sábado, 10 de fevereiro de 2007

Pandora's Box

Esticou os braços de tal forma que sua camisola de flanela inglesa, reflexo da mais pura ingenuidade, deixou a mostra suas pernas de menina. Por um momento, se esquecera que o banco em que firmava os pés era frágil demais para seu tamanho... perdeu-se no doce sabor da curiosidade. Tão pequena e tão humana... tão certa e tão errada... A caixa, no topo do armário, não lhe chamava atenção alguma - até que um dia lhe foi proibida.
A madrugada fria não lhe impedira de tentar, mais uma vez, provar das maravilhas que se escondiam naquela caixa. Tanto silêncio era motivo de música. Tanto mistério tornou-se o estopim daquela travessura... maldita travessura. Os dedos magros e curtos, tomados de vontade e anseio, tateavam a prateleira numa busca incansável pelo desconhecido... desconhecido desejado.
A pele alva e sardenta, coberta por fios do cabelo acobreado, já não mais exalava a solidão. Pois, na busca dos prazeres, na construção do alicerce dos sonhos, Pandora descobriu o mundo. Pandora descobriu a vida e a morte... e a magia do surreal. A caixa agora deslizava por suas mão pequenas. Ganhara a cor vermelha, ao sair das sombras em que se encontrava.
A camisola de babados agora já não dizia nada. Rosa já não simbolizava a feminilidade nem o amor. Os olhos da menina fundiram-se com o brilho que se libertou da caixa. O laço de fita negro e a tampa envernizada que encerravam aquele segredo foram atirados ao infinito maravilhoso daquela sala, que já não era sala. Um cheiro de terra chegou ao estranho sorriso da menina. Sorriso de menina travessa.
O conteúdo do desconhecido pesou nos braços da pequena, que num ímpeto de desequilíbrio deixou que a caixa tocasse o chão. Tudo se libertou. Tudo o que não deveria ter se libertado agora voava com esplendor. Ganhava formas, ganhava asas... deixava, aos poucos, de ser fantasia.
Pandora sentiu medo da gargalhada sombria que ouviu. Era sua voz... que agora invadia seus ouvidos como rajadas de espinhos. A caixa estava agora distante... mais do que antes já estivera. O banco já não era o que separava o chão do céu, mas o que a limitava nas fronteiras do inferno.
"Se esconda, Pequena Criança. Se esconda, menina Pandora."
Seus sonhos nunca mais foram os mesmos.
Seu mundo, agora, é uma caixa vazia de sentimentos.
Vazio de sentimentos agora recheavam uma camisola de flanela... tão inocente e de olhos tão tristes. Pandora já não reconhecia sua voz, nem a pedra do anel de sua mão. Nem os dedos longos e a pele rosada nas maçãs do rosto. O tempo voara tão depressa... ganhara formas e cores... ganhara a inocência perdida, perdida naquela tarde de chuva.
E agora se sabe que a noite é uma criança... uma criança travessa, sem medo de ver. Pura curiosidade e desejo, pura brincadeira - mas toda brincadeira um dia acaba.
"Foge, Pandora, foge."

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando a curiosidade nos sugestiona mais do que devíamos, encontramos e fazemos coisas coisas das quais que nos arrependemos depois de feito.

Mas isso não importa em certa parte, se tu já perdeu o amor pela vida. Qualquer mudança é aceitável, e allgumas vem para bem. Mas outras....

Acho que saquei essa =]
;**

Stigger disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.