segunda-feira, 28 de maio de 2007

O Apanhador No Campo De Centeio

http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=633
http://www.screamyell.com.br/literatura/apanhador.htm


Fazendo uma pesquisa, de leve, pelo Google (tudo começou no setor de imagens, depois sim foi para a busca de artigos mesmo) encontrei alguma coisa realmente satisfatória sobre The catcher in the rye (O Apanhador no campo de centeio). A maioria dos sites trazia sinopses e resenhas muito ruins, que limitavam a interpretação do livro, sugerindo apenas que o protagonista - e o livro é narrado em primeira pessoa) - é um adolescente inconformado, " que leva bomba na escola" e é incapaz de largar suma máscara pessimista, que chama por Realismo.
Eu acho esse tipo de afirmação ridícula. São pessoas que lêem um livro sem emoção nenhuma, como se isso fizesse parte de uma rotina bem mecânica e chata. Óbvio que existem alguma "leituras obrigatórias" ou de assuntos desinteressantes, que por vezes temos que fazer por algum bom motivo... Mas, por favor, isso não impede o leitor de tentar se aprofundar na leitura, buscar intensidade. Já que você 'tem que ler' algo, então leia com vontade.
Li uns comentários bem argumentados, demonstrando opiniões bem diferentes das minhas e, como toda pessoa teimosa e fã de alguma coisa, confesso que fiquei meio desapontada. Mas tudo bem, de fato se eu gosto tanto assim desse livro melhor para mim... pois nem todos podemos compartilhar da mesma visão de mundo e isso, no fundo, é um previlégio. Não me importo que gostem de outras coisas, contanto que respeitem meu gosto. Pelo menos essas pessoas se expressaram de forma bacana, ao contrário de uns internautas bem troxas que conseguem se achar superiores grifando informações erradas... quer xingar, tudo bem, mas pesquisa... é muito chato lidar com críticas mal intencionadas e formuladas. É, digamos que eu levo algumas coisas para o lado pessoal, ainda que eu não tenha direito disso...
Há uns três anos, por aí, eu li cerca de duas vezes o título desse livro em flogs de amigos. E, como a maioria das pessoas que eu conheço, julguei o 'O Apanhador no Campo de Centeio' como sendo algo totalmente chato, aparentemente descritivo e naturalista - é, eu não gosto de coisas naturalistas. "Campo de centeio" eu achei o fim da picada. Tratei de imaginar um romance bem brega, com uma mulherzinha guardada pelo pai fazendeiro ou coisa que o valha. Enfim, me parecia no máximo a biografia simbolizada de algum cara do campo bem entediante.
Me disseram que o Holden (Caufield, o personagem principal) era bem - mas bem - parecido comigo e, gerada a curiosidade, eu fui atrás do maldito livro. Não é grande, sabe, é bem gostosinho de ler. Linguagem bem informal, humor negro, mensagens subliminares. No fundo, gostei também dos vários pontos de vista que ele pode retratar... você pode chamar o Holden de homossexual (o que eu não concordo, mas enfim), carrancudo, Arthur Rimbaud, garoto inocente e covarde, herói dos jovens (que brega isso), vilão dele mesmo, cara pessimista e ranzinza ao extremo ou, sei lá, riquinho vagabundo. Nenhuma das afirmações está totalmente errada, nem totalmente certa.
Eu acabei de ler bem maravilhada com toda a história, que é do tipo que narra pequenos acontecimentos com toda a cobertura de pensamentos misturados do personagem. Ele tem uns dezesseis, dezessete anos, "estudava" em uma escola só para garotos, mantinha uma admiração pelo irmão falecido e pela irmã mais nova. Não é uma história narrada como uma aventura, é algo totalmente parado no tempo, bem mórbido. É tudo muito triste, como também é tudo muito verdadeiro. Eu compartilho da mesma visão de mundo do Holden, então eu me senti mega depressiva com toda a história. Ele acaba em uma clínica de recuperação.
Eu não quero isso, eu não sou nenhuma louca. Ou eu sou, mas do mesmo jeito, eu não quero isso. O cara que matou John Lennon justificou o assassinato com o livro... eu gostaria de ter conhecido esse sujeito. Problemas mentais a parte, eu sinceramente gostaria de presenciar o que ele sentiu e coisas assim... É verdade que o livro, apesar de te confortar, te deixa pensando sobre várias coisas... mudar, fazer alguma coisa, buscar um sentido, dar valor para as coisas pequenas, saber observar as pessoas, aprender com elas, lidar com elas, não provar do veneno delas... simplesmente não se corromper.
O livro foi escrito há um tempão e continua sendo super atual. A não ser algumas questões mais filosóficas, que eu particularmente adorei ("Para onde vão os patos desse lago quando chega o inverno?"), são abordados temas diversos... desde o modo como o universo masculino interage com o feminino até pequenos detalhes, como as atitudes irritantes e que nos fazem sentir pena - ou diversas outras emoções - sobre determinado alguém. Bebida, música, fortões sem conteúdo, prazeres e desprazeres... a maneira como tudo é padronizado, como somos levados a seguir a tendência e nos sentirmos culpados com o contrário. Enfim, pela vigésima vez, só posso dizer que o livro é muito bom.
Eu conheci, nas férias, um cara igual ao Holden (não, eu não me apaixonei por ele, fiquei apenas na admiração). Certo que eu pentelhei muito ele para ler 'O Apanhador...' e, feito isso, a gente passa grande parte do tempo - até hoje - utilizando o livro ao compararmos nossas visões - praticamente iguais - de mundo. Eu conheci outro sujeito que até tinha algumas características do Holden, quando eu dava umas assistências bem trouxas no Orkut, do tipo aceitando no Msn pessoas que desejavam conversar sobre elas mesmas e buscar a análise de outras pessoas. Eu concluí que esse último cara, daqui uns três anos, apareceria numa foto no jornal de Minas Gerais, sob algum título de assassinato ou sei lá. Eu disse isso pra ele e, a partir dessa conversa estranha, viramos 'grandes amigos por um período'. A gente nem mantém muito contato agora... talvez eu tenha perdido a paciência, talvez seja pela dificuldade em conciliar horários... enfim.
O 'cara igual ao Holden' me mandou uns três scraps discutindo algumas coisas de caráter religioso que eu postei em uma comunidade de Ateus (eu saí da comunidade, pois aquilo parecia um concurso de xingamentos e não uma central de discussões. Fora que, espiritualmente falando, eu evoluí muito.). Inicialmente a gente não teve uma impressão boa um do outro - ele achava que eu era uma crente ignorante por não postar lá como a maioria dos ateus e eu não sabia o que ele pensava da vida, porque foi tudo realmente agressivo e do nada.
Um dia ele excluiu um dos scraps que ele tinha me mandado, quando eu estava respondendo ainda... isso me deixou bem irritada, porque eu estava prestes a retrucar tudo o que ele me disse com enorme prazer. Começamos a nos falar por Msn, justo num período de extrema bagunça na vida dos dois. Historinhas de desencontros amorosos, pés-na-bunda, música, química, marcenaria, comida, escola e muitas semelhanças no nosso mundo anti-social por opção. Sei lá, a gente tinha ficado um tempo sem se falar e, num dia desses, de repente, conversamos um monte e foi muito emocionante ver o quanto mudamos, o quanto a vida dá voltas e coisas assim. De um lado, muita maturidade, segurança, autonomia, novos obejtivos... do outro, dúvidas novas, estabilidade emocional, mais seriedade. Ui!
Agora nem sei porque fiquei falando isso tudo. Na verdade minha mãe me perguntou o que era "The Catcher In The Rye" entre as minhas comunidades... Daqui uns tempos eu explico pra ela, em forma de tatuagem (hahaha)... Enquanto isso eu me limito a sugerir o livro para as pessoas legais. Mas meu tempo acabou por aqui. Minha vida nerd me chama. Falando nisso, tem Simulão sábado - com o Gui! No mais, só digo que eu tenho estado melhor do que nunca - agora com noção e certeza do que eu falo. De fato, é realmente ótimo quando você se esforça para algo dar certo e tem bons resultados... e, sabe, o final de semana foi perfeito.

Um comentário:

Guilherme Gomes Ferreira disse...

háááá depois desse post eu baixei o livro pra leeeeer XDDD