na maldita barba. E em todo aquele cabelo, que eu não hesitaria em bagunçar. Acho que uma das minhas marcas é despentear as pessoas. Tipo isso. E ele falava e abria tanto a boca, como se fosse comer o mundo com as palavras. E eu achava graça, eu sempre achei graça. Do lado dele, eu me sentia como uma música dos Pixies, um clipe de Killers, sei lá. Lost in Translation com o humor de Skins. Whatever. O fato é que madrugada combina com humor porco, e revelações, e todas as coisas sinceras e longe de serem avaliadas como certas ou erradas. Certos segredos só se vivem com estranhos. E é legal ter do seu lado uma pessoa de barba enigmática - ajuda a manter o ar impessoal. Eu me enrolei num casaco, encostei a testa no vidro e fiquei vendo as árvores se tornarem borrões no escuro. Sempre me pergunto o que eu faria exatamente se, do nada, estivesse do lado de fora do carro no meio do caminho entre uma cidade desconhecida e outra-que-sei-lá-qual-é. Ele me contou sobre suas férias de seis anos atrás, sobre sua relação com sua irmã, enumerou os defeitos da antiga escola e fez umas trocentas listas sobre todos os álbuns que eu tinha que ouvir. E me falou dos amigos, de como aprendeu a tocar baixo e todas aquelas histórias que eu gostava de ouvir repetidas vezes - apesar de ele raramente repetir alguma. Sempre tinha algo novo pra contar, uma nova porcaria que algum infeliz tinha feito. Eu gostava de fazer parte daquilo, gostava de estar ali comentando tudo abertamente. Trocávamos xingamentos e depois ele sempre me abraçava daquele jeito diferente. Grosseiro e afetuoso. E extremamente "dócil". Dócil é uma palavra estranha, mas se encaixa nessa situação. Por vezes, sentia vergonha por alguma grande merda que eu dizia. Daí, ele olhava pra mim com aquela cara de indiferença e dizia que eu tinha que agir assim mesmo. Grande merda mesmo. E, realmente, grande merda. Acho que as boas coisas realmente nascem daí, dessa espontaneidade, desse "eu sou assim mesmo" - que torna os erros apenas enganos passageiros (e pronto). Tudo é mais simples se é espontâneo, se ocorre naturalmente. Tudo cru. Cru. Cru é uma boa palavra, e é do tipo que ninguém fala ou escuta com muita freqüência - a não ser quem trabalha em uma cozinha. E eu sei lá se ele sabe cozinhar. Sei que a gente come qualquer coisa, como escuta qualquer coisa. Qualquer coisa, menos pastel de palmito com massa integral. Sabe, se eu for pensar bem, ele é organizadamente desajeitado. E eu adoro isso. Adoro pessoas que não parecem perfeitas e acabam se passando por isso justamente por serem exatamente como são. A gente dividiu a coca, acabou com os chicletes e se divertiu cantando rap e falando mal de quase todo mundo. Isso era uma coisa que eu admirava nele, esse "quase". A linha tênue entre o fazer ou não, que acabava silenciada no não. O silêncio, o silêncio dele era outra coisa que me intrigava. E, quando vencíamos a distância, e a barba se aproximava do meu rosto, eram seus olhos inusitados que me roubavam a atenção. E eu gosto de como grande parte da história é besteira, grande parte se resume em barba e cabelos e roupas. Nem só de subjetividade vive uma pessoa. O que é externo e visível importa, importa porque também agrada. E desagrada. E eu não sei se agrado. O fato é que eu continuo fechando a janela toda vez que ele se aproxima, numa tentativa de me esconder e poder observá-lo à vontade, livre da minha identidade e da responsabilidade de ser eu. Tem pessoas que me agradam tanto que, nem sei, me fazem querer estar por perto, mas escondida. Não seria insegurança. Talvez eu seja desajustada também. E grosseira, às vezes. Tanto faz, ele não se importa com essas porcarias. Ele é desses caras que fazem a gente ser a gente, defeituosamente a gente. E do jeito bom e lindo também.

domingo, 23 de agosto de 2009

Bagunça emocional.

"Você vai continuar fazendo isso sempre?"
"...vai continuar fazendo isso sempre?"
"...vai continuar fazendo isso sempre?"

Aquilo ecoou na minha cabeça de tal forma que, quando a oportunidade surgiu - meses após ouvir a pergunta -, eu fiquei perturbada e nada fiz. Fiquei estática, olhando sua cabeça repousar sobre os braços. E nada fiz, nada fiz. O que tenderia a ser um gesto espontâneo poderia ser interpretado, naquele momento, como um pedido silencioso ou uma declaração indevida. Fiquei com medo de ser não-entendida - até porque, talvez, qualquer opinião extremista sobre a cena resultasse em erro. Carinho é uma coisa, vontade é outra completamente diferente: mas os significados podem servir de complemento um para o outro. Como as pessoas - diria alguém bem mais apaixonado.

"Você vai continuar fazendo isso sempre?"
"...vai continuar fazendo isso sempre?"
"...vai continuar fazendo isso sempre?"

Diante daquela expressão tão bonita, tão plácida e convidativa, não tive como dizer que não. E minha resposta não seria outra mesmo, nem cogitei refletir mais em cima disso. Não se tratava de uma possibilidade, mas de um destino. Destino? Não... muito forte, muito brega, muito definitivo. Se tratava de uma certeza de que tudo continuaria a ser do jeito que era. Logo, não havia razão para não continuar fazendo o que se fazia. Preservar e melhorar o que é bom, desmistificar e solucionar os desprazeres. Como uma receita de bolo - diria alguém não-sei-de-que-jeito-mas-não-do-meu.

"Você vai continuar fazendo isso sempre?"
"...vai continuar fazendo isso sempre?"
"...vai continuar fazendo isso sempre?"

Vou. Só porque não o fiz naquele momento, não quer dizer que seus cabelos se verão livres da bagunça dos meus dedos. Ou o contrário. Ou sua bagunça mental, ou minha bagunça emocional. O fato é que o que é bom não se perde. Para os casos mais extremos, existe o poder da lembrança - a coincidência de ouvir uma música tocar e o coração bater na mesma freqüência, como fora em tempos passados. E não aceito a palavra de mais ninguém como sugestão para essa história.


terça-feira, 11 de agosto de 2009

WaitingPeople

E se eu me apaixonar pelo Inverno, pelo frio do Inverno? Terei de esperar por ele durante as outras estações... E sentirei saudade, sofrerei com isso: a mais leve brisa trará a lembrança do frio. Terei de aprender a conviver com o calor, com a luz, com as cores - com todas as mudanças de cheiros, pessoas e lugares. Mas esperarei. Esperarei pelo Inverno, esperarei por ele: verei as árvores se encherem de flores e frutos e, num segundo instante, recolherei algumas das folhas secas do tapete marrom que cobrirá os gramados intermináveis. Será bonita a espera, serão tristes as incontáveis despedidas. Contarei os dias e os meses para estar próxima ao meu amor - cujo calor se destinará a mim. E como seria isso, o calor do Inverno? Seria frio, frio e pálido como toda a estação. Cinza, gélido, mas ainda delicado. As nuvens nos impressionam, nos intimidam, mas nada mais fazem do que defenderem-se da fragilidade em que se encontram. Eu entenderia as nuvens, conheceria os ventos, suportaria e amaria o frio. E o faria quantas vezes fossem necessárias, sempre que eu sentisse desejo. Me apaixonaria e me deixaria levar pelo Inverno. Seria tola, seria cega, seria feliz e apaixonada com minha condição de pessoa-que-espera.


Pessoa que espera.
Pessoas que esperam: esperam por serem passivas ou pacientes em demasia ou terem esperança ou terem certeza ou não terem nada. E mais vários outros ou's. Esperam porque constantemente estão divididas - divididas entre fazer o melhor para o outro e o melhor para si. Dizem que quem gosta cuida, mas quem gosta também deve deixar o outro ir - se é isso o que ele quer. Deve?! Como aceitamos ficar sem o que nos faz bem? A felicidade alheia nos alimenta? Sentimos pena de nós mesmos? Somos ridículos por não lutar? E por lutar em vão?

Esperar. Esperar por uma pessoa, por uma resposta, por uma verdade (por vezes dolorosa), por uma mentira bem-empregada, por um sorriso, por um gesto, por uma explicação, por qualquer palavra que quebre o gelo, o silêncio, o vazio amargo da espera. Ah, a agonia de não sentir o tempo passar... Nada mais angustiante do que estar de fora dos acontecimentos, assistir à realidade com os mesmos olhos sonhadores de antes. Não se deseja o que é platônico, mas o que é belo - de preferência, sua face sólida e alegre. A busca pelo concreto nem sempre se dá experimentando, mas observando as coisas e analisando seus movimentos. E, ainda assim, existem vezes em que nem o que é óbvio se mostra claro...

Chega dessa história. Basta! Sem mais aquele drama de "se foi" e "nunca mais". Eu não digo nunca, não digo sempre - sou completamente "talvez". Espero, esperava, esperei. Esperaria e esperarei. Conjugarei 'esperar' de todos os modos, pois sou uma das tantas pessoas que esperam. E não deixo de fazer acontecer por esperar. Não, não deixo de viver. Pelo contrário: vivo tudo intensamente. Intensamente.

E, cada vez mais, me aproximo daquela sensação calma de ser uma Claire. Quero saber sobre as pessoas, ouvir suas histórias, entender o que sentem. E me sentir importante, me sentir parte disso - ainda que temporariamente. Não acho que eu tenha um lugar, não acho que a gente deva ter um lugar fixo. Faço o que me satisfaz, ainda que isso, por vezes, signifique um pouco de masoquismo emocional.

Eu esperaria pelo Inverno sem angústia, suportaria qualquer coisa. O faria, num passado ou num futuro. Talvez o teatro tenha custado a passar diante dos olhos da platéia, talvez as falas tenham se repetido. O fato é que demorei a entender a mensagem. Às vezes, o susto só faz piorar a morte. Mas eu esperei, esperei por isso pacientemente. E as palavras não vieram com o mesmo vento que me dizia seus contrários. "Há males que vêm para o bem"... Ok, próximo round. Estranha-estranha paz interior.





"I don't love you anymore. Goodbye."
{Closer}



segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ivy9

Levando em conta que mais de metade das músicas de amor (que devem representar 90% do todo) são do tipo "fossa", achei engraçado como meu leque de letras-musicais-em-que-eu-me-encaixo cresceu repentinamente nesse mês. E se, por um lado, acho tudo isso um exagero, por outro, não acho que eu tenha tido a pior das reações. Nessas horas, me irrita pensar que "ombros amigos ganham braços" - eu disse isso ontem no msn, mas a pessoa com quem eu falava não entendeu. Não sei se ficou claro, mas de qualquer jeito não acho que eu deva comentar isso. Eu teimo em não ver algumas coisas, em insistir na minha interpretação dos fatos quando, na verdade, eu deveria considerar que nem todos vêem o mundo com meus olhos infantis. De algum jeito, mesmo que mais uma vez pareça exagero, é como se a confiança depositada fosse para o ralo. Eu sei que não deveria, mas acabo pensando no passado como um erro de cálculo - o passado que desenvolveu essa situação presente, foi dele que eu falei. Eu passei por uma semana de morte (talvez duas), depois me acostumei. Não arriscaria dizer que o arco-íris voltou a brilhar com todas as cores, mas pouco-a-pouco a nuvem cinza vai se espalhando pelo céu. Ou não. Mas, tanto faz, aceitei a situação. É apavorante quando você não encontra ninguém que entenda o que você sente - é claro, às vezes isso é o que reconforta (quando precisamos ficar sozinhos). E aquilo do "ridículo do sentir" me invadiu de tal forma que, enfim, me debilitou completamente. Ok, até parece que eu comprei uma cadeira-de-rodas ou algo assim... Ivy, foi só um tombo. Isso acontece quando você deixa seus tênis pelo caminho. Bah, as férias chegaram em boa hora. Tenho aproveitado (o fato de eu estar com a bunda nessa cadeira, às quatro e meia da tarde, não distorce isso), tenho visto gente bacana e ocupado minha cabeça com pensamentos diferentes dos que me perturbam quando ponho os fones de ouvido. Foi bom ver Juno de novo com o Shaolin, ouvir a voz da Thays, conhecer o lado mais humano (sensível?!) de algumas pessoas. Eu cresci um monte, estou alegrezinha de novo. Acho que nunca foi a intenção eu me tornar o oposto disso. Não estou nem um pouco "à caça" - nem um pouco. Acho isso extremamente vazio e seria um desfecho realmente deprimente para mim. Me basta sair e escutar músicas aleatórias, que eu não escutaria em casa - falar bobagem, tomar alguma coisa e arriscar alguma coreografia banana. Me basta, mas nem preciso disso: o lado-lobo sempre existe, com a sede por solitude. A gente vê esses seriados, essas historinhas de ficção onde tudo acaba sendo lindo e brega e se pergunta se nos encaixamos em algum papel. Já me disseram para descartar o título de "pessoa substituta". Não ando com muito jeito para escrever coisas na terceira pessoa e, se for pra falar "eu", falemos de mim. (Haha, momento Ego.) Não acho que esteja escrevendo para me ler e me entender, me organizar. Não estou mais bagunçada, eu acho. Quer dizer, estou pulsante, minha cabeça está a mil quilômetros por hora e tudo nesse sentido... but i'm fine. Always fine. Sorria e acene, Ivy. Sabe, é engraçado ser uma garota pequena de palavras confusas. Tem a sua graça, mas também é desgastante. Não quero, não quero ninguém novo. Ninguém de diferente. Nem pra hoje, nem pra ontem. Me irrito com insistência nesse sentido. Eu levo tudo de forma muito intensa (e dramática), eu sou sensível e extremamente ouvinte do sr. meu coração (não existe um jeito de dizer isso sem parecer alguém muito brega e fã de Sailor Moon) - não vou fazer nada por fazer. Faço se estiver afim, se eu achar conveniente, se for fazer bem pra mim. Nesse sentido, não vejo razão em não ser egoísta. Sei lá também. De repente, levei tudo a sério demais. Mas nem penso mais nisso. Acho que vai ser bom começar do zero, me conhecer de novo, conhecer as pessoas de novo. Tudo de novo. Pé atrás, cabeça erguida e olhinhos brilhantes. Não vou perder tempo ruminando erros, acertos e desentendimentos (Ivy, you're not a cow!). Não vou perder tempo, mas também não estou com pressa de nada. Sei lá. Quando a gente começa a pensar demais na nossa situação acaba ficando meio triste, eu acho. Enfim. Descobri músicas ótimas e estou buscando a música ideal para fazer uma coreografiazinha. Foi bom descontar tudo na dança (e nos ouvidos alheios - thanks!), consegui evoluir bastante. Para alguém que se dizia extremamente rancorosa, acho que mudei bastante isso reavaliando alguns pontos. As pessoas têm seus lados bons e ruins - e aí está a mágica delas. E eu não estou apontando para nada ou ninguém, apenas falando sem parar. Fiz tanto isso ultimamente que estou sem voz (sério!). Ok, acho que vou me ocupar agora: lavar a mochila, arrumar umas roupas, pendurar moedinhas, ver House, whatever. Eu estou instável, então talvez depois eu leia isso e ache uma grandissíssima bostinha. Sempre existe a intenção de escrever 'mais tarde' quando eu posto algo de dia. A sensação de ansiedade, na verdade, não passou por inteiro. Eu acho engraçado escutar os conselhos e palpites de todo mundo a respeito da minha vida - engraçado porque eu não sigo nenhum deles, mas sou grata aos que me dirigem a palavra. Ok.





terça-feira, 7 de julho de 2009

Rainy Date

Eu fiquei parada no cordão da calçada, assistindo as rodas dos carros arremessarem água em mim. Não é que eu fosse de todo indiferente, mas eu realmente não estava vivendo a situação: meus pensamentos são aleatórios e constantemente me tiram da realidade. Não estava indecisa quanto a ir ou vir, correr para o outro lado ou voltar para lugar nenhum - estava mesmo era perdida nesse vão que existe entre o desejo e a busca. Certas buscas são inúteis. Inúteis, inúteis como são certos desejos. Mesmo que sejam desejos, sem a pretensão de serem mais do que desejos: desejos são feitos para os querermos e nada mais. São só desejos. E eu fiquei ali, na chuva, desejando o indesejável, contrariada com minhas próprias motivações.

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A noite passada foi uma merda, uma merda de noite. Não dormi, não comi, mal respirei. E detesto quando acordo e o dia não parece dia novo, não tem cara de que houve mudança. Saí de casa com a expressão mais azeda no rosto, com meu olhar mais desprezível, com os tênis desamarrados - como se simbolizassem minha revolta, minha autoafirmação. E todos na rua pareciam beges e verdinhos e ensolarados apesar do dia ser chuvoso. Não peguei guarda-chuva, porque eu não uso um: não gosto de fingir que eu me sinto seco quando tudo ao meu redor está molhado e frio. Eu tenho essa mania de acabar parecido com o cenário, de absorver as cores e de agir como a situação pede - sem anestesia.

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Ela vestia seu sorriso mais cinza, ele tragava seu humor mais impaciente. Se esbarraram no meio do asfalto, caminhando esbaforidos em sentidos contrários - o desejo e o não-anestésico. Alguns olhos conseguem ver além das aparências, algumas palavras conseguem traduzir o que os sentidos reproduzem mas, na cena, nenhum dos dois jovens viu no outro um pedaço de espelho. "A chuva lava, mas também afasta, muda as coisas de lugar". E o momento do encontro duraria menos se uma ponta de cadarço não tivesse sido alvo de um dos pés pequenos que desviava das poças do caminho: a garota não era do tipo bege ou verdinha, menos ainda parecia se importar de estar molhada - bem como o rapaz não parecia estar tão presente assim naquele instante. Não significaram nada um para o outro, mas estavam sob a mesma nuvem. Estranhos sob a mesma nuvem. E talvez nem fossem tão diferentes assim.




domingo, 21 de junho de 2009

gris.


A música começou a tocar e me deu aquela crise de nervosismo. Pra ser sincera, eu não esperava que ele fosse se levantar. Eu queria que ele deixasse aquela mesa e se aproximasse da minha, mas não achei que isso fosse acontecer tão no início da noite. O mais estranho é que, ao mesmo tempo em que eu fiquei eufórica, pensamentos superperturbadores me invadiram. Sabe, eu não queria dançar. Eu não sabia dançar. Dançaria se fosse com ele, mas, pelo mesmo motivo, eu não arriscaria colocar meus pés na pista. Se ele passasse reto por mim seria decepcionante, mas, se estendesse aquela mão bonita daquele modo clássico e brega, também seria desconfortável. Coitado, ele tinha tudo para me fazer feliz. Feliz e infeliz, porque eu nunca me dava por satisfeita.

Ele cumprimentou um conhecido dele que estava sentado quase à minha frente e então fez aquela coisa de subir a sobrancelha e fazer um aceno com a cabeça, num gesto quase imperativo que fez eu me levantar instantaneamente. A gente pegou dois copos e passou reto pelos casais que dançavam. Me disseram que nós ficávamos bonitinhos juntos e, de fato, dançando ou não éramos um belo par. Não que nós fôssemos dignos que ganhar coroas e título de rei e rainha do baile, essas coisas de filme, mas realmente nos dávamos bem. Realmente. E eu gostei de ter debruçado meus braços no parapeito da sacada e sentido um pouco daquela chuva na pele. Ele era uma boa companhia para dias e momentos cinzas. E festas, para mim, tendem a ter essa cor.

Nós ficamos conversando, conversando como pessoas que se gostavam. Isso engloba amizade e um pouco de ciúme talvez - ainda que não se note exatamente isso em uma conversa. Sempre achei engraçado que, desde o início, mantínhamos uma relação internalizada, ao contrário do que se vê por aí. E, apesar de falar muito sobre muita coisa, eu sentia que ainda teria muito por vir. Muito o que falar, o que ouvir e o que sentir. Ele era dessas "pessoas que te fazem sentir", como dizia uma propaganda de seriados da tevê. Acho que não conheço, hoje, outro exemplo para citar. Mesmo quando ficávamos em silêncio, não era de todo mal: ele me causava aquela mistura de emoções e pensamentos e, por menos próximos que fôssemos um do outro, eu sentia que naquela distância que nos separava existia uma grande razão.

Eu não sei se queria mesmo dançar ou se era só o desejo de me sentir tão bem quanto os outros pareciam se sentir. Sempre achei isso uma grande bobagem e evitei que essa preocupação tomasse grandes proporções, mas, naquele segundo, essa dúvida me incomodou. Uma música antiga atrás da outra, luzes discretamente coloridas e sorrisos bonitinhos: aquele ambiente algodão-doce nunca me parecera tão atrativo. E peguei a mesma mão bonita que não fizera o gesto de cavalheiro para mim e a segurei na altura dos meus olhos. Então, deixei que ela se acomodasse onde antes estava, pensando em como justificaria aquele gesto impulsivo. Ele passou os dedos no meu rosto carinhosamente, como fazia às vezes, e nada disse. Nós ficamos nos olhando por um tempo, até que fomos interrompidos pela risada escrota de uma garota bêbada que tinha escorregado nas lajotas molhadas.

Tanto faz, nós não ficaríamos muito tempo juntos. Ele saiu mais cedo com uns dois amigos para beber em algum lugar, mas agradeceu minha companhia. Eu também me senti grata pelas palavras trocadas e por todo aquele bem-estar. E, por mais ingênua que fosse, eu ficava alegre em saber que produzia algum bom efeito em alguém que, pra mim, era especial. Meu medo era de fazer com que ele se acostumasse a me ter sem que eu pudesse acessá-lo do mesmo modo - ou, talvez, meu medo se resumisse em não estar mais com ele. Mesmo que nós só "estivéssemos" nesse tipo de situação em que você se aproxima de alguém ímpar quando tudo a sua volta é par. Tem vezes em que é mais importante dançar, independente da companhia - mas essa parte eu não sabia fazer. Talvez ele precisasse de alguém que o estimulasse, que o fizesse se sentir como todo mundo que mantinha aquele sorriso bobo no rosto. Mais provável, porém, é pensar que ele não precisava de nada, de ninguém. E tudo o que eu tinha que fazer era fingir muito bem que eu não me importava.

sábado, 30 de maio de 2009

i melt with you

Te ofereço minhas palavras mais sinceras e o toque das minhas mãos nas tuas. Pretensão seria esperar que toda a minha felicidade fosse tua também ou que minha presença bastasse para alegrar-te. Não desejo coisas impossíveis, tampouco tenho medo de não realizar as possíveis: sei que, até onde posso, executo meus planos não-escritos. E, assim, calmamente, conheço tua pele como parte de algo maior e diferente de mim. Não exijo mais do que o teu respeito, mas me faz falta tua companhia. Provocas em mim saudade sem a dor da necessidade, alimentada com afeto e a mais pura vontade. Vontade de ti. Vontade de te ver, de te ter ao meu lado vendo o tempo se consumir, esfarelar-se. Teu sorriso ecoa em mim, bem como tua angústia - e, mesmo quando estamos em lados tão opostos, não deixo de ver-te com os mesmos olhos sonhadores. Minha fascinação tem fundo: é racional - mas também se justifica com o abstrato, com todos os verbetes que eu não sei dizer. Falo o que eu penso muitas vezes sem pensar, mas nem por isso minhas afirmações são menos verdadeiras. Por trás da intenção, existe a motivação. E, em cada gesto meu, existe o carinho de quem gosta de ti - e gosta de gostar. Tu és música, és poesia, és a resposta para muitas de minhas perguntas, mas também és minha maior e melhor dúvida. Quero que sejas livre para buscar o que te faz bem, quando e como achares que deve. Se tropeçares em mim no caminho, não espera mais do que já vês: te ofereço minhas palavras e minhas mãos - o resto é conseqüência.



domingo, 24 de maio de 2009

in my life...

Nossa, o Mercury cantando Bohemian Rhapsody me remete ao filme aquele da fábrica de chocolate. Ah, o último post foi tão deprimente. Escrever com uma pessoa te chutando do computador é realmente desagradável. Não ando com muita paciência ultimamente, mas isso é realmente justificável. De maneira geral, acho que as coisas vão melhorar. É, eu espero que sim. Continuarei sem muita paciência, mas terei gratificações por isso. Não exatamente por "estar impaciente"... enfim. Sabe, estou numa fase boa da vida. Primeiro semestre de faculdade, ao que me parece, é sempre do mesmo jeito para (quase) todo mundo. Minha psicóloga (só tive uma e parei de vê-la há um tempo) se equivocou nas suas previsões sobre meu infeliz destino. Mas ela não teve culpa, a tendência é mesmo eu ivyzar tudo. Acho que a ação do meu verbo, tentando interpretá-la como sendo algo bom e ruim, seria algo do tipo (olha a viagem...) "tirar da frente o visível / focalizar o interno". Ok, muito pouco modesto da minha parte e muito coisa de psicólogo. Mas, ah, eu realmente acho que estrago as coisas quando começo com isso. E ao mesmo tempo é o que eu sei fazer e, ainda que estrague as coisas, é o que me faz bem. Digo não gosto de estragar, mas enfim. Ok, lamentável. Depois da aula de sexta, segui de carro (não, não fui dirigindo ou algo assim) para um lugar não exatamente distante do mundo real, mas realmente bom para matar o tempo pensando em várias coisas - várias mesmo. Eu realmente gosto de ficar deitada olhando pro teto ou pra fora da janela. Devo parecer tri pastel, haha. Pior que eu tenho uma cara realmente pastel. Prefiro que isso não seja comentado, mas enfim. Haha. Ok. Bah, vi no uma mulher que eu achei muito engraçada e fiquei dando risadas aleatórias durante o dia. Hoje vi um gambá tão bonitinho, mas fofinho mesmo. E dois tucanos que faziam barulhos esquisitinhos. Sabe, acho meio platônica demais essa idéia de abandonar "tudo" e ir morar no meio do mato definitivamente. Não falo de coisas do tipo "precisamos de internet" ou, sei lá, "no interior, não tem as fábricas de calcinha do centro da cidade" (), mas sei lá... é uma realidade bonitinha para quem se criou nesse ambiente. Eu penso em morar numa cidade menor, aquela coisa de filme, de ser um velhinho feliz ou poder criar seus filhos "com mais liberdade e segurança", mas acharia esquisito lidar com o passar das horas de forma tão diferente: sabe, ainda uso relógio e despertador. Não me guio pelo sol. Eu pareço uma ignorante por falar as coisas desse modo, mas é claro que foi uma explicação um tanto resumida. Eu estou ouvindo músicas ótimas e pensando no que eu pensei durante a maioria do tempo em que estive out. Sabe, eu devo parecer ser meio ingrata, do tipo que é uma boa companhia (eu escrevi campainha...) só quando me convém. Meus exemplos para negar isso são dramáticos demais para caber aqui. Eu fico triste quando percebo que não passo 'segurança' nas minhas relações - digo, eu sou confiável mas eu mesma induzo o planeta a pensar o contrário. Até eu acredito mais no outro lado da história, eu acho. Capaz. Eu não sei até que ponto o passado realmente deixa de ser relevante. E não sei até que ponto minhas explicações são necessárias e convincentes. Quer dizer, por mais que sejamos um jogo de publicidade o tempo todo ao nos comunicarmos com as pessoas e 'vendermos' nossas idéias, eu realmente falo abertamente com uma dose de inocência que, muitas vezes, me deixa 'em maus lençóis'. Essa expressão é tão infeliz, haha. Gosto de passar horas argumentando sobre os meus conflitos e os dos outros, só tenho medo de que meu lado complicado realmente fique se exibindo... ele gosta de aparecer em momentos indevidos. Quando eu declaro aqui que uma coisa é ficção é porque, realmente, a cena não existiu. Eu não seria indelicada de retratar algo ruim com tanta clareza por aqui... digo "ruim" porque a maioria dos meus textos não são exatamente felizes. Gosto de discussões (não necessariamente "brigas"), do duelo entre razão e emoção - não que eu consiga ou tente passar isso pra cá (er...), mas realmente gosto. E tenho um pouco de repulsa por essa aspiração à alegria. Acho que podemos ser laranjas, podemos ter várias cores, mas não precisamos e nem devemos ter essa pretensão de viver isso o tempo todo. Como qualquer coisa na vida, que, em exagero, compromete o prazer. (Nossa, me senti meio Alexandre Pires escrevendo isso - na nova fase, não na era do bigodinho...) Mas, no fundo, é bem assim. Bem assim. Acho que foram duros comigo e não pouparam palavras - e pra sempre vou ter um nojinho da idéia de que "porque todo mundo faz alguma coisa eu faço também". Mesmo que, por vezes, eu compartilhe dela e, entre outras coisas, isso me torne uma hipócrita. Haha palavra forte, hun? É, eu andei pensando umas bobagens. Sabe, tem coisas que são julgadas como crime porque é mais fácil "a vítima" se declarar vítima do que aceitar que é culpada também. Ou porque não existe culpado, não existe um regimento... Tem um filme que eu gosto que fala um pouquinho disso. Quer dizer, que culpa você tem se, depois de casado, você conhece uma mulher casada e se apaixona? Tudo bem, a penalidade vai para as coisas que provavelmente aconteceram às escondidas... mas, ainda assim, é idiota: a ex-mulher do cara vai estar se sentindo uma merda porque ele já não sente o mesmo amor por ela - e a revolta toda vem desse ponto. Quer dizer, o cara não 'quis' se apaixonar. Enfim, eu estou falando de forma meio babaca, não queria que esse fosse o exemplo (peguei a idéia do filme, onde - aparentemente - foi amor à primeira vista... ou sou eu que estou sonolenta). Enfim, não disse nada com nada, mas acho que consegui expressar um pouquinho da minha angústia. Ando chateada com umas coisas. Quero dizer, comigo também. Não sei até que ponto é egoísmo tentar ser feliz 'apesar do outro estar infeliz'. Eu tinha lido uma vez que a gente ama 'apesar de' a pessoa ser assim ou assada e que, por isso, o amor e etc. é uma coisa bonita. Não, acho que não tinha esse desfecho. Mas enfim, eu acredito nisso. Tanto é que eu admiro pessoas com defeitos, de carne, osso e gordurinha. Com cabelos, sem cabelos, exóticas, estereotipadas... enfim, eu gosto de pessoas de verdade - como foi escrito há pouco... Eu me preocupo com pessoas que, teoricamente, "já passaram". Quero que a maioria delas seja feliz, muito feliz. E não gosto de como as coisas se perderam ao longo do tempo, digo a profundidade das coisas: "ficar", namorar, casar... não sei, ainda soa esquisito pra mim porque não se trata de uma linguagem universal. Eu, Ivy, só "fico" com pessoas que eu conheço e 'gosto' - não coleciono pulseirinhas da festa do beijo ou esse tipo de coisa. Meio adaptada e pretensiosa, mas ainda sou romântica em alguns aspectos. Dispenso as flores, mas aceito o cartão. (Achei essa frase tão boa, sério! Pena que possa ser interpretada como 'cartão-de-crédito'... não, ninguém faria isso por aqui, ?) That's it. Esse texto foi embalado basicamente por "In my life (Beatles)" e "Sea of Love (Cat Power)", então não poderia sair menos melado do que isso. 'Dispenso as flores, mas aceito o cartão'... Adorei.



Ps: essa foto ficou assustadora, mas azar.

sábado, 2 de maio de 2009

Dress

- Quer que eu o tire da manequim para você prová-lo? - A lojista pareceu surgir do ar - do invisível - sorridente e perfumada. Emily, que estava parada na porta da loja, de frente para o vestido, assustou-se com a quebra do silêncio, mas não despertou do seu momento de fantasia.
- Ahm? Não... - Deixou cair parte da mostarda do hamburger sobre a bolsa de lona que trazia à tiracolo. A moça uniformizada ofereceu um guardanapo e rapidamente buscou uma garrafinha de água mineral. Emily lambeu os dedos engordurados, terminando de comer seu almoço. Deixou-se encant
ar pelo vestido da vitrine. - É, eu quero experimentar... o vestido...
- Ele é lindo, não? Por favor, deixe suas coisas em cima do pufe! - Emily procurou uma lata de lixo em que pudesse atirar o papel sujo que envolveu o sanduíche. Acabou tendo que pedir que outra funcionária o fizesse. Cruzou os dedos e traçou seus passos em direção ao provador.
Pareceu infinitamente longa a tarefa de tirar a roupa e vestir aquela peça única. Tão branco. Tão puro e branco. Nunca tinha visto o branco com tanto interesse. Uma perna depois da outra, um pouco de alongamento para puxar completamente o zíper e eis que Emily se transformara numa noiva. Numa noiva descabelada, era fato, que mordia os lábios inferiores
e alisava os braços.
Virou de costas para o espelho, levantou os cabelos de forma a deixar nus ombros e nuca. Enxergou uma imagem que desconhecia, uma seriedade por detrás daquela brincadeira. "Vou casar de All-Star", pensou. E, em segundos, se deu conta do erro da frase. A idéia de criar laços eternos não parecia tão tensa - pelo contrário, se insinuava tão naturalmente... Engoliu em seco e virou-se de frente para seu reflexo. Olhou para seus pés pequenos e afastados, levantando a volumosa e pesada saia do vestido. "Sabe, até que eu daria um merengue bem bonito". Poderia e até gostaria da idéia de ter uma roupa como aquela.
Saiu do provador com um sorriso mudo, com uma felicidade triste: faltava o noivo para colocar em cima do bolo. O que, de fato, não era de todo mal: teria mais tempo para se preparar psicologicamente. Emocionalmente. Mais tempo para entender que pessoas sozinhas não conseguem suprir seu vazio interior, mais tempo para encontrar a música ideal, mais tempo para... Mais tempo.
Emily, que sempre passava por essas lojas de vestidos de noiva comendo um cachorro-quente ou algo que o valha, agora não se importava em tentar reprimir sua curiosidade. "Eu sou pra casar". E, de fato, todos são. Todos são...


terça-feira, 14 de abril de 2009

Something Stupid

Desceu a escada e, do chão, contou o quinto degrau onde, em seguida, sentou-se. Os pés não alcançaram o terceiro e ficaram balançando no ar. Aquele dia em especial não foi dos mais quentes - pelo contrário, até ventava. Nessas circunstâncias, o vento ficou ainda mais poético: talvez, o significado de mudança tivesse se estabelecido na cena como um todo. As pernas não muito esticadas e as mãos juntas, entre as coxas, deixariam - em breve - de serem novidades. Ela insistia numa expressão despreocupada, mas não sabia disfarçar sua ansiedade. Com o tempo, não mudou muita coisa: quando não eram as sapatilhas arredondadas a balançar sobre o terceiro degrau, eram os all-stars "cinzas" que lhe faziam companhia. E como combinavam aqueles calçados! Eram os mesmos pés a caminhar por aí, os mesmos pés a rolar pela cama. Às vezes, pareciam não ter começo nem fim - para dizer a verdade, quase sempre. Nem começo nem fim. Talvez uma história. Uma história musical. Mentira seria ela dizer não se importar em arrumar as palavras em parágrafos e mentira, também, seria ela dizer que toda aquela situação a deixava indiferente: ela sentia bem o que, há tempos, queria sentir - só não sabia descrever. E pouco importava o que seriam os dois dali em diante: dois erros, dois passageiros, dois estranhos e suas variações. Na verdade, sua certeza era essa: não eram estranhos um ao outro. As semelhanças, talvez, os remetessem à terceira idade - mas eram tantas e boas, generalizá-las seria inapropriado. Ela sabia que não precisava disso, de palavras e tentativas de estruturar um romance. Sabia, inclusive, que estava longe de conhecer o bastante sobre o cara que segurava as baquetas de um jeito engraçado: "que se foda essa mania de insegurança, fuck this shit". Frequentar o quinto degrau se tornou uma constante, bem como relembrar diálogos e expressões do quarto escuro. Sua surpresa, talvez, foi perceber que a ansiedade não diminuía e que, não importava o número de linhas, ela insistia em tentar explicar isso - escrevendo com letras, escrevendo com gestos. De fato, o que mais gostava era provocar aquele sorriso que não se perdia na sua memória. E levantar-se do quinto degrau, descer até o primeiro... Fechar os olhos, entrelaçar os dedos, sentir-se bem - como nunca. Aqueles all-stars "cinzas" não foram mais vistos sozinhos. E pensar em mudar isso não faz parte do plano.




segunda-feira, 9 de março de 2009

Say that you'll stay.


Naquele momento em especial, eu não saberia descrever o que eu sentia. Mesmo que eu quisesse. Não é que eu não tenha tentado, mas eu nunca cheguei nem perto da definição. Os braços dele em torno de mim, os meus braços em torno do pescoço dele. Eu apoiei minha cabeça no seu ombro esquerdo de forma tão confortável e isso foi tão espontâneo e sincero. Não importava se eu deveria estar em outro lugar, com outra pessoa. Por mais erradas que fossem, de todas as minhas atitudes aquela tinha sido a mais certa. É meio estranho quando você está no centro de um enozado de histórias e não encontra fuga para seus problemas: foi naquele abraço que eu encontrei o refúgio tão esperado. Meus olhos continuaram abertos e, ainda que cruzassem com vários indesejados rostos conhecidos, pareciam não se aborrecer com nada. Nem lembro das músicas. Com certeza não eram boas. Não era o tipo de lugar que eu freqüentava. Mas, e não falo isso para alimentar um ar romântico, com música ou sem música tudo o que eu ouvia era um silêncio macio e nervoso. Sabe, é aquele silêncio de quem sente o sangue do outro correndo pelas veias, de quem poderia fazer de um piscar de olhos um estrondo, de quem está com o coração na boca. Independente de todas as palavras que eu tivesse ousado dizer ou escrever ou expulsar de mim numa forma de aliviar a angústia, aquele momento foi tão autosuficiente. Não se trata de inexpressão, mas de incredulidade. Ele, de cujas mãos sempre estiveram geladas, me abraçou de forma tão quente. Mas quente de verdade, sem pretensão de transformar isso em um outro acontecimento. Eu gosto de coisas despretensiosas, espontâneas, simplesmente puras. Ele me envolveu de tal forma que fora a primeira vez, talvez, que eu me senti realmente protegida. Ele não sabia o que eu estava pensando - e nem eu sabia, mas foi como se pudesse lidar com isso melhor do que ninguém, lidar com a confusão da minha vida e nem se importar com o sacrifício que isso significava. Eu nunca tinha me sentido satisfeita, mas por algum tempo isso saciou o meu desespero. E me deu medo também. Eu não gosto de pertencer a alguém, não gosto que me alguém tenha controle sobre a minha paz de espírito. Mas, naquele momento, eu nem me importei. O mundo poderia explodir e eu nem me importaria. Eu sabia o quão problemático podia ser se aquele abraço caísse na boca dos outros, sabia que qualquer manifestação teria conseqüências realmente devastadoras. E, o mais admirável talvez, é que ele conhecia isso tão bem quanto eu. Pelo menos naquela hora. E foi um abraço longo, sem medo do futuro ou de um passado insistente. Foi como se ele me impedisse de fazer qualquer movimento, de dizer qualquer bobagem ou mesmo uma verdade. Foi como se eu realmente tivesse alguém que se importasse e que, mesmo contrariado, buscava me entender. E, apesar de eu não ter sido o suficiente, ele nunca me deixou de lado. Foi o único que enxergou em meio a fumaça uma oportunidade. É tão mais fácil fugir, como eu fazia. Ele sabia que estava errado ao me abraçar, como se cansou de ouvir por meses e meses. E a única coisa que eu disse não tomou a proporção que deveria, mas foi totalmente sincera - foi fruto de um impulso que há tempos eu alimentava. Eu quis aquele abraço como ninguém, quis aquela verdade e toda a ansiedade que se fez presente. Guardei o momento em um baú e joguei a chave fora.


domingo, 8 de março de 2009

mistaken

você não vai entender.
e eu nem decidi ainda se quero que alguém entenda.
eu opto por não decidir, na verdade. é menos um erro pra cometer, sabe.
o fato é que, às vezes, eu penso estar com ele quando na verdade eu sou ele.
nós dois não somos "nós", nós somos eu e ele.
mas é como se fosse a mesma coisa.
não é que sejamos tão parecidos ou tenhamos infinitas afinidades, mas a nossa ligação é totalmente emocional.
é incompreensível para qualquer um, é motivo de briga, de ciúme - o suficiente para duvidar de qualquer sentimento.
eu mudei a vida dele, ele mudou a minha.
a gente não sabe disso porque a gente troca palavras, a gente sabe disso porque a gente sente.
ele foi amigo e também foi inimigo.
ele ainda é. só isso.
tem pessoas que estão e pessoas que são.
mesmo com toda a distância, de tempo e quilômetros, ele nunca deixou de ser.
e não é que eu sinta algum tipo de dor ou afeto, eu só sinto o que deveria sentir.
ele sente o mesmo.
é de uma inocência tão absurda acreditar no poder das lembranças...
mas é esse o sintoma que nos acomete - a mágica de um passado de pureza.
pureza nos gestos, nas ações, nos pensamentos.
não é minha culpa se ele faz parte de mim.
não foi minha pretensão arquitetar uma tempestade.
antes fosse tudo isso: seria mais fácil esquecer.
mas nem sempre o que passou, mesmo nesse contexto de passado como um vilão, deixa sombras tão amargas.
basta um pouco de luz para ver o que restou.
só a idéia de algo ter sobrado já resume a satisfação.
é bom se sentir vivo ao relembrar um momento.
são essas pequenas raridades do dia-a-dia que nos fazem diferentes dos demais.
eu e ele somos iguais, não em cabeça mas em coração.
e não é que não possamos nos encontrar em outras pessoas.
é só que fazemos parte um do outro.
e nunca vamos embora.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

rewritting

- Eu tenho que te dizer que, naquela vez, eu não queria mesmo ir. Não queria ir, mas era o que eu tinha que fazer. E você tornou tudo insuportável, sabe. Se eu ficasse seria suicídio.
- Mas você preferiu ir. Foi fraco.
- Fraco? Fraco?! Não, você não quis dizer isso... eu sei que não quis...
- Fraco mesmo. E daí que eu existia, eu era uma criança e você sabia disso! Você tinha que ter ficado lá e...
- E o quê?
- Era a minha vontade. Eu queria que você tivesse fic
ado.
- Você queria muita coisa, muita gente ao mesmo tempo.
- Ué, eu tinha entendido que você gostava de mim.
- É, mas gostar e depender são coisas diferentes. Fora que, né, olha a minha cara de ingênuo... Você não pensa realmente que eu achei que nós seríamos perfeitos, pensa?
- Mas nós éramos perfeitos, só que do nosso jeito.
- Do nosso jeito imperfeito? Não, não se iluda... eu estou bem com o que aconteceu, a gente não precisa re-pintar tudo usando cores mais vibrantes. Deixe o cinza como está, a gente não precisa disso.
- A gente? Você quer dizer que ainda...?
- Não. Pare de fantasiar.
- Sabe, naquela época eu realmente não entendia o que vo
cê fazia, mas hoje eu vejo que...
- Você ainda não entende.
- Então me faça entender. Por favor...
- Não, não é assim que funciona. Você nunca procurou ver como foi difícil pra mim? Eu tenho que descrever tudo sempre? Desenhar?
- Eu acho que se você gostasse de mim de verdade não desistiria.
- Eu não desisti, eu simplesmente perdi. Que merda.
- Não perdeu por minha culpa, foi você quem foi embora...
- É, você não tem culpa de nada, nunca tem: eu esqueci desse detalhe...
- O quê? Vai me culpar agora?
- Não sou eu que sou inconstante.
- Como não?

- Meu comportamento é normal, completamente explicável, com ações e reações.
- Então porque não ficou, se era o que você queria?
- Porque eu tinha que recomeçar a minha vida.
- Achei que seu lugar fosse do meu lado...
- Quando eu era o único, eu estava em todos os lados, eu te encontrava, eu sabia o que fazer... mas você tem essa mania de se perder por aí, de se perder com qualquer um... Eu não suporto isso e nem tenho que suportar. Não é por aí.

- Você não queria nada sério nunca, agora vem e diz isso.
- Eu não disse que não queria nada sério. Eu só não fui tão óbvio quanto você queria.
- Então eu estava livre para sair com quem quisesse.
- Tudo bem. É claro. A sua liberdade não depende de mim. Mas você tem que entender que existem prioridades... e eu tenho o direito de escolher quem me quer.
- Lá vem ele falar da outra...
- Eu não vou falar de ninguém. Eu não estou te comparando.
- Sabe, eu acho que subir naquele trem foi a pior merda que você já fez.
- Eu o faria de novo, se você quer saber.
- Não se arrependeu mesmo?
- Eu acho que a gente não daria certo mesmo.

- Eu não acho isso.
- Olha pra você, você quer que eu fique com você ainda hoje e te leve pra casa depois do café, quer que eu prometa que vou ligar e, quando eu ligar, você vai
pensar que resolveu o caso, que eu realmente não te esqueci, que você ganhou o jogo. E vai partir pra outra.
- Não... não, eu não vou. Que horror. Se você quer saber, eu vim aqui disposta a começar tudo de novo com você. Eu quero que você me abrace mesmo, quero tomar café, quero que você tenha algumas roupas lá em casa, quero que você bagunce tudo, que me irrite às vezes e todas essas coisas que a gente fazia.
- Assim, tão fácil? Você nem sabe como anda a minha vida, se eu estou com alguém, se...
- Que merda! Não percebeu que isso não importa? Eu estou me submetendo a uma tremenda humilhação e...
- Humilhação foi o que você fez comigo. E não ouse dizer que não.
- Eu já te disse que eu era imatura.

- Tudo tem limite. Tudo.
- E vai dizer agora que não sentiu falta de nada?
- Não, eu não nego que tenha passado por dias terríveis, semanas perturbadoras...
- Então?
- Não sei. Não quero. Você não mudou. E eu nem queria que mudasse, é só que eu não agüento isso, o seu comportamento aleatório.
- Você não sabe o trabalho que deu conseguir seu telefone.
- É, eu também batalhei para conseguir o seu naqu
ela época.
- Vai ficar por isso mesmo? Não vai dizer que sim nem que não?
- Eu tentei fazer com que você interpretasse tudo como um não.
- Isso é o que você quis ou o que você teve de fazer?
- Se tivesse um trem agora por aqui, eu subiria nele e ficaria te olhando da janela. Sabe, da outra vez eu tive que ficar olhando você beijando um outro sujeito, que não era nem o mesmo do bar. Eu preferia que fosse ele, pelo menos eu pensaria que ele estava cuidando de você.
- Eu sinto muito. Mas eu ainda acho que você suportaria mais do que isso, você foi fraco.
- Sabe, você estragou tudo.
- É, eu sei.
- E, sabe, você nem se importa com a minha vida, você m
esma disse. Eu poderia estar matando um dia de trabalho para vir te ver e você nem liga.
- Você não faria isso... Você é tão certinho.
- É, eu não faria... mas não faria porque você não merece.
- E se eu te disser que não teve graça, ein? Que nenhum dia pra mim teve graça desde aquele maldito dia em que eu te vi subir no trem.
- Eu acho que é tarde demais para você ver isso. E também acho que é mentira sua.
- Você acha que algum cara é como você?
- Não. Mas eu não encaro isso como elogio. Sabe, eu não
tenho muito tempo. Você me aborrece.
- O que mais?
- Sei lá, só isso. Você fudeu com tudo, conseguiu o que queria.
- Não, não consegui.
- Eu acho que esse é o seu único desafio agora, sabe, me fazer voltar. Porque eu sou teimoso e resisto aos seus vestidos decotados, os outros não.
- Você acha que eu ganho os outros só pelos decotes?
- Francamente eu acho. Ninguém quer saber o que você pensa se tem um par de seios bonitos.
- Que crueldade! Sabe, eu quase me casei.
- Com um cara rico? E, ah sim, só não casou porque lembrou de mim, veja só!
- Ah, você não sabe conversar mesmo! Garçom, a conta!
- O que foi, decidiu ir embora assim?
- Ué, você não estava entediado?

- Sim. Hey, eu pago.
- Achei que...
- Não, eu não sou nenhum pé-de-chinelo. Você casaria comigo só pela grana, se fosse o caso. Eu quero dizer, eu já tenho um atrativo, não precisaria que você gostasse de mim. Só que eu não faria isso, não é nada justo.
- Pelo menos eu já disse que queria recomeçar antes de você falar isso.
- É, você continua engraçadinha. Eu gosto disso.
- Pra que lado da cidade você vai?
- Vou te deixar em casa, não se preocupe.

- Não, eu vou pegar um táxi...
- Eu sei que você quer que eu te leve.
- É o que eu quero, mas não é o que eu devo fazer. Eu tinha que achar um trem por aqui e fazer a mesma cena da despedida...
- Não precisa fazer isso. Sabe, eu já disse que estou bem com o que aconteceu.
- E sua família? Eu quero dizer, você pode ter uma filha e eu não saber, pode ter casado com aquela outra e...
- Eu não sou pra casar.
- Hum.
- Eu te levo.
- Sabe, eu continuo achando que foi uma merda o que você fez.
- Eu começo a pensar que sim. Mas era o que eu tinha que fazer.
- Eu continuo morando por lá, só que é do outro lado do parqu
e.
- Eu sei. Eu tenho pesquisado sobre você. Foi por isso que eu vim.
- Nossa.
- Surpresa?
- É que eu realmente não achei que você se lembrasse de mim, sabe, desse jeito.
- Eu lembro de muita coisa. Eu não sou desligado, como você diz.
- Você é meio parado, meio inerte para tudo. Está sempre pensando em coisas distantes.
- Aqui estamos.
- Que rápido.
- E então?
- Você sabe onde eu moro. Fica no carro e espera eu en
trar. Se for o caso, você vai saber voltar. Eu não vou ficar esperando.
- É, você cresceu.
- Eu disse.
- Eu tenho que voltar pro trabalho agora, mas eu te ligo mais tarde.
- Você não disse que...?
- Eu não ia perder isso por nada.
- Sabe, eu estou com um pouco de medo. Eu não vou estar preparada, caso você pretenda se vingar. Eu estou desarmada.
- Eu acho que a gente não tem tempo pra isso.

- A gente? Você quis dizer...?
- Sim.
- Se eu pudesse ter parado aquele trem...
- Eu vou voltar dessa vez.



sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Shining trough...


E eu sentei ali por uns minutos ou, talvez, horas, ou dias... Pouco importa. O bizarro foi aquela sensação que há muito eu não sentia, sobre tudo e sobre nada, aquela coisa sem nome que é o poder de se sentir realmente bem não pensando em nada, não vendo nada, não sentindo nada - e ao mesmo tempo tendo a certeza de que cada segundo estava sendo aproveitado ao máximo. Vento no rosto. Vento nos cabelos, um pouco de luz nos olhos - uma pequena confusão para manter a certeza de que somos humanos. Vento e barulho de gente, mas ainda assim o mais intenso silêncio. As coisas mundanas realmente perdem o brilho diante de um desses momentos de refúgio, que não são nostálgicos nem nos remetem ao futuro. E, só de lembrar, dá vontade de fazer isso pelo resto da vida - o que me conforta é que não é nada que possa ser planejado, com a possibilidade de dar certo ou errado, mas algo totalmente espontâneo. Tipo aquela chuva gostosa de verão, ou aquela música perfeita tocando em algum lugar repentinamente.

E eu olhei pro lado e vi outro de mim, ali parado. De olhos semi-fechados, com vento nos cabelos. E nada precisou ser dito, nada precisou ficar mais claro: a sintonia é causa e conseqüência. Liberdade e companhia, tudo no mesmo pacote. Impossível não se sentir realmente bem.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Copos se quebram todos os dias.

Pode até ser que a grandeza de uma pessoa seja reconhecida no modo como ela se levanta, mas essa idéia é manjada demais. Assoar o nariz em público pode dizer muito mais, uma vez que entram em jogo a necessidade e falta de privacidade, o que faz com que o sujeito se reprima de forma a tentar ser o mais breve e silencioso possível, uma vez que os demais não aprovam o gesto geralmente. Ou não. Grande merda também. Quer dizer, eu não entendo esse drama todo. Viva os índios de novo! Não esconder as "vergonhas", como diriam os portugueses, tampouco fazer escândalo de coisas tão cotidianas (tá, eu não tenho base alguma para falar disso, nem tenho saco para continuar).

Essa coisa de grupo, amigos unidos, etc. pode ser muito bonitinha e tudo o mais, porém - andei pensando - e realmente não acho necessária a existência integral desse convívio (? - ok, vocês entenderam). Esta não é exatamente uma promoção da autosuficiência, mas da independência em suas devidas proporções. Minhas palavras não estão me agradando por hoje e eu estou tentando ser o menos fria possível. No fundo, esse emaranhado de sentimentos pode ser ainda resquício de tetos anteriores, onde a idéia do coletivo se chocava com o individual.

Eu gosto de ser sozinha; eu cresci assim. Não que eu queira dar início a um drama, mas eu brincava sozinha e coisas assim, então não é difícil - muito pelo contrário - me ver bem nessa situação. Não se trata de "negar" amigos, mas preferir o meu jeito, o meu mundo, o meu ritmo sem interrupções. Egoísmo em parte, por nem sempre buscar o outro lado da moeda, mas ainda assim um hábito inofensivo. E, do mesmo jeito que isso não é entendido na maioria dos casos, não sou eu quem vai entender aquela vida de profunda alegria, mil estranhos conhecidos em volta, agitação, stress e mundo compartilhado. Sinceramente? Eu vejo tudo isso com desgosto, muito desgosto. Talvez nem tanto. Só não gosto das afirmações de que minha vida é em vão se eu não fizer isso ou aquilo. De novo: grande merda. No mínimo, respeito pelas diferenças. Não resolvendo, todos os golpes de artes marciais que você aprendeu ao longo da vida, seja na tevê ou com alguém, podem ser postos em prática. Ou não.

E eu cansei de repensar atitudes, tentar mudar conceitos, aceitar que "tudo poderia ser melhor se eu me portasse de outra forma". Ao invés de me ensinar a me comprometer, aprenda a não se importar. Não falo de indiferença, mas falta de dependência - ainda mais quando as coisas não são sólidas. Eu sinto falta do que pode me preencher, não do que pode vir a sobrar. Eu preciso de ar, preciso de tempo que alimente a saudade. Preciso do que é original e não me causa chaga sofrer abuso de quem aprecio. Mas está cada vez mais raro o gosto de apreciar...

Aliás, o filme do Coringa foi tipo assim eternizado.


terça-feira, 8 de julho de 2008

Sprouts of Time

Ela chegou com as mãos meladas de algodão-doce, daqueles rosas que têm cheiro bom, com aquele sorriso inocente de gente que espera. Espera, simplesmente espera - espera porque tem medo de enfrentar a verdade cinza e sóbria de que as coisas não são todas rosas e doces.

Eu me acomodei no banco de forma a deixar um espaço bastante grande para que ela se espalhasse, como eu sabia que ela ia querer fazer. Ela usava aqueles vestidos com a saia rodada e demorava um bocado de tempo para se sentar, procurando não amassar o tecido. Era sempre assim, sempre assim. Eu mentiria se dissesse que isso não me aborrecia, mas dessa vez foi diferente.
Quando nós sabemos que algo vai ocorrer pela última vez ele sempre ganha um gosto especial. É como ver as pombas na praça: às vezes você joga pipocas no chão, às vezes se enfurece com aqueles pontos brancos e pretos, em degradê, que sobrevoam sua cabeça. Nesse dia eu até cheguei antes do horário marcado a fim de prestar mais atenção nas coisas que nunca me chamaram a atenção - ou eu que não permiti, devido a correria do dia-a-dia.

Eu conclui que não poderia sentir falta do que eu nem sabia que existia em alguns segundos, quando um senhor passou com uma bengala, desviando meus pensamentos de nostalgia. Eu estava embriagado com aquela história das pombas e das árvores e tudo o mais e o velho s
urgiu com aquela bengala de madeira marrom e ponta bicuda de ferro. Parecia um bom homem até chutar para longe uma bola que passou pela frente dos seus pés.

Nesse meio tempo eu retomei à minha cara de insignificância, concentrado em planejar tarefas óbvias, numa tentativa frustrada de economizar as horas que eu não tinha. Ela, então, apareceu surpreendentemente do nada, como a neblina que percorre o abismo. Não fossem os olhos amendoados, poderia descrevê-la como uma daquelas camponesas virgens que enfeitam alguns quadros, tapeçarias... É sempre difícil imaginar que algumas meninas um dia crescem e acabam com caras tipo eu. Tá, eu não quis dizer isso.
Ela ficou sentadinha do meu lado, comendo aquele tufo colorido e lambendo os dedos. Parecia realmente uma criança. Eu fiquei pensando se despejava de uma só vez todas as palavras que eu tinha ensaiado, mas de repente ficou tudo mais difícil.

Eu abri a jaqueta e do bolso interno tirei um frasquinho prateado, desses que quase todo mundo tem e funciona quase como um fetiche. Um gole daquilo já me fez sentir melhor, embora custasse muito ainda para eu me sentir pronto. Pronto. 'Pronto' simplifica muita coisa, mas também esconde o real sentido, como um eufemismo. Esconde o gaguejar, o suar frio, o cravar de unhas na
s palmas das mãos e todos essas coisas que tendem a fazer com que nós homens nos sintamos menos fortes - eu não vou nem explicar a vergonha que eu sinto em falar essas merdas. Já basta.

Ela me trouxe uma caixa pequena de madeira, consideravelmente pesada. Envernizada, escura, em formato de baú. Me disse para abrir quando chegasse da viagem, antes ou depois de descansar. Não sei reagir muito bem com esse tipo de situação, uma vez que a gente fica com cara de idiota quando está com o presente na mão e não pode agradecer porque não podemos dizer que gostamos dele - não com sinceridade. Eu disse que não tinha comprado nada para ela, mas era mentira. A verdade é qu
e eu não queria que ela entendesse aquilo como uma intenção - era apenas um anel.

No final da tarde ela me levou na estação, o que foi um tanto desconfortante. Era eu quem deveria levá-la até o trem, eu que deveria dizer que sentiria saudade, eu que acenaria alegremente e depois partiria sozinho com cara de dor - mas foi ela quem o fez. Eu apenas respondi - respondi com todos os movimentos que os meus músculos do rosto podem fazer, mesmo quando eu não falo nada. Ela me entendia, eu sabia disso. Por baixo daquele vestido rodado tinha um ser muito forte, capaz de me desarmar como poucos.

Ela não fez menção de chorar, o que me deixou meio atordoado. Eu não ia saber o que fazer mesmo e talvez até achasse chato esperar o tempo passar tendo que dizer que tudo bem, que em breve nos veríamos de novo, essas bobagens. Ela não era tola e sabia esconder muito bem todas as emoções que eu não sei bem como nomear. A verdade é que o abraço que eu dei nela não foi o su
ficiente longo e que eu até me arrependi de algumas queixas que vez ou outra eu fizera - a gente sempre se acha chato quando sente que está no prejuízo, então o que foi perdido passa por nossos olhos repleto de defeitos e, finalmente, damos um jeito de esquecer tudo de vez.

Eu não prometi que ia voltar, nem esperei promessa alguma da parte dela. Ela me entregou uma carta, que ficou melada de algodão-doce. Eu beijei os seus dedos delicados e coloquei, num deles, o anel que eu tinha comprado. Ela sorriu, mas não disse nada. Foi melhor assim, com esse segredo todo. Eu nunca entendo muito bem o que as pessoas querem dizer quando fazem uma ou outra careta, mas aquele sorriso nunca me ferira.

Eu subi no trem, dormi, olhei as poças de água que a lua iluminava e, umas três horas depois, resolvi que chegara o momento de abrir a caixa. Eu estava com aquela sensibilidade de quem está ansioso com a novidade e se esquece do que parecia ser bom na antiga vida - de um minut
o atrás.

Eu esperava qualquer merda - uma foto, uma bailarina dançante que fosse.
Esperava, simplesmente esperava - esperava com medo de me compreter com aquele passado, de tornar inesquecível algo que sequer me encantara meses antes. Fiquei ali, encarando a caixa com olhos de gato. A janela estava aberta, eu ainda podia escolher entre a curiosidade e o refúgio de nunca saber nem nunca lembrar.

Pensei melhor e decidi realizar seu último pedido. Talvez fosse o único em que eu não tivera falhado
.


sábado, 28 de junho de 2008

Não é você.

"Eu deveria distribuir bulas, como se eu fosse um remédio com caixinha tarja-preta. Seria mais fácil para eu e todo mundo conviver em harmonia, sem esses dramas corriqueiros. Não que o egocentrismo tenha tapado meus olhos a ponto de impedir-me de aceitar a existência de outras pessoas, mas eu realmente penso que é mais complicado comigo - como a maioria deve pensar... Acontece que é tudo previsível. Veja, que legal!, nós nos beijamos. Sabe, nem sempre beijo é tudo na vida. É deprimente ficar entediada e desejar estar sozinha. Ainda bem que isso não parece acontecer com os outros habitantes desse planeta. No fundo, é até meio covarde aceitar ser um pedaço de alguma coisa para alguém que não tem nada, sabe. Quer dizer, é como alimentar vampiros com sangue de cadáver, sabe? E não existe isso de dizer que não sabia, porque a gente sempre sabe quando é importante - ou pelo menos tem um pouco de noção. É tão trágico pensar nessa relação de que mesmo 'sozinhos e felizes' existe a impressão ou curiosidade de como seria se fôssemos nós e mais um ou outro. E você liga a tv, assiste um filme, vai no supermercado e se depara com todo esse sentimento de que 'ok, você está sobrando, baby' - porque não tem ninguém para chamar de baby ou algo mais brega. A minha intenção não é seguir repetindo o que já se sabe, mas enfim, tentar jogar um balde de água fria nessa merda toda de construir e desmoronar. Nos outros animais essa relação macho-fêmea é tão mais objetiva, que inveja! Existe gente por toda parte, gente procurando qualquer coisa, gente sonhando com algo específico, gente ocupada demais com alguma coisa que perto da idéia de amor não é tão importante (tipo a cura da Aids), gente ocupada com qualquer outro pensamento. E, então, eu penso: onde eu me coloco? Porque eu não estou procurando ninguém, não sou exatamente ocupada com nada e metade das coisas que eu digo eu invento na hora. A idéia da bula não é original, mas realmente não é má idéia. Acabaria com a mágica da coisa, mas seria tão mais eficiente aceitar e recusar paixonites alheias como se faz com contatos do Orkut. Não é querer promover a libertinagem, mas o apego emocional inibe tantas sensações. Cruzar a linha é algo tão simples e perigoso quando se fala em relacionamentos - depois que algo começa isso só tende a acabar. Ótimo, renovação! - você pensa, mas a conseqüência chega em uma mala de problemas que te tiram o sono. Pensando na Clementine, na Claudia e numa outra personagem de um outro filme, da linha "que toda adolescente acha meigo", não parece horrível não autorizar alguém a alimentar sentimentos por mim. Isso pode ser encarado como uma sinceridade fria e resumiria muita coisa. "Oi, não quero ter nada com você pois sei que vou ficar entediada" - dizer isso e resistir àquelas frases de efeito comuns, onde a pessoa promete que vai agir de um jeito diferente - isso é triste, uma vez que ela vai pensar em alguma história comum de relacionamento que fracassou entre você e outro alguém. A primeira coisa é pensar que te traíram, a segunda é perto disso - e nunca chegam no real problema. Até por isso eu não acho um crime o típico suspiro de "não é você, sou eu". Afinal, sou eu que escondi todo esse emaranhado de coisas que você me fez ou não sentir. Ou não escondi, como pode acontecer, mas, enfim, você não viu - e isso não é motivo para mais drama e músicas com a letra "mas você não viu...", tipo Pitty. Realmente, perderia a graça escrever um manual... dizer que eu visto cinza nos dias cinzas e preto nos momentos de raiva, comentar que verde ajuda a destilar veneno e rosa é sinônimo de insegurança. O processo de decadência faz parte da evolução, sabe. Eu falo disso, de saber ouvir, entender e crescer. O problema maior é que as pessoas simplesmente trocam as duplas e se esquecem das vezes em que foram ridículas, seja por fazerem ou não alguma coisa. O que me faz agir como um tabuleiro de xadrez é pensar que as jogadas são previsíveis, uma vez que se percebe quem são os jogadores por trás das peças. Mas eu queria dizer que comigo é mais complicado, não é? Então talvez não adiante muito concluir com "não é você, sou eu" como justificativa. Que se foda."

Laurah.


(Sem mais posts com a temática 'amorzinho' pela frente - eu espero.)