quarta-feira, 22 de julho de 2009

Maçã Verde

"As pessoas se dividem em dois grupos: o grupo das que não olham para trás em despedidas e o grupo das que olham. Eu não saberia explicar como acontece essa diferença, visto que eu não consigo evitar olhar - não importa se sou eu quem está caminhando ou o outro alguém. Ou os dois. Se dividem em dois grupos também aquelas que guardam cartas e presentes recebidos de seus amores - eu gostaria de poder dizer que os indivíduos que não olham para trás são os mesmos que não se desfazem dessas coisas (mesmo que pareça contraditório), mas não acho que seja bem assim. Seria muito fácil dividir todo mundo em grupos e esquecer que existem exceções - entre as semelhanças e diferenças, existe algo muito mais subjetivo e "incomparável" (incomparável porque não pode ser copiado, medido, nada do gênero). Eu não sei onde queria chegar falando disso, juro que não. Sabe, eu fico feliz quando vejo que existe gente que se liga em pequenas coisas, detalhes, coisas do dia-a-dia que podem parecer bobagem mas que, no fundo, são o que realmente importam. Cheiro, por exemplo: cheiro é uma coisa comum - as pessoas pensam se gostam ou não de cheiro de gasolina e sabem escolher entre um perfume e outro, mas nem sempre valorizam o cheiro nem sempre bom de um livro novo, de grama molhada ou qualquer coisa dessas. Ok, isso não foi um exemplo original. Acho geniais as associações aleatórias entre coisas, pessoas, sentimentos. Acredito que bastante gente usa a música como instrumento de reviver memórias - e isso nem deve ser proposital. Não diria que é mecânico, porque tudo que é mecânico parece frio e exato, e não dá pra falar de emoções assim. Sabe, resolvi me abrir um pouco e falar de maçã verde. Maçã verde, cara, maçã verde! Maçã verde é realmente uma das melhores invenções da natureza (diria "criações", mas "invenções" soa mais engraçadinho): bonita, gostosa, excêntrica... acho que o encanto vem mesmo da cor alegre que, nem por isso, perde a maldade das maçãs vermelhas. Enfim, maçã verde! Nunca parei para pensar se já conheci uma pessoa-maçã-verde, talvez por idealizar muito a fruta. E prefiro não o fazer: maçãs verdes não me decepcionariam, mas, pessoas, sim. É como gostar muito de roxo e ver que uma pessoa super rosa-choque se acha uma pessoa-roxo... Não, não é a mesma coisa. Só quem é devidamente uma pessoa-roxo entende. No momento em que me encontro, não sei a minha cor. Talvez esteja entre lilás e cinza. Eu fico pensando nessas pessoas que querem que tudo seja metodicamente perfeito, de forma forçada e doentia - não acho que a felicidade deva ser planejada: ela acontece. Acontece como um produto de fatores e escolhas que contribuíram pra isso. Hoje vi uma garotinha feiosa na televisão: ela parecia que não tinha pescoço, mas tinha um nome lindo (London). Tem nomes que já agregam características aos seus donos, e London é um deles. Mas acho que um dos mais carregados de alguma coisa, um dos mais fortes, é Emily: eu adoro Emily - para mim, ele é verde e um pouco triste, contornado por inocência infantil (e um pouco da crueldade dos pequenos também). Uma música diz que nada pode ser mais cruel do que uma criança. Eu não penso nada em relação a isso - se eu concordasse, seria uma cretina. Já falei disso por aqui, eu acho. Já falei das pessoas que não olham para trás e dessa música da Sonata Artica, pelo que me lembro. Eu sinto falta de não ter um cachorro, e falta de ter apego com alguém de poucos anos. Poucas crianças não-fictícias me marcaram, eu acho: a irmã da Isadora, um primo e uma pequena de Israel (na verdade, essa última me rendeu muitos pensamentos e momentos legais). E o primo de uma amiga minha - mas acho que, nisso, houve influência de um filme. Às vezes, parece que eu sou meio anormal, meio robô. Eu sou do tipo que olha para trás, que guarda tudo que é tralha, que sabe que existe a música certa para cada ocasião, que tem medo de coisas banais. Me surpreendo quando não falo o que sinto vontade de dizer, assim como fico dias me culpando por dizer alguma besteira que sai da boca para fora. Eu diria que as mesmas pessoas "orgulhosas demais para se desculparem por dizer besteira" são as mesmas que insistem em não olhar por cima do ombro em despedidas - talvez por que sofram com isso. Ok, não faz sentido. Não existe lógica nessa divisão: tem coisas que a gente faz por fazer, faz por hábito, faz sem querer, faz sem pensar, simplesmente faz. "Simplesmente faz". Como "simplesmente fazer falta". Essa deve ser uma ação intransitiva, seja lá o que isso quer dizer. O fato é que as pessoas precisam de um pouco mais de cor, um pouco mais de poesia e sensibilidade. O último olhar torna tudo um adeus, isso é muito perturbador. Oh céus, preciso de um bom livro com cheiro não tão bom, de um cachorro (de preferência pequeno e branco, ou um labrador, ou um yorkshire) e de maçãs verdes numa cesta bonita e florida. Ora, que cena forçada. Combinaria mais com uma Emily jovem. Uma London não trocaria as calças jeans gastas e a poeira do asfalto para um passeio no parque - London é um nome urbano e azul-petróleo demais. Eu arriscaria dizer que quem é London não olha para trás, ao contrário das Emily's. É isso: as pessoas estão divididas em London's e Emily's. E só."


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