segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Estilo "Let it be".

          E a gente fez aquela coisa de sentar onde der e ficar por isso mesmo. Eu nem lembro qual era o assunto, mas sei que não ficou aquela coisa de "Veja como o céu está estrelado!". Quando a gente não se importa muito com o que está ao redor, parece que ele incomoda menos: a grama não pinica, o clima fica mais agradável, o vento não é exagerado nem insuficiente.
          Eu fiquei pensando no que dizer e, ao mesmo tempo, eu não estava preocupada com o que eu diria exatamente, mas em estar ali. Dizendo besteira, dizendo o que fosse, ou não dizendo nada. A gente sempre tinha assunto, talvez até demais. Isso é reconfortante, parece ser tão ideal. E, então, o meu não saber o que dizer deixava de brilhar na minha mente: talvez o que eu não soubesse fosse o meu lugar naquilo. O meu lugar em tudo. E o não saber o que dizer deixava transparecer as reticências que me preenchiam.
          Até que eu disse "Hey, eu não sei o que dizer.", e isso foi tão porcamente sincero e não mostrou nada do que eu queria mostrar. Por trás das palavras que eu não sabia escolher, existia uma mensagem que insistia em ser pronunciada. Mas, antes das sílabas se encaixarem, eu precisava ter certeza de pelo menos alguma coisa naquela realidade tão cinematográfica.
          E sei lá quanto tempo se passou. Não farei suspense para concluir que eu não disse nada. Não disse, não disse nada do que talvez eu quisesse dizer. Mas tem coisas que parecem nos enganar: querem pular do coração para a boca, sem passar pela cabeça. Os pés têm que estar no chão - ao menos eles precisam estar a salvo... ao menos eles...
          O mais legal de tudo é que não foi uma cena romântica. Foi descontraída o bastante para poder se repetir involuntariamente quantas vezes fossem, sem se tornar clichê. E a gente fez aquela coisa de caminhar de um lado pro outro e não se encontrar. Parecia que existia uma barreira plástica que nos impedia de estar completamente no mesmo lugar - mas isso só causava mais interesse, mais curiosidade. E, por vezes, essa parede invisível filtrava algumas imperfeições. "Imperfeições... Imperfeições... Imperfeições não existem!", eu comecei a pensar. Acho que ele sempre teve acesso ao meu lado mais ou menos de ser. E talvez eu quisesse mostrar meu lado mais legal, digo realmente me esforçar.
          Para algumas pessoas vale a pena fazer algum esforço. Fato. E, de repente, foi o que ele fez também quando me poupou de elogios rotineiros, desses que qualquer um faz para qualquer uma. É engraçado pensar que talvez ele também estivesse lutando com as palavras, ou que desconhecesse seu papel em tudo. E acho estranho como eu me importo sem sofrer: de onde vem essa segurança e para onde ela vai? Às vezes, o que basta mesmo não é dizer a frase certa, mas estar presente. De corpo e alma, pés, mãos e boca. Estilo "Lei it be".




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