sexta-feira, 4 de abril de 2008

All along the wall between us...

Girou a chave; a cabeça encostada na porta. Dois passos à frente e mais uma vez o gesto. Livrou-se da mochila, encostando-a na parede, ao seu lado. O peso sobre seus ombros continuou o mesmo. Sentou-se no chão, deixando-se escorregar lentamente. Os olhos baixos não tardaram a se fechar, apertados numa expressão quase desesperada. Consultou o relógio que trazia no pulso, tentando relembrar a função de cada ponteiro. Pensou em voltar, descer as escadas correndo, gritar declarações sob a chuva, no meio da rua - verdadeira cena de filme. Não eliminou a hipótese de fugir, caminhar em direção ao nada, só para se ver livre daquela humilhação. Humilhação? Tinha pena de si mesma, pena de como se colocava em problemas que antes não tinham razão para existir. Ficou estática, num desses momentos em que a realidade se torna uma tormenta, um labirinto de emoções. Já não sabia o que era real. Inspirava: desacreditava nos acontecimentos ainda latejantes. Expirava: num suspiro triste, próximo de um ganido, deixava a verdade tomar forma de dor. Não, as coisas não eram complicadas: eram diretas, isso as fazia difíceis. Muitas vezes é fácil não aceitar o óbvio.

Esticou as pernas; as mãos sobre as coxas. Olhou, lacrimejante, para o teto. O rastro de luz fez com que seu corpo se encolhesse, num abraço solitário. Aquelas palavras, a lembrança da própria voz dizendo coisas que agora já não faziam sentido. Como seria a vida, então? Deu um tapa forte no joelho direito, indecisa quanto às conseqüências: a sensação era de que tudo havia estremecido. Sentiu o vento gelado nas maçãs do rosto, o frio que vinha de dentro - que nenhum inverno jamais reproduziria. E se corresse? Adiantaria pedir para ser esquecida de vez, junto com seus dizeres? Sabia que, cedo ou tarde, seu olhar cruzaria com o de um estranho que, um dia, já fora um conhecido seu. Puxou a mochila para o colo, abrindo o zíper e apalpando o conteúdo. Entre os dedos, uma última carta. Desdobrou, mordendo os lábios, a folha úmida de papel. Passando o dorso da mão sob o nariz, começou a ler as frases em voz alta.

Os cabelos sendo puxados; os cotovelos sobre as pernas dobradas contra o corpo. Moveu-se várias vezes num movimento retilíneo, como se o ritual a acalmasse. De nada adiantou: pensou em inventar uma história, pedir desculpas, ir além do que sua seriedade permitia: seria tola como ninguém. Seria também enganada por um mundo de sonhos pelo qual nunca almejara, sabia. Desistiu da idéia, pensando em encarar os problemas com o peito estufado. Para quê? Mais punhaladas? Não, não suportaria mais um dia debaixo daquela tempestade. Dobrou a carta, devolvendo-a à mochila. Passou a ponta do cachecol pelo rosto, enxugando as lágrimas - de nada adiantariam. O relógio, dessa vez, pareceu mais solidário: dentro de alguns minutos não estaria mais apenas na companhia da sua sombra. Levantou-se, levando suas coisas para o quarto. No caminho de volta, percebeu seu reflexo no espelho do banheiro, cuja porta estava aberta. Abriu a torneira e deixou a água impiedosa refrescar o calor de sua pele. Que dia horrendo, pensou. Que dia... ímpar.

A maçaneta mais uma vez foi girada, seguida por um assobio longo e alto. Quem entrou na casa, encontrou uma garota alegre, que lia algum livro de geografia, dizendo estar satisfeita com o que comera ao chegar. A mochila repousava ao lado do seu corpo, sobre a cama macia.

Ninguém saberia dizer porque aquela tarde comum era única na vida de alguém(s).





4 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

O assassino ou assassina,da menina Isabela, abalou um país. Que jogou a menina do sexto andar de um prédio. Quem praticou esse ato contra a vida de um anjo, é um covarde que merece sai de circulação do convivo com a sociedade. Sou pai e esse crime bárbaro me chocou também. Imagino quantos pais, não ficou chocado com esse fato absurdo ocorrido em São Paulo, um estado com 40 milhões de habitantes. Espero, que o Ministério Público Estadual, apure esse crime e puna o criminoso desse crime cruel. Faço apelo que o Brasil se manifeste contra esse terror da violência, que abala os nossos corações. Atenciosamente: Manoel José de Santana (Manoel Limoeiro) E-mail: manoeljs127773997@hotmail.com
Esse texto esta sendo traduzido em Inglês, para divulgá-lo nos Estados Unidos da America.
Recife-PE. Brazil, 04 de abril de 2008, sexta-feira.

Ivy disse...

¬¬

O rapaz dos quadrinhos disse...

meio longo
mas legal
:D