terça-feira, 19 de junho de 2007

A injustiça das Redomas de ferro.

Ela sugeriu que, como várias pessoas, eu esteja buscando uma tentativa de auto-análise ao desejar algo com tanta ansiedade. Claro que era de se esperar uma atitude assim... por mais diferente que achamos que somos não podemos esquecer que nosso conteúdo se limita ao que o lado externo de nosso corpo é capaz de transmitir. Isso pode soar como uma característica completamente de caráter negativo, porém não é: faz parte do personagem de cada um por em jogo ou esconder determinadas características. É péssimo encarar a tal mulher e ter de concordar com suas afirmações apenas para não parecer excessivamente teimosa ou coisa que o valha. A partir do momento em que os sintomas apontados são relacionados com a puberdade, torna-se um grande empecilho desviar esse caminho a fim de apontar para uma nova direção... quem sabe falar de outras pessoas hoje?
Eu não saberia muito o que falar dos meus amigos. Tudo o que eu digo é entendido como uma crítica preconceituosa. Os pontos que tornam as pessoas que eu gosto queridas para mim - ou, simplesmente, diferentes da massa - são coisas que, no fundo, não importam senão para mim. São pessoas como as outras, porém especiais porque souberam se posicionar na minha vida sem pretensão, apenas fazendo-me abrir os olhos, conhecer novos mundos - e, através de uma ampla área de importância, permaneceram intocáveis com o passar do tempo. E se eu dissesse que tenho amigos com quem não mantenho nenhum tipo de contato físico? Não ver uma pessoa significa não conhecê-la? Sendo assim, todo cego seria solitário. É preciso convivência? Logo a principal causadora de problemas? Talvez... mas porque não abrir sua vida para uma pessoa que manterá o mesmo laço de sinceridade que você? Tão mais seguro, mais simples e não menos bonito.
Ela lá citou esse blog em um de seus monólogos intermináveis. Sua risada é do tipo que pode tanto gerar prazer quanto raiva, talvez até um misto dos dois. A preocupação com o meu "público", com o que eu procuro foi tão elevada. Fez-me parecer uma colunista de uma revista importante, um jornal ou alguma coisa parecida. São pessoas normais, algumas como eu, que passam por aqui. Apenas isso. Não é preciso esconder nem escancarar fatos, apenas seguir meus próprios padrões de textos. Ela insistiu na idéia de que eu modifico as coisas para ser melhor compreendida. Não poderia negar isso, visto que a linguagem humana é baseada nisso, na necessidade de compreensão (na verdade, qualquer linguagem), porém impedi que ela continuasse suas insinuações de que eu tenho uma segunda personalidade apenas para o mundo virtual. Incrível como gente de outras gerações implica com a Internet.
Se fosse perguntado, sequer um instante, sobre o porquê de escrever, eu responderia de maneira egoísta que um dos fatores que mais auxiliam é a autoridade que a escrita manifesta. Não, você não entendeu bem. Assim... eu escrevo e você lê. Você não pode cortar minhas palavras, apenas condená-las em seu pensamento ou após um breve espaço de tempo, oralmente ou comentando no link abaixo. É ótimo falar sem que vozes mais altas interrompam o som da sua. Simplesmente isso já é algo bem satisfatório... Mas, claro, o deleite de escrever não vem exatamente daí. Enfim, cada um sabe o que o leva a gostar de certas coisas. Trata-se de uma resposta puramente individual.
Ah, sim!, eu falei pra ela da minha redoma. Fiquei feliz de encontrar - mais precisamente ontem - algumas interpretações que complementem a formação dessa idéia. Um vidro transparente que abriga uma vida. A criatura, dentro de sua imaginação, pode ser um daqueles clássicos peixes laranjas, um guerreiro nórdico, seu pai ou que for - ainda que não passe de uma criança. A mesma inocência que pode trazer um daqueles risos jovens que cortam o silêncio dos grandes também tem o dom de perturbar algumas almas. Já dizia uma música: "nada é tão cruel quanto uma criança". Com a mesma ingenuidade que essas descobrem partes do corpo, são capazes de alimentar a mais fina camada de apreensão.
Você olha para o mundo sem saber onde está, afinal o que o separa da realidade é uma barreira incolor, que por vezes reflete seus olhos arregalados. É tudo novo, tudo mágico. Tantas perguntas silenciadas com as mais vazias respostas... Nada é preocupante, dá-se um passo atrás do outro. A distância entre a queda e a dor é o choro. E, pronto, eis o intervalo! De repente o vidro se racha, com ou sem motivo. O Sol agora queima. A película branca que rondava a redoma se mostra gelada. Passa a ser frustrante tentar qualquer espécie de brincadeira - se você crescesse um pouco mais, continuasse a intolerar estas regras malucas, possivelmente seria escoltado até algum lugar bem diferente das florestas coloridas dos seus antigos sonhos. Aliás, sonho é algo que não cabe no mundo adulto. Talvez apareçam em alguns daqueles livros de auto-ajuda para mulheres gordas de quarenta anos, aqueles livros que tentam ensinar as pessoas a ser feliz em troca de algumas notas de dinheiro.
O que leva uma pessoa a vestir pantufas e aposentar as nádegas em frente a um monitor para inventar receitas de falsos sorrisos temporários? Talvez o cristianismo e todo o seu capitalismo esteja por trás disso. Ou não. Talvez o cara esteja escrevendo tudo o que aprendeu errando, dizendo coisas do tipo "não fume, não beba muito, aproveite os pequenos momentos, compre uma lingerie preta". Esses livros para mulheres de meia idade geralmente dizem para elas curtirem seus filhos e se aproveitarem da sua rica experiência de vida. Ah claro, você que está lendo o livro na privada está seriamente pensando em todas as lições que aprendeu... No fundo, livros de auto-ajuda só servem para deixar o leitor irado e aprender que não são essas porcarias que ditarão o que fazer ou não para se obter uma boa qualidade de vida nos poucos - ou muitos - anos que restam.
Alguns psicólogos parecem se graduar apenas para alimentar a idéia de que seus livros com monólogos otimistas e repetitivos serão bons. Todo mundo quer vender a idéia de que é o melhor. Eu, sinceramente, adoraria ler um livro que o próprio autor apontasse como uma merda. Mas, claro, seria alguma estratégia de marketing... Enfim, eu ando meio desiludida com a crítica das pessoas. O ruim é que meus argumentos são realmente fracos, do tipo "pessoal", onde eu sei o valor que têm e coisas assim. Seria infeliz eu colocar algumas idéias aqui para vir um ou outro jogar baldes d'água sobre a minha redoma de cacos colados. Diante de toda a enrolação eu me vejo pensando nos cara que estão em prisão perpétua. Hum, isso tem relação com o ambiente infantil de vidro...
Pois bem. É contra os direitos humanos condenar alguém a morte e todas essas coisas. Enjaular pessoas já é uma atitude um tanto quanto ignorante. Mas tudo bem, eu sou uma garota de dezessete anos sem voz e sem uma idéia melhor. Literalmente sem voz, porque eu estou com a garganta defeituosa. É bonitinho ver que alguns "apenados" - como eu vi no jornal e achei a maior graça - estão tendo a oportunidade de aprender algum ofício e essas coisas todas. Só que, enfim, eu não sei quem inventou isso de você cometer certos crimes e ser recompensado com uma cela gelada para o resto da vida. É puramente injusto em vários casos. Nessas condições, você encontra desde algum infeliz que abusou sexualmente de crianças e mulheres e enfim, executou alguns gestos agressivos com facas e afins até um doente que deu tiros em um homem famoso. Porra, eu odeio isso. Não que eu vá dedicar a minha vida defendendo os esquizofrênicos (hahaha agora imaginei uma passeata bem besta no centro, com uns amiguinhos de jaleco e uns pacientes de alguma clínica psiquiátrica local...) ou, sei lá, impondo que Jesus era um bissexual assexuado (ok, poupe-me de explicações)... mas, puxa vida, eu odeio pensar que o cara está lá até hoje porque matou um músico.
Sei lá. Mistura de Salinger com a infelicidade da Yoko Ono.
Eu já disse que se aparecer na televisão uma garota invadindo a casa desse cara serei eu. Talvez alguma garota infeliz e drogada ou um Mark Chapman da vida estejam comigo.
Enfim, tetos.
Ah, droga. Eu comecei a escrever muito feliz, porém me exaltei e estraguei tudo.
Quero conversar depois.

(desenho feliz que eu fiquei fazendo no Paint ontem. sim, a intenção era ficar bem infantil)

Um comentário:

Guilherme Gomes Ferreira disse...

Puxa puxa puxa, é fascinante ver como tu escreve de uma forma tão pessoal como vc disse, mas que cala tão fundo em mim...Decididamente eu não sou a melhor pessoa pra comentar aqui porque tudo que eu ler vou achar maravilhoso, mas esse negócio de misturar as tuas opiniões com as de uma outra pessoa que eu não conheço, é incrivel.
Sabe, não queria que a minha opinião fosse crítica tipo, "ah, a escritora Ivy escreve com estilo, e blá blá blá", mas sim dizer que a tua opinião é igual a minha, e que eu tb estou desiludido com os críticos por que todos querem parecer os melhores, e dizer o contrário é jogada de marketing...

Ivy, vc tava pensando em mim qdo falou o lance de 'amigos que não se tem contato fisico'? ah sei lá, não quero parecer pretensioso, mas tipo, eu achei muito bonitinho isso q cê escreveu de amizades verdadeiras mesmo não tendo sequer o contato fisico (se bem q a gente já se conheceu oummmm) mas eu achei muito muito bacana *.*

e quanto ao teu comentario no meu blog, cara, não tenho nem palavras, vc entende muito o meu ponto de vista, hahahaha 'Ivy - telepata'
huhsuahsuashaushau

bom ivysaura, tô com muitas saudades de vc, eu queria muito te ver de novo, e sinto saudades das nossas conversas sobre o Renato Russo...tu tb é uma guria incrivel!

nhááá beijo beijo! XD