segunda-feira, 22 de junho de 2009

Esponja.

Quando eu nasci, o famoso Deus não me disse nada. Nem olhou pra mim. São muitas as pessoas que nascem a cada segundo e eu não seria digna da visita divina - mesmo com todo o poder da onipresença. Um cara com uma prancheta colou uma etiqueta adesiva na minha testa. Anos mais tarde, puder ler "esponja" na etiqueta, com o auxílio de um espelho velho e quebrado. Velho e quebrado como eu. Eu nunca soube expressar o sentimento de "ser" uma esponja - talvez seja esse o motivo pelo qual eu recebi essa maravilhosa palavra como adjetivo. Esponja... pensemos o que uma esponja faz: ela engorda e emagrece, freqüenta lugares imundos, fica imunda, recebe duchas de água gelada seguidamente e, por vezes, é trocada por uma esponja melhor. Que merda de vida. Não sei se poderia escolher entre ser uma esponja brasileirinha, do tipo verde-e-amarela que faz a alegria das donas de casa, ou uma esponja mais especial (lilás, de banho, delicada ou com motivo infantil) - o fato é que não me mostraram outra opção. Deus mandou eu ser uma esponja e cá estou, ensaboando essa pilha de problemas. O cara da etiqueta nunca mais apareceu e eu cultivo uma certa esperança de que ele, um dia, vai colar um novo papel na minha testa. Talvez esteja na hora de uma nova pessoa ocupar meu lugar. Mas, talvez, essa demora se deva ao fato de eu estar executando bem meu trabalho ridículo. São muitas as pessoas que nascem a cada segundo e eu não continuaria sendo uma esponja se o que eu estivesse fazendo fosse tão ruim, não é? Não é? Deus deve saber o que faz. Afinal, ele é Deus - o famoso Deus: onisciente, onipresente... Maldito foi o dia em que eu peguei aquele espelho!

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