terça-feira, 14 de abril de 2009

Something Stupid

Desceu a escada e, do chão, contou o quinto degrau onde, em seguida, sentou-se. Os pés não alcançaram o terceiro e ficaram balançando no ar. Aquele dia em especial não foi dos mais quentes - pelo contrário, até ventava. Nessas circunstâncias, o vento ficou ainda mais poético: talvez, o significado de mudança tivesse se estabelecido na cena como um todo. As pernas não muito esticadas e as mãos juntas, entre as coxas, deixariam - em breve - de serem novidades. Ela insistia numa expressão despreocupada, mas não sabia disfarçar sua ansiedade. Com o tempo, não mudou muita coisa: quando não eram as sapatilhas arredondadas a balançar sobre o terceiro degrau, eram os all-stars "cinzas" que lhe faziam companhia. E como combinavam aqueles calçados! Eram os mesmos pés a caminhar por aí, os mesmos pés a rolar pela cama. Às vezes, pareciam não ter começo nem fim - para dizer a verdade, quase sempre. Nem começo nem fim. Talvez uma história. Uma história musical. Mentira seria ela dizer não se importar em arrumar as palavras em parágrafos e mentira, também, seria ela dizer que toda aquela situação a deixava indiferente: ela sentia bem o que, há tempos, queria sentir - só não sabia descrever. E pouco importava o que seriam os dois dali em diante: dois erros, dois passageiros, dois estranhos e suas variações. Na verdade, sua certeza era essa: não eram estranhos um ao outro. As semelhanças, talvez, os remetessem à terceira idade - mas eram tantas e boas, generalizá-las seria inapropriado. Ela sabia que não precisava disso, de palavras e tentativas de estruturar um romance. Sabia, inclusive, que estava longe de conhecer o bastante sobre o cara que segurava as baquetas de um jeito engraçado: "que se foda essa mania de insegurança, fuck this shit". Frequentar o quinto degrau se tornou uma constante, bem como relembrar diálogos e expressões do quarto escuro. Sua surpresa, talvez, foi perceber que a ansiedade não diminuía e que, não importava o número de linhas, ela insistia em tentar explicar isso - escrevendo com letras, escrevendo com gestos. De fato, o que mais gostava era provocar aquele sorriso que não se perdia na sua memória. E levantar-se do quinto degrau, descer até o primeiro... Fechar os olhos, entrelaçar os dedos, sentir-se bem - como nunca. Aqueles all-stars "cinzas" não foram mais vistos sozinhos. E pensar em mudar isso não faz parte do plano.




4 comentários:

Ricardo Cavalera disse...

Ótimo texto pra se ler numa manhã de sábado fria.

Cazú disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cazú disse...

Eu sempre amei a forma que tu descreves as cenas.
A ríqueza de detalhes que tu empreguinas nelas.

Eu não curto fazer comentários "Babando o ovo" - acho tão piégas... Mas, mas eu acho teus textos lindos - daqueles que fazem a gente ficar segurando a mão com o rosto - enquanto são aparados pelo cotovelo - inebriando-se.

Em suma: Eu achei lindo - e não breguinha[¬¬]

E... Eu sempre quis dizer isso!

Beijos.

Cazú disse...

"Segurando o rosto com a mão"

Ai, que mongolão!

auhhasuasuh
Sabe, né - o propagocio é a alma da neganda!

enfinho...
Vou embora pra não causar mais despezas!
huasuhasuhasuhasuhsa