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domingo, 20 de dezembro de 2009

Brothers on a hotel bed .mp3

O que eu fiquei de fazer - escrevi no último post - em uma semana foi impiedosamente deixado de lado. Eu quero dizer que não cumpri o prazo, só isso. Lá vou eu renovar meus pedidos de desculpa... Nossa, a última semana foi tão corrida e sufocante. Acabou comigo, mas anunciou o início das férias. E férias assim eu não tenho há tanto tanto tempo... Férias sem pensar em vestibular, férias sem o medo do ano seguinte, férias simplesmente com o sabor de férias. E eu andei pensando em tanta coisa. Eu odeio o Natal, odeio. Não suporto o clima de fim de ano que faz todo mundo agir como se guardasse todo o amor do mundo para essa época - e é realmente o que se faz: quem é generoso em meados de maio ou junho? Não importa... Natal é Papai Noel, presentes e prestações pro ano seguinte. Fato. Não acho graça. Eu não acho lindo o Dia dos Namorados também. E só gosto da Páscoa porque ganho chocolate. Haha. Tipo que eu devo afirmar isso aqui todo o ano, e cada vez devo parecer mais grotesca. Bah, eu tenho me encantado constantemente com a diversidade de personalidades que eu conheci esse ano. Eu conheço as pessoas, guardo uma primeira impressão delas, convivo e então crio minhas expectativas. E me diverti conhecendo gente nova, me supreendendo com velhos amigos, e adoro essa coisa de errar e acertar que envolve as relações. O que ferra com tudo é o orgulho, a falta de sensibilidade com o outro: erros são espontâneos, acontecem porque é assim que deve ser. E se aprende com eles. Pronto, a vida é bela! Sei lá, eu acho engraçadas as motivações das pessoas para fazer as coisas. Tipo escolher uma profissão ou algo assim. E acho curioso como algumas crenças da pessoa parecem se chocar com a filosofia da profissão escolhida. Isso é só um teto que eu venho observando desde os últimos anos da escola... Eu tinha curiosidade de conhecer duas pessoas da faculdade desde o primeiro dia de aula. Depois de dois semestres, acho irônico como uma delas se tornou insuportável e, a outra, muito querida. Outras surpresas também aconteceram - a gente sempre pensa que, no fundo, tudo é bom porque a gente cresce com isso. Não vou dizer que não concordo com isso, apenas declarar o quanto eu fico admirada com o julgamento que fazem de mim. Muitas pessoas criam uma sensação de poder perante o que acreditam ser estratégias frustradas alheias. Ou erros, fracassos, whatever. Acho tudo válido quando se mantém em silêncio - não entendo, porém, aqueles que me cobram "respeito" ou atribuem a mim uma série de qualidades equivocadas. Como se eu tivesse que ser necessariamente "hipócrita" por agir de uma forma ou outra... lamentável. Se existe o desejo de uma resposta, que seja feita a pergunta de uma vez - acusações para quê? Para quem? Enfim, acho tenso. E eu acho funny como o machismo atua em certas situações... por que as garotas devem chorar, não podem erguer a cabeça? Claro, isso já soa como bobagem para muita gente. Mas ainda há quem pense assim (e estão soltos, oh céus!). Outro dia eu estava no shopping, comendo massa e pensando na vida: coisas egoístas de se fazer em fim de semana, quando as pessoas passeiam com bandejas procurando lugar para se sentarem. Eis que a lady que estava comigo reclamou que eu estava apoiando a cabeça na mão que segurava o garfo, e ficou uma cena esquisita ("oi, tem um garfo saindo da minha cabeça"). "Ivy, o que os outros vão pensar? Isso é feio." Sabe... realmente. O que os outros pensariam? Eu me pergunto que porra os outros iam pensar se me vissem ali com o garfo tão perto da minha bochecha direita. São respostas que a vida não vai te dar, que você terá de buscar sozinho, entende? Eu acho extremamente desprezível esse pensamento. Eu li uma crônica sobre isso uma vez, em que uma mulher com uma criança, na fila de um banco, desaprova o comportamento do gurizinho e olha para a moça da frente dizendo "o que a moça vai pensar?". E a moça se vira e diz "não vou pensar nada.". Não parece muito emocionante a historinha, mas eu acho genial. E isso me lembra como muitos pais buscam educar os filhos mais velhos incentivando-os a darem "bons exemplos" aos menores. Ninguém tem obrigação de dar bom exemplo, ninguém. Eu sou uma desgraçada que gosta de reparar na cara de todo mundo, na bainha da calça - que o cara fez com o grampeador -, nos pés inquietos das pessoas das salas de espera... mas 'e aí?', grande merda! E acho que todo mundo deveria pensar "grande merda" também. Penso que isso diminuiria também certos preconceitos e as tentativas toscas de chamar a atenção que alguns indivíduos têm. E ninguém perderia nada com isso, pelo contrário. Isso me lembra quando eu vou comer comida chinesa sozinha. Eu uso hashis (pauzinhos e tal). Hoje, eu sou uma pessoa feliz em usá-los, mas é óbvio que não foi sempre assim. E eu acho engraçado como as pessoas-com-garfo olham para as pessoas-com-hashi. Fiquei com preguiça de comentar toda a interação... mas é impagável. E lembra um pouco o ambiente pré-show de dança do ventre. Eu já conheço bastante gente do estúdio onde eu tenho aulas, então quando todas as alunas se encontram fica fácil reconhecer quem é iniciante ou enfim. E eu ouvi de várias ladies como é realmente aparente a hierarquia que existe, alimentada pelas pessoas que entraram há pouco tempo e acreditam que conforme o tempo tua barriga diminui e teu ego infla. Pode acontecer, mas não é o que geralmente acontece... nem um nem outro. Bastidores, nessas situações, são coisas tão positivas: mil mulheres trocando elogios, maquiagem, falando porcaria e se achando bonitas. Enfim, é algo bom e saudável (redundante?!). Ainda na linha "o que os outros vão pensar", fiquei pensando em situações inesperadas, tipo cruzar na rua com alguém que está chorando. Não lembro da última vez em que estive nessa situação, mas há pouco tempo me acometi de um sentimento blé e emo e fiquei mostrando lagriminhas em público. Haha. Tipo que eu estava na parada de ônibus e as pessoas recuavam uns passos e ficavam me observando. Achei aquilo engraçado. Depois, na lotação, as pessoas olhavam para o banco vazio no meu lado e vinham correndo sentar, daí do nada resolviam que o melhor lugar era aquele lá do fundão. Não que eu pense que tenha movido o mundo com isso, mas achei realmente tetiante. Gurias chorando, em especial, são cenas perturbadoras. Irritantes, às vezes, principalmente quando são contínuas... mas, enfim, perturbam mesmo. Acho que isso se relaciona com o leque de infinitas e aleatórias possibilidades de razões. Garotas são confusas. Mesmo. Não vi muitos homens chorando, mas pelo menos os motivos deles parecem mais "certos" (definidos). A tristeza deles parece mais razoável. Mudando totalmente o rumo do assunto... nossa, eu me sinto tão Ivy! Tão Ivy. Adoravelmente imperfeita e feliz e zaz. Realmente, o importante é a gente se reconhecer. Se reconhecer e ser capaz de assumir nossas ações. Pronto. Aprovação é um assunto limitante. Você gosta dos seus amigos do jeito que eles são, e nem sempre o jeito se mantém. E nem assim o afeto vai embora. Eu gosto da certeza das amizades, realmente gosto. É o que me faz admirar mais esse tipo de relacionamento do que algum dito "mais sério". Claro que o envolvimento é diferente, mas ah... puxa, eu detesto a classificação toda. Eu não "fico por ficar", como diria alguma revista feminina para adolescentes bregas. Eu fico perto de quem eu gosto, pra mim funciona desse jeito. E é essa proximidade que justifica tudo, não um status diferente no orkut ou um anel no dedo. Que se explodam os anéis e toda essa simbologia, se a moral de tudo é acabar com um contrato de amor eterno. Eu não prometo nada a ninguém, não sei quem vou amar amanhã e nem quero saber. E que bom seria se todos fossem livres e desprendidos. Acho tão puro e tão bonito o 'medinho' de perder. Constância é tão não-afrodisíaco. E eu gosto de poder ser eu: vestir o que eu quiser, falar a merda que eu quiser, cantar como eu quiser. Meus amigos me respeitam, acharia engraçado que alguém com a pretensão de superá-los não fosse capaz disso. Enfim. Em poucos dias, será Natal e chega 2010 e toda aquela baboseira de que tudo será diferente. Eu sempre faço um post-de-fim-de-ano reclamando sobre como isso é clichê e não pretendo mudar a rotina dessa vez. Abaninhos para vocês, tá muito calor para dar abraço!





Vontade de postar mil músicas aqui, mas isso seria bananice. Acho que vou voltar a criar "Top 5's". E ainda tenho que colocar tags nos posts antigos, oh meu deus!


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Ecce homo

Pensando bem... "não", sabe? Não... Simplesmente não. Que saco. Chega dessa falsidade, do sorrisinho pra cá, do blablablá pra lá... stop it! Eu não sei até que ponto as pessoas vão para evitar conflitos, mas existe um limite até mesmo para o autocontrole. Eu não vinha pensando nisso, mas agora me pareceu realmente óbvio. Não se trata de uma resposta vingativa, mas de uma conseqüência. E só. Conseqüência originada por ações impensadas, puramente egoístas. Eu não deveria achar tudo normal, não deveria encontrar sentido onde ele não existe. E, tampouco, deveria aceitar algo que me corrói em troca da boa noite de sono alheia. Desculpas, desculpas, desculpas... dizer que simplesmente "aconteceu" não resolve nada. Não torna alguém menos responsável por suas ações. Os fins justificam os meios? Não. Nem sempre. Quandos lidamos com pessoas, temos que entender que o que fazemos afetam-nas diretamente. Ignorar isso só demonstra imaturidade. Dizer que cada um tem de cuidar de si não é o suficiente para me convencer de que podemos fazer o que quisermos com qualquer um, de qualquer jeito. Não... simplesmente não. Não querer enxergar isso é de uma covardia tão absurda. E cada interrupção do desabafo que fora silenciada? Se existe uma consciência, uma consciência que teima em parecer tranqüila, que ela arque com os resultados das ações de seu dono - que ela se mantenha intacta e preciosa diante da feia realidade. O não querer não justifica o erro - a imprevisibilidade é uma constante, não uma aliada. Não critico aqui o que outros chamariam de mentira, mas a negação dos fatos (a fuga, a cegueira, a surdez momentânea). Posso oferecer uma possibilidade, mas a certeza já não me pertence. E não acho triste isso: pior seria cultivar a angústia de ver tudo acontecer sem esboçar nenhuma reação. Não vou ficar confortável em continuar fingindo não ter nenhuma opinião a respeito de tudo para que os dias pareçam mais coloridos e felizes. Já não falo em estado de luto, mas na posição de alguém inteiro que se decepcionou. E acho engraçado esse tom de culpa que existe ao dizer que se está decepcionado - como se a culpa fosse minha de esperar mais do que um indivíduo me deu. A fantasia, é claro, faz parte disso - mas as atitudes das outras pessoas partem unicamente delas - e, quanto a isso, não há quem se salve de alguma inferência. Sensibilidade serve justamente para evitar conflitos maiores. Tato. Só isso... não me parece difícil. Difícil é erguer a cabeça todos os dias e se sentir orgulhoso de quem você se tornou. Mais do que orgulho, sentir que existe um reconhecimento pelas ações arquitetadas. Enfim. Se não está tudo bem, não está tudo bem. Um dia, isso se ajeita. Ou não. E que seja (ou não seja) do jeito que acontecer.


Eu quero ser alguém capaz de me tornar o que eu sou, e não apenas viver acreditando ser alguém.
O que alimenta a imagem não enriquece a alma. Pelo contrário, só faz aumentar o vazio.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Fat'bottomed Girl

"Sexo verbal não faz meu estilo
Palavras são erros e os erros são seus
Não quero lembrar que eu erro também

Um dia pretendo tentar descobrir
Porque é mais forte quem sabe mentir
Não quero lembrar que eu minto também"


Esse trecho de "Eu sei" tocou em boa hora: estava conversando e refletindo sobre o ser humano - o ato propriamente dito. Ok, não exatamente tão vago assim... O assunto é mais direcionado para situações "dolorosas". Sim, vale a idéia de que o sofrimento é opcional (a velha história) - transformar o luto em melancolia é só para os artistas... Tenho um amigo um tanto Shakesperiano, e (sei lá se ele sabe disso) sinto um superorgulho da atitude (um tanto romântica) dele de mostrar suas fraquezas, pedir auxílio e, enfim, não bancar o machão insensível. Não pretendo dar início a um discurso do gênero "mulheres gostam de caras sensíveis", a idéia não é nem de longe essa. E nem sei se gostam ou não. Pouco importa. Ele está mais maduro, menos dramático talvez. E anestesiado (eu gosto dessa idéia). Depois de um tempo, independente do aprendizado que adquirimos e da freqüência das decepções, acredito que vamos nos acostumando com os fatos e sentindo-os menos a cada vez que se repetem. Não é que sejamos tolos a ponto de deixarmos tudo acontecer do mesmo jeito, não é mesmo. Cada caso é único. Enfim, só queria dizer que acho bonita a verdade, acho que as lágrimas são dignas - foda-se se o responsável por elas merece ou não. Foda-se. Umas das coisas mais admiráveis pra mim é justamente a grandeza de cair e levantar. No palco, na vida, anywhere. Eu falei sobre isso aleatoriamente. Não me identifico com essa situação. Na verdade, fiquei pensando que eu adoro (mesmo) relacionar amigos com personagens equivalentes [?]. Até hoje, acho que só fiz isso com dois. Lestat/Louis e Arthur. Ok, o primeiro exemplo ficou meio infeliz. Mas eu gosto dos dois, acho que se completam. E o Arthur, ah... Nossa, sou apaixonada pelo Rei Arthur. Arthur, Morgana, Merlin, Vivian, blablablá... Quanto ao Holden Caulfield, sei lá... eu sou ele, é meio arriscado desejá-lo na minha frente. Fora que ele é um tanto cinza. Mas um tanto cinza mesmo. Tem dias que nem eu me agüento. Mas , enfim, o Holden é eterno. Eterno. Por falar nele, hoje eu vi a terceira edição (terceira!) do Apanhador em cima de uma mesa e, ai, babei. Bons livros quando são velhos são tão mais atraentes. Ai ai. Nossa, estou muito emocionada com as aulas. Tipo muito mesmo. Aquilo de chegar em casa exausta e ir correndo ver o que tem pra fazer. Nesse domingo, bizarramente eu senti falta de ir pra UFCSPA. Senti falta das pessoas, dos comentários, das risadas. Às vezes, é verdade aquilo que dizem sobre uma janela se fechar e uma porta se abrir. Sou meio teimosa, mas procuro manter a cabeça aberta. Sei lá, eu sou boazinha. Não do tipo padrão, é claro: eu invento apelidos e sou um tanto cretina mesmo. Mas sou boazinha. Acho interessante o diálogo, necessário ceder, fundamental respeitar. Não é uma boa idéia do destino me fazer pensar que minhas primeiras impressões, meus primeiros julgamentos, estão certos: mas é delicioso poder pensar que minha intuição é generosa comigo. Ok, essa frase ficou estranha. Sei que ando falando com gente diferente, que tem me surpreendido litros. E tem sido ótimo. Cada vez mais eu me acho meio esquisita por ser a saiazinha entre as bermudinhas [?], mas, no fundo, é o que me faz bem. Acho que os caras te mantêm no lugar, gurias te puxam pra lá e pra cá. Ah, não quero explicar isso. De qualquer modo, sou aberta. Gosto de cuidar dos meus amigos, gosto mesmo. E tem sido um ótimo período pra isso. E eu estou parando de roer unhas do nada. E comendo menos chocolate (mas isso aí não reflete exatamente a minha vontade...). Eu acho engraçado quando sofro com essas mulherzites do tipo se identificar profundamente com "Bette, a feia". É tão fácil conhecer o inferno às vezes. Enfim. Ui, achei muito profundo e exagerado o que eu disse. Eu queria ficar falando sobre qualquer coisa, mas foi inevitável falar de mim. Acho que estou bem. Não tenho certeza, depende do momento. Depende de o quanto eu estou disposta a refletir sobre minhas atitudes de uma maneira justa para mim e todo mundo. Eu sou trouxa, sou trouxa o bastante para me ferrar no lugar dos outros. Mas é puro egoísmo isso, puro egoísmo segundo a filosofia. Infeliz como parece que eu estou propaganda de "Ivy, a coitada"... Nem é isso. Sabe, ainda que eu me ferre, eu faço o que me faz bem. Se eu achar válido me ferrar, eu me ferro. E acho que ultimamente eu estive suportando muitos problemas que não eram meus - não estou tão disposta a me sujeitar a certas situações. Continuo sendo uma "pessoa substituta", do tipo que quer te deixar bem a todo custo. E continuo me identificando com a Clementine, mesmo que não deseje a história dela. E, antes de tudo, continuo exercendo meu papel de "pessoa-que-espera". Só que eu cansei por ora, só isso. Festas animadas, com gente esquisita e gente linda, têm me alegrado, me feito pensar. Mais do que nunca, tenho adorado ser a dona da casa e a dona da minha vida. O final foi só pra fechar com estilo, porque a preguiça de escrever mais bateu. São 04:18 no relógio. E, sei lá, não estou "blé". Me disseram que pareço mais insensível e estou mais fechada. Talvez. Creio que sim. Mas continuo sendo eu, seja lá o que isso signifique. Estranha necessidade de ser abraçada em conflito com a vontade de evitar qualquer contato. Ok, não necessariamente qualquer contato. Mas odeio os nordestinos e analfabetos que surgem no msn. De novo não é um bom "final". Ok, acho que fica mais bonitinho se eu disser que estou com vontade de caminhar por aí e falar merda em boa companhia, comendo balas de gelatina ou qualquer coisa que me faça pensar que minha barriguinha é de felicidade [?]. Ou não. Beijo pro meu pai, pra minha mãe, e pra você!

terça-feira, 11 de agosto de 2009

WaitingPeople

E se eu me apaixonar pelo Inverno, pelo frio do Inverno? Terei de esperar por ele durante as outras estações... E sentirei saudade, sofrerei com isso: a mais leve brisa trará a lembrança do frio. Terei de aprender a conviver com o calor, com a luz, com as cores - com todas as mudanças de cheiros, pessoas e lugares. Mas esperarei. Esperarei pelo Inverno, esperarei por ele: verei as árvores se encherem de flores e frutos e, num segundo instante, recolherei algumas das folhas secas do tapete marrom que cobrirá os gramados intermináveis. Será bonita a espera, serão tristes as incontáveis despedidas. Contarei os dias e os meses para estar próxima ao meu amor - cujo calor se destinará a mim. E como seria isso, o calor do Inverno? Seria frio, frio e pálido como toda a estação. Cinza, gélido, mas ainda delicado. As nuvens nos impressionam, nos intimidam, mas nada mais fazem do que defenderem-se da fragilidade em que se encontram. Eu entenderia as nuvens, conheceria os ventos, suportaria e amaria o frio. E o faria quantas vezes fossem necessárias, sempre que eu sentisse desejo. Me apaixonaria e me deixaria levar pelo Inverno. Seria tola, seria cega, seria feliz e apaixonada com minha condição de pessoa-que-espera.


Pessoa que espera.
Pessoas que esperam: esperam por serem passivas ou pacientes em demasia ou terem esperança ou terem certeza ou não terem nada. E mais vários outros ou's. Esperam porque constantemente estão divididas - divididas entre fazer o melhor para o outro e o melhor para si. Dizem que quem gosta cuida, mas quem gosta também deve deixar o outro ir - se é isso o que ele quer. Deve?! Como aceitamos ficar sem o que nos faz bem? A felicidade alheia nos alimenta? Sentimos pena de nós mesmos? Somos ridículos por não lutar? E por lutar em vão?

Esperar. Esperar por uma pessoa, por uma resposta, por uma verdade (por vezes dolorosa), por uma mentira bem-empregada, por um sorriso, por um gesto, por uma explicação, por qualquer palavra que quebre o gelo, o silêncio, o vazio amargo da espera. Ah, a agonia de não sentir o tempo passar... Nada mais angustiante do que estar de fora dos acontecimentos, assistir à realidade com os mesmos olhos sonhadores de antes. Não se deseja o que é platônico, mas o que é belo - de preferência, sua face sólida e alegre. A busca pelo concreto nem sempre se dá experimentando, mas observando as coisas e analisando seus movimentos. E, ainda assim, existem vezes em que nem o que é óbvio se mostra claro...

Chega dessa história. Basta! Sem mais aquele drama de "se foi" e "nunca mais". Eu não digo nunca, não digo sempre - sou completamente "talvez". Espero, esperava, esperei. Esperaria e esperarei. Conjugarei 'esperar' de todos os modos, pois sou uma das tantas pessoas que esperam. E não deixo de fazer acontecer por esperar. Não, não deixo de viver. Pelo contrário: vivo tudo intensamente. Intensamente.

E, cada vez mais, me aproximo daquela sensação calma de ser uma Claire. Quero saber sobre as pessoas, ouvir suas histórias, entender o que sentem. E me sentir importante, me sentir parte disso - ainda que temporariamente. Não acho que eu tenha um lugar, não acho que a gente deva ter um lugar fixo. Faço o que me satisfaz, ainda que isso, por vezes, signifique um pouco de masoquismo emocional.

Eu esperaria pelo Inverno sem angústia, suportaria qualquer coisa. O faria, num passado ou num futuro. Talvez o teatro tenha custado a passar diante dos olhos da platéia, talvez as falas tenham se repetido. O fato é que demorei a entender a mensagem. Às vezes, o susto só faz piorar a morte. Mas eu esperei, esperei por isso pacientemente. E as palavras não vieram com o mesmo vento que me dizia seus contrários. "Há males que vêm para o bem"... Ok, próximo round. Estranha-estranha paz interior.





"I don't love you anymore. Goodbye."
{Closer}



quarta-feira, 22 de julho de 2009

Maçã Verde

"As pessoas se dividem em dois grupos: o grupo das que não olham para trás em despedidas e o grupo das que olham. Eu não saberia explicar como acontece essa diferença, visto que eu não consigo evitar olhar - não importa se sou eu quem está caminhando ou o outro alguém. Ou os dois. Se dividem em dois grupos também aquelas que guardam cartas e presentes recebidos de seus amores - eu gostaria de poder dizer que os indivíduos que não olham para trás são os mesmos que não se desfazem dessas coisas (mesmo que pareça contraditório), mas não acho que seja bem assim. Seria muito fácil dividir todo mundo em grupos e esquecer que existem exceções - entre as semelhanças e diferenças, existe algo muito mais subjetivo e "incomparável" (incomparável porque não pode ser copiado, medido, nada do gênero). Eu não sei onde queria chegar falando disso, juro que não. Sabe, eu fico feliz quando vejo que existe gente que se liga em pequenas coisas, detalhes, coisas do dia-a-dia que podem parecer bobagem mas que, no fundo, são o que realmente importam. Cheiro, por exemplo: cheiro é uma coisa comum - as pessoas pensam se gostam ou não de cheiro de gasolina e sabem escolher entre um perfume e outro, mas nem sempre valorizam o cheiro nem sempre bom de um livro novo, de grama molhada ou qualquer coisa dessas. Ok, isso não foi um exemplo original. Acho geniais as associações aleatórias entre coisas, pessoas, sentimentos. Acredito que bastante gente usa a música como instrumento de reviver memórias - e isso nem deve ser proposital. Não diria que é mecânico, porque tudo que é mecânico parece frio e exato, e não dá pra falar de emoções assim. Sabe, resolvi me abrir um pouco e falar de maçã verde. Maçã verde, cara, maçã verde! Maçã verde é realmente uma das melhores invenções da natureza (diria "criações", mas "invenções" soa mais engraçadinho): bonita, gostosa, excêntrica... acho que o encanto vem mesmo da cor alegre que, nem por isso, perde a maldade das maçãs vermelhas. Enfim, maçã verde! Nunca parei para pensar se já conheci uma pessoa-maçã-verde, talvez por idealizar muito a fruta. E prefiro não o fazer: maçãs verdes não me decepcionariam, mas, pessoas, sim. É como gostar muito de roxo e ver que uma pessoa super rosa-choque se acha uma pessoa-roxo... Não, não é a mesma coisa. Só quem é devidamente uma pessoa-roxo entende. No momento em que me encontro, não sei a minha cor. Talvez esteja entre lilás e cinza. Eu fico pensando nessas pessoas que querem que tudo seja metodicamente perfeito, de forma forçada e doentia - não acho que a felicidade deva ser planejada: ela acontece. Acontece como um produto de fatores e escolhas que contribuíram pra isso. Hoje vi uma garotinha feiosa na televisão: ela parecia que não tinha pescoço, mas tinha um nome lindo (London). Tem nomes que já agregam características aos seus donos, e London é um deles. Mas acho que um dos mais carregados de alguma coisa, um dos mais fortes, é Emily: eu adoro Emily - para mim, ele é verde e um pouco triste, contornado por inocência infantil (e um pouco da crueldade dos pequenos também). Uma música diz que nada pode ser mais cruel do que uma criança. Eu não penso nada em relação a isso - se eu concordasse, seria uma cretina. Já falei disso por aqui, eu acho. Já falei das pessoas que não olham para trás e dessa música da Sonata Artica, pelo que me lembro. Eu sinto falta de não ter um cachorro, e falta de ter apego com alguém de poucos anos. Poucas crianças não-fictícias me marcaram, eu acho: a irmã da Isadora, um primo e uma pequena de Israel (na verdade, essa última me rendeu muitos pensamentos e momentos legais). E o primo de uma amiga minha - mas acho que, nisso, houve influência de um filme. Às vezes, parece que eu sou meio anormal, meio robô. Eu sou do tipo que olha para trás, que guarda tudo que é tralha, que sabe que existe a música certa para cada ocasião, que tem medo de coisas banais. Me surpreendo quando não falo o que sinto vontade de dizer, assim como fico dias me culpando por dizer alguma besteira que sai da boca para fora. Eu diria que as mesmas pessoas "orgulhosas demais para se desculparem por dizer besteira" são as mesmas que insistem em não olhar por cima do ombro em despedidas - talvez por que sofram com isso. Ok, não faz sentido. Não existe lógica nessa divisão: tem coisas que a gente faz por fazer, faz por hábito, faz sem querer, faz sem pensar, simplesmente faz. "Simplesmente faz". Como "simplesmente fazer falta". Essa deve ser uma ação intransitiva, seja lá o que isso quer dizer. O fato é que as pessoas precisam de um pouco mais de cor, um pouco mais de poesia e sensibilidade. O último olhar torna tudo um adeus, isso é muito perturbador. Oh céus, preciso de um bom livro com cheiro não tão bom, de um cachorro (de preferência pequeno e branco, ou um labrador, ou um yorkshire) e de maçãs verdes numa cesta bonita e florida. Ora, que cena forçada. Combinaria mais com uma Emily jovem. Uma London não trocaria as calças jeans gastas e a poeira do asfalto para um passeio no parque - London é um nome urbano e azul-petróleo demais. Eu arriscaria dizer que quem é London não olha para trás, ao contrário das Emily's. É isso: as pessoas estão divididas em London's e Emily's. E só."


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Ivy9

Levando em conta que mais de metade das músicas de amor (que devem representar 90% do todo) são do tipo "fossa", achei engraçado como meu leque de letras-musicais-em-que-eu-me-encaixo cresceu repentinamente nesse mês. E se, por um lado, acho tudo isso um exagero, por outro, não acho que eu tenha tido a pior das reações. Nessas horas, me irrita pensar que "ombros amigos ganham braços" - eu disse isso ontem no msn, mas a pessoa com quem eu falava não entendeu. Não sei se ficou claro, mas de qualquer jeito não acho que eu deva comentar isso. Eu teimo em não ver algumas coisas, em insistir na minha interpretação dos fatos quando, na verdade, eu deveria considerar que nem todos vêem o mundo com meus olhos infantis. De algum jeito, mesmo que mais uma vez pareça exagero, é como se a confiança depositada fosse para o ralo. Eu sei que não deveria, mas acabo pensando no passado como um erro de cálculo - o passado que desenvolveu essa situação presente, foi dele que eu falei. Eu passei por uma semana de morte (talvez duas), depois me acostumei. Não arriscaria dizer que o arco-íris voltou a brilhar com todas as cores, mas pouco-a-pouco a nuvem cinza vai se espalhando pelo céu. Ou não. Mas, tanto faz, aceitei a situação. É apavorante quando você não encontra ninguém que entenda o que você sente - é claro, às vezes isso é o que reconforta (quando precisamos ficar sozinhos). E aquilo do "ridículo do sentir" me invadiu de tal forma que, enfim, me debilitou completamente. Ok, até parece que eu comprei uma cadeira-de-rodas ou algo assim... Ivy, foi só um tombo. Isso acontece quando você deixa seus tênis pelo caminho. Bah, as férias chegaram em boa hora. Tenho aproveitado (o fato de eu estar com a bunda nessa cadeira, às quatro e meia da tarde, não distorce isso), tenho visto gente bacana e ocupado minha cabeça com pensamentos diferentes dos que me perturbam quando ponho os fones de ouvido. Foi bom ver Juno de novo com o Shaolin, ouvir a voz da Thays, conhecer o lado mais humano (sensível?!) de algumas pessoas. Eu cresci um monte, estou alegrezinha de novo. Acho que nunca foi a intenção eu me tornar o oposto disso. Não estou nem um pouco "à caça" - nem um pouco. Acho isso extremamente vazio e seria um desfecho realmente deprimente para mim. Me basta sair e escutar músicas aleatórias, que eu não escutaria em casa - falar bobagem, tomar alguma coisa e arriscar alguma coreografia banana. Me basta, mas nem preciso disso: o lado-lobo sempre existe, com a sede por solitude. A gente vê esses seriados, essas historinhas de ficção onde tudo acaba sendo lindo e brega e se pergunta se nos encaixamos em algum papel. Já me disseram para descartar o título de "pessoa substituta". Não ando com muito jeito para escrever coisas na terceira pessoa e, se for pra falar "eu", falemos de mim. (Haha, momento Ego.) Não acho que esteja escrevendo para me ler e me entender, me organizar. Não estou mais bagunçada, eu acho. Quer dizer, estou pulsante, minha cabeça está a mil quilômetros por hora e tudo nesse sentido... but i'm fine. Always fine. Sorria e acene, Ivy. Sabe, é engraçado ser uma garota pequena de palavras confusas. Tem a sua graça, mas também é desgastante. Não quero, não quero ninguém novo. Ninguém de diferente. Nem pra hoje, nem pra ontem. Me irrito com insistência nesse sentido. Eu levo tudo de forma muito intensa (e dramática), eu sou sensível e extremamente ouvinte do sr. meu coração (não existe um jeito de dizer isso sem parecer alguém muito brega e fã de Sailor Moon) - não vou fazer nada por fazer. Faço se estiver afim, se eu achar conveniente, se for fazer bem pra mim. Nesse sentido, não vejo razão em não ser egoísta. Sei lá também. De repente, levei tudo a sério demais. Mas nem penso mais nisso. Acho que vai ser bom começar do zero, me conhecer de novo, conhecer as pessoas de novo. Tudo de novo. Pé atrás, cabeça erguida e olhinhos brilhantes. Não vou perder tempo ruminando erros, acertos e desentendimentos (Ivy, you're not a cow!). Não vou perder tempo, mas também não estou com pressa de nada. Sei lá. Quando a gente começa a pensar demais na nossa situação acaba ficando meio triste, eu acho. Enfim. Descobri músicas ótimas e estou buscando a música ideal para fazer uma coreografiazinha. Foi bom descontar tudo na dança (e nos ouvidos alheios - thanks!), consegui evoluir bastante. Para alguém que se dizia extremamente rancorosa, acho que mudei bastante isso reavaliando alguns pontos. As pessoas têm seus lados bons e ruins - e aí está a mágica delas. E eu não estou apontando para nada ou ninguém, apenas falando sem parar. Fiz tanto isso ultimamente que estou sem voz (sério!). Ok, acho que vou me ocupar agora: lavar a mochila, arrumar umas roupas, pendurar moedinhas, ver House, whatever. Eu estou instável, então talvez depois eu leia isso e ache uma grandissíssima bostinha. Sempre existe a intenção de escrever 'mais tarde' quando eu posto algo de dia. A sensação de ansiedade, na verdade, não passou por inteiro. Eu acho engraçado escutar os conselhos e palpites de todo mundo a respeito da minha vida - engraçado porque eu não sigo nenhum deles, mas sou grata aos que me dirigem a palavra. Ok.





quinta-feira, 4 de junho de 2009

"Encontre um homem que..."

"Encontre um homem que te chame de linda em vez de gostosa.
Que te ligue de volta quando você desligar na cara dele.
Que deite embaixo das estrelas e escute as batidas do seu coração.
Que permaneça acordado só para observar você dormindo.
Encontre um homem que te beije na testa.
Que queira te mostrar para todo mundo mesmo quando você está suada.
Que te acompanhe ao cinema para ver um romance mesmo que o preferido dele seja terror.
Que segure sua mão na frente dos amigos dele.
Encontre um homem que te ache a mulher mais bonita do mundo mesmo quando você está desarrumada.
Que insista em te segurar pela cintura.
Que te abrace de surpresa na frente de todos.
Que te lembre constantemente o quanto ele se preocupa com você e o quão sortudo ele é por estar ao seu lado.
Espere um homem que com certeza está esperando por você.
Que responda as suas atitudes em relação à ele.
Que vire para os amigos e diga: É ELA, A MULHER DA MINHA VIDA."

Besteira! Quer dizer... eu não acharia tão ruim se não fosse tão alto o número de pessoas que cultiva essa idéia. Tá, isso nem importa na verdade. Só que eu acho infeliz a forma que esse textinho virou referência para algumas meninas - não só pela idéia de parecer impossível encontrar um cara como o descrito, mas pelas babaquices bregas escritas. Garanto que esse modelo de homem ideal não é satisfatório e pode ser até visto como chato pelas mocinhas que o procuram tanto (nos lugares obviamente errados, diga-se de passagem). Ok, analisando calmamente:
-
Encontre um homem que te chame de linda em vez de gostosa.
Linda é linda, gostosa é gostosa. Explicação idiota, mas simples. Voc
ê pode ser linda E gostosa. Não é preciso levar um tapinha na região glútea em frente a um grande número de pessoas e ouvir exclamados palavrões, mas também não acho nada horrível dizer que alguém "é gostoso". (ok, prefiro essa falavra no gênero feminino) - Não acho ofensivo e duvido que 99,9% dessas meninas ache, até porque o fato de uma garota ser gostosa não a fará menos bonita (pelo contrário). Tá, é desnecessário discutir isso.
-
Que te ligue de volta quando você desligar na cara dele.
Porra! Indelicadeza é uma maravilha, ainda mais vinda com esses típicos chiliques infantis femininos. Grosseria é grosseria, não importa a justificativa. Não quero alguém que passe a mão na minha cabeça quando eu estiver errada e se coloque em segundo plano.
-
Que deite embaixo das estrelas e escute as batidas do seu coração.
Não entendi a dificuldade, mas tudo bem. Acho que essas coisinhas bregalegais tendem a acontecer mais se a gente der liberdade pra isso ocorrer naturalmente, e não como uma imposição... [?]
-
Que permaneça acordado só para observar você dormindo.

Isso é meigo, mas deixa o cara. Típica cena de filme. Isso pode acontecer e você nem ficar sabendo (você estava dormindo). Tem coisas que parecem que só recebem o devido valor quando deixam de ser um segredo, não gosto disso. Eu quis dizer que eu acho bonitinho, mas não gosto da idéia de isso se tornar um "pedido". Sei lá.
-
Encontre um homem que te beije na testa.
Garanto que há quem reclame!
-
Que queira te mostrar para todo mundo mesmo quando você está suada.
... Sinceramente: disgusting! Cara, eu morreria de vergonha. Ficaria ainda mais "o amor é cego" (filme) a situação. Tipo tudo bem que a pessoa goste de você o tempo todo, mas ai... enfim, banho deixa todo mundo feliz e melhor.
-
Que te acompanhe ao cinema para ver um romance mesmo que o preferido dele seja terror.
Tá, um cara que saiba ceder. Pronto, chega de escândalo. E acharia me
io idiota se isso fosse rotina, francamente.
-
Que segure sua mão na frente dos amigos dele.
Quem escreveu isso vivia nos anos 30, sei lá. Mais válido escrever "que segure sua mão mesmo quando ela está suada".
-
Encontre um homem que te ache a mulher mais bonita do mundo mesmo quando você está desarrumada.
Ah, eu não gosto dessa pretensão toda. Metade das coisas da lista são para serem ouvidas e não necessariamente feitas.
-
Que insista em te segurar pela cintura.
Hahaha. Esse "insista" me parece meio suspeito. Sempre imagino um sujeito chato e grudento que não deixa a guria caminhar direito.
-
Que te abrace de surpresa na frente de todos.
É... também me parece suspeito. Que mania de se exibir. Não se pod
e ser feliz com alguém numa sala vazia?
-
Que te lembre constantemente o quanto ele se preocupa com você e o quão sortudo ele é por estar ao seu lado.
"E o quão sortudo ele é por estar ao seu lado"... puxa, não se diz que se quer ouvir isso. De novo, que pretensão! Querem ouvir que são lindas, mas não podem ser gostosas... Querem que todos vejam seu poder sobre o cara (e o quão bobo ele fica na sua presença) e, agora, querem levar crédito por tudo de bom que ocorre na vida do pobre.
-
Espere um homem que com certeza está esperando por você.
Com certeza, ein. Lá. Paradinho. Sentadinho, só olhando os movimentos. Numa festa, à sua espera.
-
Que responda as suas atitudes em relação à ele.
Hum? Sim sim, queremos alguém que se mexa.
-
Que vire para os amigos e diga: É ELA, A MULHER DA MINHA VIDA.
Eu sempre imagino a mesma situação: mesinha de bar, cerveja, um mar de amigos jovens e solteiros do sexo masculino. E um casal. Um casal, em que a namorada é uma pentelha
que não deixa o cara beber em paz e/ou largar a mão dela (afinal, estão na frente dos amigos). De novo, penso que é desnecessário o exibicionismo. De novo, penso que a pretensão e o egocentrismo ultrapassam os limites. De novo, acho brega. E clichê de algum jeito - se todos dissessem isso, a afirmação perderia seu valor.
Enfim. Explicação mal-humorada sobre as razões pelos quais eu detesto a forma como esse texto foi adotado como uma religião. Já não basta a idéia do imperativo, que se choca com a espontaneidade...


quarta-feira, 13 de maio de 2009

1/3

- Não quero, sabe? Não quero ser como essas pessoas que passam um terço da vida dormindo e outro terço acordadas.
- Um terço acordadas? Você se enganou, querid...
- Não, é um terço mesmo. Um terço do tempo acordadas. Sabe, a gente tende a viver de olhos fechados, seguindo uma rotina mecânica de coisas que deixamos nos impor - para manter a ordem, eu sei -, e deixamos de lado o que, no fundo, realmente conta para a nossa felicidade.
- Eu acho que esse tipo de pensamento só faz com que nos sintamos diferentes em relação ao todo. Isso nem sempre é bom.
- Nem sempre é bom, mas é o preço. Sabe, falar sem parar por exemplo: as pessoas estão acostumadas a regrar tudo, a fazer caretas e a achar esquisita qualquer conversa que seja realmente espontânea, entende?
- Mas o fluxo de pensamentos da sua cabeça é diferente do de outras pessoas. Se não existir uma convenção, ninguém nunca vai se entender.
- Não, não! Eu quero dizer que, se eu parasse aquele cara que está atravessando a rua para elogiar seu corte de cabelo e perguntar o que ele achou daquele escândalo dos dejetos encontrados em caixas de leite, provavelmente ele me acharia uma pessoa esquisita e inconveniente - quando deveria se manter neutro e responder, se estivesse afim.
- Você acha que ele não o faria? Sabe, se todos tivessem esses ímpetos de falar o que desse na telha o mundo não seria mais tão sério. Eu tô falando de seriedade, sabe, de responsabilidade. É muita inocência achar que as pessoas seriam mais felizes com esses diálogos randômicos esquisitos.
- Mas nós, por exemplo, vivemos tendo esses diálogos e sabemos o quanto são bons!
- Mas nós somos nós. Nós não dormimos um terço da nossa vida, estamos o tempo todo acordados pra tudo... é por isso que nos damos bem. Eu, sinceramente, não queria perder isso para essas pessoas que nem se importam.
- É, pode ser. Pretensão demais, né?
- Acho que, se eles estão satisfeitos, melhor pra eles. Teria um certo incômodo se tudo o que eu gostasse fizesse parte do gosto comum.
- Depois eu que tenho mania de ser diferente...
- Não é mania de oposição, de chamar a atenção, essas coisas... só não gosto de dividir o banco com gente que não pensa, que só aceita tudo sem nem ter uma opinião a respeito. Seja um comodista, mas com consentimento!
- Engraçado te ver falando assim. Nunca sei que assunto vai te empolgar ou te deixar com aspecto de mofo.
- Isso é de todo mau?
- Não, não é mau. Eu quero dizer que gosto que você não seja previsível aos meus olhos. Eu fiquei pensando a respeito da "pessoa perfeita" e cheguei a conclusão de que a minha versão disso seria alguém com defeitos. Porque, pra mim, pessoas sem defeitos são plásticas - nem perfeitas são!
- Eu gosto de pessoas de verdade...
- Sim, é isso. Eu gosto desses dois lados, acho rico poder ser uma grande pessoa por um lado e um pouco desprezível por outro. Acho legal assumir características que não nos remetem ao sucesso do bem-estar coletivo...
- Ah, é que o pecado se estabeleceu em tudo... Depois que a idéia de culpa surgiu, nunca mais fomos os mesmos. Sentimos culpa quando não sentimos culpa por fazer algo "errado", por exemplo. Isso é ridículo.
- Eu não sei o mal que existe por trás da nossa imperfeição. Isso assusta tanto as pessoas... elas ficam mentindo umas pras outras para se mostrarem melhores, sendo que isso é ainda pior do que fazer uma propaganda negativa de si mesmo.
- É, eu também não entendo isso. E também acho curiosa nossa mania de gastar um terço do tempo nos perguntando como os outros não são como nós.
- Mas isso me faz feliz, entende? Não falo isso pensando em inconseqüências da adolescência, mas acredito que esse "um terço" (dois, na verdade) deveria ser para a gente se divertir, procurar diversão nas coisas que nos são oferecidas.
- É, isso não me aborrece. Eu gosto da maneira como eu admistro meu tempo, principalmente como isso tem se dado nas últimas semanas...
- É. Ok, posso dar play? Você já buscou o saleiro, agora podemos retornar ao filme.
- Sim, claro. Ah, só uma última coisa: eu gosto de como a gente demora umas cinco horas para conseguir fazer alguma coisa que já estava programada. Eu quero dizer... é espontâneo. Fico feliz em ver que não somos mecânicos e conversamos quando temos vontade.
- Pois sim. Ah, já te mostrei o livro que eu comprei?
(...)


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sobre meninas e lobos.

- E então, o que você vai contar?
- Como assim?
- A gente acabou. Que história você vai contar pros seus amigos?
- Nenhuma. Nenhuma ainda, ainda não sei, tenho que pensar...
- Pelo menos você foi sincero, não disse que ia contar "toda a verdade".
- É que, sabe, eu não acho que eles tenham que saber.
- Ok, retiro o que eu disse. Você não precisa dar uma de bom samaritano agora e se importar comigo. A nossa história acabou, entende? Não vai pegar mal se você me cobrir de adjetivos maldosos e essas coisas.
- Mas não é isso que eu quero fazer. Você foi importante pra mim e tudo o que aconteceu foi nada. É normal acontecer esse tipo de crise, cansar, sabe? Eles nem tem o que entender.
- E toda a parte das coisas que você perdeu enquanto estava comigo?
- Eu não perdi nada.
- Certeza?
- É. Eu juro que tento entender de onde você tira todas essas idéias conspiratórias.
- Não... não é isso. É só que, bem, nós estamos quebrados, entende? Mesmo que a gente tente, não seremos amigos agora, assim de repente. Pra dizer a verdade nós seremos nossos piores inimigos pelos próximos meses.
- Porque nós namoramos?
- É, porque você me conhece bem e eu te conheço bem também.
- Nós não nos conhecemos bem, é por isso que a gente está se afastando.
- Mas ainda assim nós temos informações confidenciais um da vida do outro.
- Que seja. Mas eu não pretendo atrapalhar os seus planos.
- E o ciúme?
- Eu nunca tive ciúme, você sabe.
- É, eu sei. Que lixo.
- Sabe, você estava certa quando falou que eu preferia meus amigos.
- É, eu sei. Isso é típico de vocês... as mulheres são mais impulsivas e deixam as amigas de lado facilmente, mas vocês...
- Eu fico feliz com isso. Quer dizer, não por você, mas por estar do lado de cá. Certos ou errados nós nunca saímos um do lado do outro.
- E o que eles diziam quando a gente brigava?
- Depende. Já me mandaram correr atrás de você e já me mandaram te esperar ligar, ir pra uma festa, sei lá.
- Eu sempre tive medo de invadir o território, sabe. Eles são teus amigos, não meus.
- Poderiam ser nossos se você tentasse. Mas eu fico agradecido, na verdade, por você ter respeitado isso. Eu te admiro bastante.
- Admira...
- Não tanto quanto eu já admirei. Sabe, esfriou mesmo. Eu achei que fosse ficar pior num dia como hoje, mas eu estou bem.
- Isso é porque eu estou conversando com você ao invés de soluçar.
- Foi você quem começou, não deveria soluçar mesmo.
- Não é bem assim. Eu estou tentando ser forte, só isso.
- Eu não sei qual é a dificuldade nisso.
- A dificuldade é que você usa sua sensibilidade com a mesma freqüência que usa cosméticos.
- Eu entendi que além de frio eu sou sujo, mas existem outros jeitos de dizer isso.
- Você não fica nem um pouco triste?
- De saber que agora estamos livres para buscarmos a felicidade em outros lugares?
- Nós sempre estivemos livres.
- Não é verdade, gata.
- Eu esperava que você se mostrasse mais sensibilizado. Nós passamos bastante tempo juntos.
- Eu fico te olhando e pensando que, por mais bonita que você seja, eu vou desejar não te encontrar por aí.
- É, vai ser uma merda mesmo te ver com aqueles caras, dando risadas. Eu vou saber que você está bem e você vai ver que eu sou totalmente o oposto.
- Essa sua mania de sofrer sempre me aborreceu.
- Eu sei.
- A vida é mais Blockbuster que isso, sabe? Não adianta você ganhar um Oscar se o filme é anônimo.
- Tem sempre alguém que vai querer assistir o filme.
- Não é legal assistir teu sofrimento habitual. É todo dia, por qualquer coisa. Eu não tenho que fingir que gosto mais de você, isso é legal.
- Puxa...
- Não, não, desculpa! Eu quis dizer que era um saco repetir aquele discurso sobre saudade e amor o tempo todo. Você tem que ser mais segura, os caras gostam disso.
- Meu ex está me dando conselhos - que fim de carreira!
- Ai ai...
- Mas e então? É isso que você vai dizer? Que eu te chamei para uma conversa e a gente acabou?
- Na verdade, eles vão sentir um pouco de pena de você eu acho. E depois a gente vai sair pra beber.
- Porque alguém teria pena..?
- Suas amigas não vão ter pena? Eu imagino que o seu remédio seja me rebaixar por aí.
- É, no início é assim.
- Bom. Ótimo. Olha, tem mais alguma coisa que você queira dizer?
- Eu... não.
- Então, se cuida.
- Eu espero que você encontre alguém legal, sabe. Melhor do que eu...
- Já encontrei. Então tá, a gente se fala.
- Mas...
- É, eu acho que elas vão sentir pena.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Polyamory


Nadaver. Ando meio afastada da ficção, tentando me nutrir de emoções reais. Hoje eu li um pouco de um livro sobre linguagem corporal e, ontem, vi uns dois documentários no Discovery: um sobre sex appeal e outro sobre poliamor. Ambos interessantes, porém o que explicava 'a ciência do sex appeal' era mais um aglomerado de informações quase numéricas, do tipo que tu até acha interessante e lógico, mas não é válido nem fácil de narrar para alguém. Falaram de beleza, de simetria, do número da perfeição, das pequenas mudanças no corpo durante o período fértil da mulher, das diferenças gestuais de homens e mulheres e blablablá... foi como ter uma aula sobre seres humanos, do tipo 'como identificar um homem na rua'. Mas valeu. O outro documentário, que foi da GNT e não do Discovery (lembrei agora), é de uma série que sempre aborda temas polêmicos relativos a sexo e as novas formas de família. Dessa vez não foi diferente: o poliamor é diferente da poligamia, que estabelece uma relação mais aberta e, aparentemente, mais sexual. Tá, é aquela idéia de oposição à monogamia. Já o poliamor é o caso de casamentos com mais de duas pessoas. Não necessariamente vários casais morando juntos: o exemplo dado foi o de uma família de três pessoas, em que uma mulher se casou com um cara há uns dezesseis anos (já afirmando que não seguiria o modelo clássico...) e, uns anos depois, se apaixonou por outro homem. Se casou com ele também e, então, os três moravam juntos. Depois de um tempo os homens afirmaram que se apaixonaram também um pelo outro e então se casaram também. E estão os três, há dez anos, casados entre si. O cara que entrou por último tem uma namorada (que não é dividida...), que freqüenta a casa mas é colocada sob uma hierarquia: a família (os casamentos) está em primeiro lugar. A primeira coisa que se pensa é que os três vivem numa orgia sem fim, aquela coisa de que os três chegam em casa tirando a roupa e etc (palavras do cara), mas no fundo é bem o contrário: cozinhar, limpar a casa, administrar as despesas, e tudo o que se faz normalmente. O sexo fica em segundo plano e raramente é feito em conjunto. Os envolvidos têm momentos a sós com cada um de seus parceiros e nem sempre todos os que compõem o círculo formam necessariamente um casal. É um modo de vida diferente, é claro, e achei interessante falar disso. Apesar de parecer uma coisa de outro mundo, isso se aproxima da idéia divina de amor. Pelo menos pra mim. Porque é bobagem ter preconceito com casais do mesmo sexo ou, enfim, com tudo o que não é o esperado pela idéia de maioria. E quem disse que só se ama uma pessoa na vida? Existem muitas barreiras ainda a serem quebradas... talvez, num distante século do futuro, se possa encarar com naturalidade as escolhas alheias sem nos sentirmos atingidos e ameaçados por elas.


terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Diferente

- É o seu nome mesmo ou é um apelido?
- Os dois.
- Como?!
- Para você esse é só o meu nome, para os mais íntimos funciona como um apelido.
- Er... bem, então é o seu nome. Diferente, não?
- Não. Sabe, eu convivo com ele desde os tempos em que habitava o útero da minha mãe.
- É a primeira vez que vejo alguém que se chama assim...
- Que bom. Não gosto desse mundo comum, onde as pessoas só se diferenciam por números.
- Que insistência! Eu não estou dizendo que você é uma aberração, estou afirmando que seu nome é diferente do usual, só isso.
- Não, você está usando ele para me ridicularizar.
- Então você concorda que é um nome horrível...
- Não, eu concordo que você é horrível, não meu nome.
- Ah, não me venha com...
- Diferente esse seu nariz, não?
- Ora, que desaforo!
- Mas é seu mesmo ou é implante?

[...]

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

rewritting

- Eu tenho que te dizer que, naquela vez, eu não queria mesmo ir. Não queria ir, mas era o que eu tinha que fazer. E você tornou tudo insuportável, sabe. Se eu ficasse seria suicídio.
- Mas você preferiu ir. Foi fraco.
- Fraco? Fraco?! Não, você não quis dizer isso... eu sei que não quis...
- Fraco mesmo. E daí que eu existia, eu era uma criança e você sabia disso! Você tinha que ter ficado lá e...
- E o quê?
- Era a minha vontade. Eu queria que você tivesse fic
ado.
- Você queria muita coisa, muita gente ao mesmo tempo.
- Ué, eu tinha entendido que você gostava de mim.
- É, mas gostar e depender são coisas diferentes. Fora que, né, olha a minha cara de ingênuo... Você não pensa realmente que eu achei que nós seríamos perfeitos, pensa?
- Mas nós éramos perfeitos, só que do nosso jeito.
- Do nosso jeito imperfeito? Não, não se iluda... eu estou bem com o que aconteceu, a gente não precisa re-pintar tudo usando cores mais vibrantes. Deixe o cinza como está, a gente não precisa disso.
- A gente? Você quer dizer que ainda...?
- Não. Pare de fantasiar.
- Sabe, naquela época eu realmente não entendia o que vo
cê fazia, mas hoje eu vejo que...
- Você ainda não entende.
- Então me faça entender. Por favor...
- Não, não é assim que funciona. Você nunca procurou ver como foi difícil pra mim? Eu tenho que descrever tudo sempre? Desenhar?
- Eu acho que se você gostasse de mim de verdade não desistiria.
- Eu não desisti, eu simplesmente perdi. Que merda.
- Não perdeu por minha culpa, foi você quem foi embora...
- É, você não tem culpa de nada, nunca tem: eu esqueci desse detalhe...
- O quê? Vai me culpar agora?
- Não sou eu que sou inconstante.
- Como não?

- Meu comportamento é normal, completamente explicável, com ações e reações.
- Então porque não ficou, se era o que você queria?
- Porque eu tinha que recomeçar a minha vida.
- Achei que seu lugar fosse do meu lado...
- Quando eu era o único, eu estava em todos os lados, eu te encontrava, eu sabia o que fazer... mas você tem essa mania de se perder por aí, de se perder com qualquer um... Eu não suporto isso e nem tenho que suportar. Não é por aí.

- Você não queria nada sério nunca, agora vem e diz isso.
- Eu não disse que não queria nada sério. Eu só não fui tão óbvio quanto você queria.
- Então eu estava livre para sair com quem quisesse.
- Tudo bem. É claro. A sua liberdade não depende de mim. Mas você tem que entender que existem prioridades... e eu tenho o direito de escolher quem me quer.
- Lá vem ele falar da outra...
- Eu não vou falar de ninguém. Eu não estou te comparando.
- Sabe, eu acho que subir naquele trem foi a pior merda que você já fez.
- Eu o faria de novo, se você quer saber.
- Não se arrependeu mesmo?
- Eu acho que a gente não daria certo mesmo.

- Eu não acho isso.
- Olha pra você, você quer que eu fique com você ainda hoje e te leve pra casa depois do café, quer que eu prometa que vou ligar e, quando eu ligar, você vai
pensar que resolveu o caso, que eu realmente não te esqueci, que você ganhou o jogo. E vai partir pra outra.
- Não... não, eu não vou. Que horror. Se você quer saber, eu vim aqui disposta a começar tudo de novo com você. Eu quero que você me abrace mesmo, quero tomar café, quero que você tenha algumas roupas lá em casa, quero que você bagunce tudo, que me irrite às vezes e todas essas coisas que a gente fazia.
- Assim, tão fácil? Você nem sabe como anda a minha vida, se eu estou com alguém, se...
- Que merda! Não percebeu que isso não importa? Eu estou me submetendo a uma tremenda humilhação e...
- Humilhação foi o que você fez comigo. E não ouse dizer que não.
- Eu já te disse que eu era imatura.

- Tudo tem limite. Tudo.
- E vai dizer agora que não sentiu falta de nada?
- Não, eu não nego que tenha passado por dias terríveis, semanas perturbadoras...
- Então?
- Não sei. Não quero. Você não mudou. E eu nem queria que mudasse, é só que eu não agüento isso, o seu comportamento aleatório.
- Você não sabe o trabalho que deu conseguir seu telefone.
- É, eu também batalhei para conseguir o seu naqu
ela época.
- Vai ficar por isso mesmo? Não vai dizer que sim nem que não?
- Eu tentei fazer com que você interpretasse tudo como um não.
- Isso é o que você quis ou o que você teve de fazer?
- Se tivesse um trem agora por aqui, eu subiria nele e ficaria te olhando da janela. Sabe, da outra vez eu tive que ficar olhando você beijando um outro sujeito, que não era nem o mesmo do bar. Eu preferia que fosse ele, pelo menos eu pensaria que ele estava cuidando de você.
- Eu sinto muito. Mas eu ainda acho que você suportaria mais do que isso, você foi fraco.
- Sabe, você estragou tudo.
- É, eu sei.
- E, sabe, você nem se importa com a minha vida, você m
esma disse. Eu poderia estar matando um dia de trabalho para vir te ver e você nem liga.
- Você não faria isso... Você é tão certinho.
- É, eu não faria... mas não faria porque você não merece.
- E se eu te disser que não teve graça, ein? Que nenhum dia pra mim teve graça desde aquele maldito dia em que eu te vi subir no trem.
- Eu acho que é tarde demais para você ver isso. E também acho que é mentira sua.
- Você acha que algum cara é como você?
- Não. Mas eu não encaro isso como elogio. Sabe, eu não
tenho muito tempo. Você me aborrece.
- O que mais?
- Sei lá, só isso. Você fudeu com tudo, conseguiu o que queria.
- Não, não consegui.
- Eu acho que esse é o seu único desafio agora, sabe, me fazer voltar. Porque eu sou teimoso e resisto aos seus vestidos decotados, os outros não.
- Você acha que eu ganho os outros só pelos decotes?
- Francamente eu acho. Ninguém quer saber o que você pensa se tem um par de seios bonitos.
- Que crueldade! Sabe, eu quase me casei.
- Com um cara rico? E, ah sim, só não casou porque lembrou de mim, veja só!
- Ah, você não sabe conversar mesmo! Garçom, a conta!
- O que foi, decidiu ir embora assim?
- Ué, você não estava entediado?

- Sim. Hey, eu pago.
- Achei que...
- Não, eu não sou nenhum pé-de-chinelo. Você casaria comigo só pela grana, se fosse o caso. Eu quero dizer, eu já tenho um atrativo, não precisaria que você gostasse de mim. Só que eu não faria isso, não é nada justo.
- Pelo menos eu já disse que queria recomeçar antes de você falar isso.
- É, você continua engraçadinha. Eu gosto disso.
- Pra que lado da cidade você vai?
- Vou te deixar em casa, não se preocupe.

- Não, eu vou pegar um táxi...
- Eu sei que você quer que eu te leve.
- É o que eu quero, mas não é o que eu devo fazer. Eu tinha que achar um trem por aqui e fazer a mesma cena da despedida...
- Não precisa fazer isso. Sabe, eu já disse que estou bem com o que aconteceu.
- E sua família? Eu quero dizer, você pode ter uma filha e eu não saber, pode ter casado com aquela outra e...
- Eu não sou pra casar.
- Hum.
- Eu te levo.
- Sabe, eu continuo achando que foi uma merda o que você fez.
- Eu começo a pensar que sim. Mas era o que eu tinha que fazer.
- Eu continuo morando por lá, só que é do outro lado do parqu
e.
- Eu sei. Eu tenho pesquisado sobre você. Foi por isso que eu vim.
- Nossa.
- Surpresa?
- É que eu realmente não achei que você se lembrasse de mim, sabe, desse jeito.
- Eu lembro de muita coisa. Eu não sou desligado, como você diz.
- Você é meio parado, meio inerte para tudo. Está sempre pensando em coisas distantes.
- Aqui estamos.
- Que rápido.
- E então?
- Você sabe onde eu moro. Fica no carro e espera eu en
trar. Se for o caso, você vai saber voltar. Eu não vou ficar esperando.
- É, você cresceu.
- Eu disse.
- Eu tenho que voltar pro trabalho agora, mas eu te ligo mais tarde.
- Você não disse que...?
- Eu não ia perder isso por nada.
- Sabe, eu estou com um pouco de medo. Eu não vou estar preparada, caso você pretenda se vingar. Eu estou desarmada.
- Eu acho que a gente não tem tempo pra isso.

- A gente? Você quis dizer...?
- Sim.
- Se eu pudesse ter parado aquele trem...
- Eu vou voltar dessa vez.



domingo, 21 de dezembro de 2008

Slide Away

Ele não sabe o quanto me machuca quando deixa tudo passar assim, despercebido. Existem esses momentos em que a gente quer ir embora e não se trata nem de chamar a atenção daqueles que insistem em não nos compreender; a gente só quer ir embora. Se ver num daqueles filmes antigos, com um carro velho numa estrada, nuvens de poeira e música boa à toda altura. Ele não entende isso, sequer se passa pela cabeça dele isso. Essa incógnita me enche o saco, apesar de eu ver nela o grande diferencial. Se ele tivesse parado com seus acordes e acordasse um pouco para mim ou qualquer outra porcaria, sabe, mas às vezes parece que ele consegue ser pior do que eu nessa vida de se perder em outras dimensões. Eu me sinto dopada, me sinto num desses dias comuns, tipo madrugada de terça-feira, em que, por insônia ou pensamentos atordoantes, se passa a noite de olhos abertos, com uma caneca entre os dedos e pouca luz. A brisa noturna é de embriagar, entorpecer qualquer um. E eu não sei se sou eu quem não deixa os ponteiros do relógio seguirem seu destino - até que a bateria esteja completamente sem carga - ou se é ele, que enxerga tudo em tons monocromáticos. Pouco importa agora o contato físico: eu quero olho no olho. Esse jogo de indiferenças me agride, me agride como uma risada dada pelo tempo segundos depois de algum arrependimento. Me enche o saco essa porcaria de filme na televisão: o que eu quero com xerifes agora, que eu não tenho ninguém? Deitar na cama é tão perigoso, é como se ela me engolisse e me mastigasse com todos os meus defeitos. Dormir não é pra mim. Não é pra nós. Eu levantei hoje, achando que tinha despertado de um sonho, mas era verdade: ele só estava no meu quarto impresso numa foto. Nada de cheiro de jaqueta. Vou te dizer, ele tem cheiro de jaqueta. Jaqueta jeans. E isso me lembra as vezes em que, antes de sermos alguma coisa, eu esbarrava naquela jaqueta meio que de propósito. Ele sempre fora destraído, sempre fora de não entender as coisas óbvias. E, mesmo assim, tinha idéias ótimas e absurdas sobre as coisas que a gente geralmente não pensa. É uma porcaria ficar jogada na poltrona vendo como ele canta bem. Ele toca muito bem. E sempre com aquela jaqueta, caralho. E, pra ser sincera, eu não sei bem se isso é um desses momentos em que a gente quer ir embora. Eu tô cansada de tudo, cansada de como metade das minhas ações consistem em buscar explicações para as outras. Eu não tenho que me explicar quando só eu tenho interesse na minha biografia. Talvez seja meio deprimente encarar isso, mas é verdade. Foda-se o que aconteceu, ninguém quer ouvir a minha versão sobre como eu perdi o medo de escuro. Ninguém quer ouvir. Só se for a música dele, a maldita música dele, que eu não consigo parar de ouvir. E eu nem sei se ele sabe que eu penso essas coisas todas, mas eu também nem tenho como saber o que se passa lá enquanto estou aqui. Bem que eu queria me sentir turista daquele mundo, daquela cabeça, daqueles olhares silenciosos que me lêem sem responder. Eu já não sei se hoje é terça-feira, se ainda existe alguma caneca que eu não tenha atirado na parede, se... mentira, eu não atirei nada na parede. Eu não atirei nada na parede. E a jaqueta dele está aqui, por incrível que pareça. Ele é que não está. E, mesmo que estivesse, sentado na minha frente que fosse, eu não acho que ele estaria aqui inteiramente, sabe. Sempre em outra dimensão, ele está sempre do outro lado. Do outro lado e nunca do meu. A noite está boa, a brisa está boa e essa vai ser mais uma noite de insônia: ninguém pra me ouvir falar de como eu não entendo nada. Eu não pertenço a lugar algum.



"Slide away and give it all you've got
My today fell in from the top
I dream of you and all the things you say
I wonder where you are now

Hold me down, all the world's asleep
I need you now, you've knocked me off my feet
I dream of you and we talk of growing old
But you said: "please, don't!"

Slide in, baby - together we'll fly
I've tried praying, but I don't know what you're saying to me..."

Oasis

sábado, 20 de dezembro de 2008

Sobre dança e vestibular


Esses últimos tempos foram realmente constrastantes: de um lado, o esforço e o peso da responsabilidade e, de outro, toda a magia de conhecer arte e pessoas com muito e pouco em comum. Claro que eu não passava 20 horas por dia sentada na frente de um livro, mas também passei umas noites em claro terminando a roupa da apresentação de dança. Nessas horas, perfeccionismo sempre atrapalha. E agulhas fininhas para linhas grossas também. Ah, eu gosto de fazer essas coisas. Eu tenho tantos planos pras férias, tipo reaprender a fazer crochê, tricot, essas coisas de vó. E, no fim, quando tu vê o resultado final, tu se sente realmente feliz. E não deixa de ser uma atividade muito boa para relaxar, porque tu não precisa pensar em nada, é algo totalmente mecânico. E eu tive o prazer de ver muitos episódios de House, Márcia, filmes estranhos e programas bizarros dublados durante esse tempão que eu fiquei recheando de coisinhas brilhantes a roupa e tal. Tá, eu tô falando como se eu fosse a Virgem das Miçangas ou sei lá (tá, isso foi péssimo). É que foi bem diferente de como eu achava que fosse acontecer. Sabe, eu não queria me apresentar nem a pau até a metade do ano, e isso mudou depois de ver um show tri legal. E tinha a história do vestibular, das provas da UFCSPA que coincidiam com o final de semana das apresentações, com as mil e uma preocupações que envolvem as duas coisas. E é claro que pensar no futuro e se planejar para tentar entrar nuam faculdade é bem estressante. Apesar do clima de cursinho ser relativamente feliz, o tempo vai passando e você vai perdendo o controle. Métodos de estudo, livros péssimos como leituras obrigatórias, muita mas muita informação... é meio chato administrar tudo, até porque, no meu caso e no de muita gente, a oportunidade vem uma vez ao ano. E deu. Então não dá para levar com aquela indiferença o fato de acertar uma questão a mais ou a menos, ou deixar sempre para depois o estudo sobre as rochas dos planaltos sul-riograndenses. Sério, eu descobri o quanto geografia física me irrita e o quanto literatura pode ser muito, muito ruim. Eu gosto tanto de biologia, gosto tanto do funcionamento, de como tudo pode ser explicado, de como os critérios têm fundamento... haha, eu tô louca pra mandar o Machado de Assis à merda. Enfim, não tem outro jeito, a não sei engolir. E vai ser assim praticamente sempre, de agora em diante. Nesse ano ficou clara a idéia de que existem amigos e "pessoas úteis". Acho que são essas que eu vou encontrar na faculdade e por aí, até porque o competitivismo é grande e ninguém fica muito satisfeito em fazer o bem ao próximo sem se beneficiar. Falando em competir, eu me surpreendi bastante com o ambiente da aula de dança no geral. Eu não gosto de fazer esse tipo de atividade com pessoas do meu quotidiano, ou que sejam próximas mesmo. Porque eu crio essa coisa de competição na minha cabeça e porque eu acho interessante não estar sempre com as mesmas pessoas (ok, talvez isso seja novidade). Acho bom ter o grupo da dança, o grupo do inglês, o grupo do sei lá o que, uma banda, enfim. Não é que para cada um você vá ser uma nova pessoa, mas é que realmente existe essa diferença de comportamento naturalmente. Se eu ficar presa na primeira impressão que eu tenho dos outros, e eu descobri isso mesmo só agora, eu posso perder a chance de conehcer gente realmente muito mágica. E, nos últimos dias, com as apresentações e a festa para encontrar todas as pessoas do estúdio (a maioria, né), foi bem engraçado ver como a mulherada reage. É claro que cada uma é de um jeito, mas eu me surpreendi de ver que as categorias não foram empregadas à pessoas homogêneas. Tá, eu explico: é que você espera que aquelas mulheres mais velhas ou enfim sejam mais "mãezonas", que as mulheres do nível avançado sejam extremamente arrogantes, que as profissionais não fiquem nervosas e por aí vai... e, quando vai convivendo com elas, percebe que não existe um padrão para isso, e, muito pelo contrário, existem jeitos e jeitos de encarar aquele mundinho: grande parte das mulheres afirma aquelas frases nojentas, do tipo "vou dançar pro maridão", enquanto algumas fazem por vaidade, outras por ser um exercício físico e assim vai... e, nesse meio, é engraçado ver como existe gente superpreocupada em aparecer enquanto outras estão simplesmente se divertindo. Foi só um comentário. E o melhor talvez ainda seja presenciar as mesmas pessoas tomando um café e achando bizarro o Zombie Walk, com pose de educação e requinte, e dias depois com garrafas de cervejas nas mãos, falando as coisas mais absrudas sobre 'deus e o mundo'. Eu gosto de pertencer a essa mistura. E é legal ver que gente que tu não conhece sabe o teu nome e etc.

Ok, eu comecei a escrever aleatoriamente. Fugiu do que eu queria, mas é a vida.