terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

pt. 7

- Bad, bad server. No donuts for you.
- Hum?
- Que trabalho mais porco, Antoine! Eu te disse para convencê-la a voltar, não para ameaçá-la. Isso eu faço.
- Ah... o que importa é que ela está aqui.
- Eu digo o que importa. Você fica quieto.
Arthur levantou-se de imediato, dando passos pesados. Pisou numa barata que há muito tempo andava pela sala silenciosa. Chutou a pequena massa marrom para um corredor empoeirado que se formou entre duas caixas de papelão. Alisando a franja loira e cinza, caminhou por um tempo em volta da mesa e das cadeiras.
- Eu preciso saber do que se trata... não dá para trabalhar num projeto cujo objetivo é desconhecido...
- Não seja por isso, eu te deixo de fora.
- Ah, não incomoda, Arthur. Você sabe que é o mínimo que pode me oferecer...
- O mínimo? Menino, você já está indo longe demais... já não basta começar com uma função de nível médio?
- "Função de nível médio"?! Olha, levar comida para seus reféns, catar documentos e me disfarçar disso ou daquilo para seus amigos não me parece nada muito lucrativo...
- Você sabe da existência de reféns, conhece-os, sabe com quem tenho contato, tem acesso a quase todos os documentos que me colocariam atrás das grades... conheço muita gente que daria o sangue para estar no seu lugar.
- Grande merda.
- O que você deseja? Dinheiro, poder? O que exatamente você quer
?
- Eu quero fazer parte disso, do que você está criando. Se for para viver desse trabalho integral e correr riscos, prefiro saber o que estou fazendo.
- Até onde você vai, meu caro?
- Até onde sou capaz.
- Então use a cabeça e não as mãos. Siga o conselho que deu à menina.
- Do que você está falando?
- Fazer parte do meu plano depende de você, não de mim.
- Então é só isso? Descobrir do que se trata?
- E, claro, não se deixar incriminar. Você não é o único que quer sentar na minha cadeira, você sabe disso.
- Hey, eu não quero ocupar o seu lugar!
- Quer o lugar do gordo, eu sei.
- É.
- Sabe... se te conforta, garoto, pense que sou eu a Lei desse lugar. Não existe errado ou certo, existe a minha palavra. E eu te dou crédito, você sabe. - Arthur girou a maçaneta da porta, abrindo-a. - É só usar a cabeça...
Antoine continuou sentado, batucando os dedos no braço da cadeira velha. Esperou o barulho dos passos do chefe se perderem corredor afora, então se concentrou nas suas tarefas. Estava na hora de levar o almoço de Agatha. Há dois, três dias atrás, era ele quem voltara com ela do centro da cidade, onde ficava o apartamento pequeno do tapete de pelúcia. Agora - só percebera ao subir as escadas que davam para o quarto espelhado -, era ela quem parecia ditar as regrar: o lugar estava vazio. Nenhum sinal de vida sobre a cama muito-bem arrumada.
- Droga.
Desceu um, dois degraus. Do terceiro em diante, apenas a escuridão seria sua companhia. Conhecia aquele labirinto melhor do que qualquer pessoa. Voltando para a cozinha, percebeu uma luz fraca vindo de algum quarto ao fim de uma estreita estrada de pedregulhos. Sem janelas, refrigerada, subterrânea e silenciosa: assim era a casa misteriosa projetada por Arthur.
Chutou uma ou duas pedras pelo trajeto e seguiu até a saleta - onde uma silhueta familiar estava parada, sustentando um candelabro na mão. Os cabelos claros bagunçados caíam sobre o rosto angelical, que estava longe de retratar um sorriso: Agatha estava na ponta dos pés, olhando com atenção cada milímetro da parede coberta de papéis amarelados. Estava chocada, tremendo, com os olhos vidrados. Ao perceber Antoine, empurrou-o com força.
- Que porra é essa?
- Calma, calma! - Ele imobilizou-a, segurando-a pelos braços fortemente. - O que foi?
- O que foi?! O que foi?! E você ainda me pergunta o que foi?!
- Hey... - Ela se jogou no chão, sentou sobre os pés e largou o suporte das velas, colocando as mãos na cabeça. - Não arranque seus cabelos, não faz isso! - Antoine entendeu o porquê da cena dramática: os jornais forjados seriam usados em algum momento, isso era um tanto previsível. Segundo as folhas, Agatha morrera há dias, vítima de si mesma. "Tantas tentativas de suicídio não poderiam falhar eternamente...". O cadáver fora encontrado no chão da cozinha, por uma amiga mais velha que suspeitava das atitudes da menina. Nem família nem amigos procurariam seu corpo, sequer desconfiariam da autenticidade da notícia.
- Eu morri! Eu morri, Antoine! Como eu vou sair daqui se, lá fora, eu morri?
- Calma.
- Calma? Antoine, ninguém se importa! Você não entende? Não faz diferença nenhuma!
- Você tem uma vela e um pedaço de ferro enferrujado.
- Eu não vou morrer aqui, não assim!
- Tanto faz, para eles você não existe mais.
- O que eu faço?
- Volta pro seu quarto. Está na hora de você comer.
- Eu não quero, não quero! - Ajoelhou-se na frente do jovem, com olhos de súplica. - Me diz que eu vou sair daqui e tudo vai continuar normalmente, como se nada tivesse acontecido. Me ajuda... me ajuda...
- Isso não depende de mim.
- Me ajuda... - Os soluços irritaram Antoine, que puxou a garota pelos cabelos.
- Você vai levantar, voltar pra sua cama e parar de chorar. Isso não resolve nada.
- Me larga, me larga, seu doente! - Ela se desvencilhou do corpo musculoso do rapaz e recuou alguns passos.
- Agatha, eu quero que você fique bem tanto quanto você quer...
- Eu duvido! Duvido! Você e aqueles velhos, vocês querem me deixar louca! Louca!
- Isso seria fácil demais...
- Pára! Não agüento mais seu joguinho de palavras!
- O que eu falo é real. Se você quer insanidade, eu te ofereço numa pílula.
- Eu quero me ver livre desse lugar!
- Faça por merecer.
- Que droga, me deixa ir embora!
- Vai pro quarto! Você sabe o caminho.
- Eu não quero ir pro quarto! Eu tenho direito a uma explicação!
- Se você não faz perguntas, não pode ter as respostas.
- Basta, Antoine! - Uma voz ríspida invadiu o pequeno quarto. - Se ela quer falar comigo, é para isso que estou aqui. - A voz de Arthur ecoava, produzida pelas pequenas caixas de som que se espalhavam no teto do cubículo empacotado. Agatha, que continuava a tremer, encarou Antoine, apreensiva. - Vamos, criança, siga Antoine. Ele te conduzirá até a minha sala.




Um comentário:

Guilherme Gomes Ferreira disse...

Sabe o que eu acho? Que tanto o Arthur quanto o Antoine estão se apaixonando pela Agatha hauhauhuahau

Cara, que master blaster essa sua história! Sério, podias escrever um livro policial, de suspense hááá

Reli desde o começo e ahn que maldade, a Lorah morreu! Mas eu ainda acho que a Agatha vai terminar chefona de toda essa organização hahahahahahaha

beijão Ivy!!!