____Ainda não era noite quando ele bateu a porta da casa. Saiu andando com as mãos nos bolsos do sobretudo, franzindo a testa para o vento carregado de folhas secas. Os cabelos curtos e pretos ficaram bagunçados e ele já nem lembrava quais eram seus planos para aquela hora. Caminhou por cerca de seis quadras ainda se perguntando suas motivações.
_____Certa movimentação naquela rua pacata chamou sua atenção: uma casa branca, de paredes rústicas - luzes acesas e barulho. Tocou a campainha sem pensar e, apesar de ficar surpreso com a rapidez com que a maçaneta girou, não deu sequer um passo para trás.
_____"Oi." Não reconheceu a garota no primeiro instante, mas logo que parou de sonhar acordado e fixou os pés no chão se deu conta de que talvez não fosse o melhor endereço para se estar. "Ah, oi." Olhou para o interior da casa, onde um grupo de cerca de sete pessoas parecia entretido entre copos, garrafas e almofadas.
_____"Hnm. O que você quer?" "Eu? Não, nada." Sentiu-se um verdadeiro idiota por estar ali. As pessoas que se divertiam na sala nunca foram agradáveis - isso não seria diferente agora que ele não passava de um ex-namorado de uma amiga delas. "Sabe, talvez você não queira acreditar nisso, mas eu saí de casa sem um propósito e vim parar aqui."
_____"É, isso é estranho. O que foi isso? ...Saudade?" "Não, não! Ah, desculpa, mas não... Sabe de uma coisa? Eu não te disse isso quando deveria, mas eu quero que você seja feliz. Feliz de verdade, entende? E, mesmo com todas aquelas coisas que a gente disse um pro outro... mesmo eu tendo gritado e você... enfim, mesmo depois de tudo que a gente fez, eu acho que você é uma garota legal e eu realmente espero que você encontre alguém que possa te fazer feliz."
_____"Ah... ok. Senti tua falta, sabia?" "Não, não sabia. Mas também não quero saber. Você foi importante pra mim e nunca vai deixar de ser. Eu me importo e é só." Ele virou as costas, passou o dorso da mão direita na testa e repousou um dedo sobre o queixo. Seu tchau se resumiu a um olhar abandonado para a casa, onde, na porta, estava uma garota encolhida, abraçando o próprio corpo e observando o único andarilho daquela rua se afastar.
_____Não dissera uma mentira: não pensava em enfrentar o frio da cidade para reencontrar rostos há muito não vistos. Por dias se perguntou sobre o real estado da garota da casa. Melhor estar com aqueles indivíduos do que completamente sozinha... Não sentia sua falta, nem desejava sua companhia. Continuou andando sem destino, se revoltando com a falta de inocência que qualquer um teria sobre sua última atitude impensada: que mal há em ser sincero?
_____Quando chegou em casa, avistou uma folha de papel que fora deixada em frente à porta, sob uma pedra de jardim. As palavras foram selecionadas com tal cuidado que a mensagem deixou de ser natural. Preferia ter recebido uma visita patética, tal como foi a sua. Conversar, recordar um sorriso ou uns olhos brilhantes. Reconheceu que aquele fora o jeito da garota de se expressar. Talvez isso mostrasse o quão diferentes eram. Ou, talvez, apenas significasse que nem sempre se mostrar indiferente é o que se quer.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
us.used
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