Você chega no shopping, senta na mesma cadeira de sempre, apóia seus cotovelos na mesma mesa de sempre, consulta o relógio. Restam, ainda, doze minutos de espera. Você suspira, passa a mão nos cabelos, olha aflito para os lados. Pode ser que ela já tenha chegado, não? Não, você sabe que não. Logo ela, sempre tão vaidosa... nunca chegaria cedo em um encontro marcado tão às pressas.
Passam-se vinte e três minutos, vinte e quatro, uma hora. Os ponteiros insistem em te deixar ansioso. Sua intuição avisa que algo está errado. Sua tensão o confirma por si só. Você checa seu celular, procura uma mensagem ou uma chamada que não está ali – afinal, ninguém ligou. Seus olhos passeiam pelo universo à sua volta... são crianças, velhos, jovens... os mais diferentes tipos de pessoa circulam pelo lugar. Todos desnecessários: você queria apenas ela.
Seguem, então, sua expectativa e suas frustrações, que só se acumulam com o passar do tempo. Ninguém atende ao telefone, ninguém parece vir ao seu encontro. Você então se levanta, mas retorna à velha cadeira, com medo de que ela chegue justo quando você não está ali. Ou então teme que um estranho ocupe seu lugar... isso já acontecera antes, mas em outras circunstâncias, você se lembra? Sim, você relembra coisas que achava ter esquecido. E o medo invade seus pensamentos.
Impulsivamente, você caminha até a lanchonete mais próxima. Compra um refrigerante qualquer e volta a bater os dedos freneticamente na mesma mesa. Você tenta se distrair, mas a lata já está vazia sem que você tenha percebido. Sua atenção corre de pessoa para pessoa e, a cada novo andarilho que cruza seu olhar, uma nova esperança surge. Você confere o relógio uma última vez, num misto de insatisfação – tristeza - e raiva.
Você fecha os olhos por um instante, mergulhando assim numa deliciosa sensação de perda. Sim, você está sozinho agora. A ausência da moça confirmou que tudo acabou – sem nem mesmo ter a chance de se estruturar. Você empurra a lata à sua frente, que bate na mesa provocando um baque surdo. Mais uma vez você está em pé, agora decidido a ir embora. Você dá um, dois, três passos amargurados - e, no terceiro, avista-a descendo as escadas apressada. Em sua face se projeta um sorriso e, como você vê, toda a espera não foi em vão.
Eu sou a garota da mesa ao lado que, enquanto brinca com outra latinha vazia, se diverte adivinhando seus pensamentos.

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Eu usava em resposta ao "quem sou eu", no Orkut, há uns dois anos atrás.
(sem título) - 28.01.2007