terça-feira, 5 de agosto de 2008

Relationships.

Não que eu ignore os princípios da poligamia, mas eu realmente vejo as coisas a partir de suas interações com outras, duas a duas - e, mesmo num sistema onde as trocas sejam mútuas entre mais indivíduos, a situação das duplas está presente integralmente em cada núcleo. Num mundo onde a máquina tende a dominar o homem, seu criador, não entendo como este não se mostra eficiente no controle de suas ações e julgamentos - a evolução do ser racional parece não abranger todas as áreas dos seus pensamentos. Falar em emoções é mais fácil do que compreender o universo que as envolve, porém de nada custa observar alguns fatos desse amor mundano a que todos estão acostumados a presenciar.

Se antes o casamento selava um acordo entre nobres por razões claramente econômicas, com o tempo recebeu o ar do romantismo merecido, ganhando espaço no sonho das virgens inoce
ntes e outras mulheres não menos dignas: uma pitada de religião ao ciclo da vida. Nada mais comum do que procurar alguém para dividir as contas do fim do mês, a cama e as eternas conversas - infinitas até que a morte os separe, para realizar a façanha de ter filhos e concretizar planos que não saíram do papel por falta de motivação. No fundo, o casamento é um fruto do desespero, um ato rotineiro e vazio que busca estabilizar certezas que, bem, não são certas. Prometer amar alguém diante de todas as situações, ao longo dos anos, por motivos momentâneos - e ainda assinar por isso - é algo que realmente deveria ser levado a sério, ainda que beire a loucura. Independente da existência de um deus, as pessoas temem a maneira como vão morrer, se estarão sozinhas, quem se importará, essas coisas... Assumir o compromisso de eterno companheirismo tem o poder de confortar, ainda que hoje em dia seja muito mais recompensador se ver livre de um relacionamento do gênero... Enfim.

O casamento não encontra mais base na sociedade que vem send
o construída e isso pode ser visto na imaturidade e na forma precoce com que jovens e experts no assunto se relacionam. Desde muito cedo, por motivos diversos, cada pessoa cultua a outra como se fosse um produto descartável, às vezes útil, às vezes invisível, o que está presente em várias relações. A intensidade do problema é maior quando o indivíduo busca como aliados pequenos sintomas de seu descontrole, entre os quais o famoso ciúme e desejo de reabastecer seu ego com bons e novos elogios. O jogo de receber cuidados é perigoso, uma vez que nem sempre o encantamento é recíproco. Ainda assim, mesmo nos casos onde ambos os envolvidos se dizem apaixonados, não é raro o tratamento de "propriedade privada" que um recebe do outro - a velha história de querer ser o um entre um milhão, de não se contentar em ser o escolhido e tratar todo o resto como inimigos na guerra. Nasce, então, um sentimento de insegurança que, quando não é suprimido, é alimentado por uma série de acontecimentos muitas vezes irrelevantes e que, mal interpretados, dão início aos abalos na relação do casal.

Em outras palavras, é realmente irônica a experiência de exigir da "pessoa amada
" algumas mudanças, bem como afastá-la de sua vida social - uma vez que somos todos uma mistura de valores e sensações, de preto e branco, o que pode ser defeito para uns tende a ser bem-visto por olhos diferentes e exigir perfeição de alguém, em qualquer hipótese, é sinônimo de se afastar a passos largos da possibilidade dessa existir. A idéia de moldar algo a seu gosto é viável, mas somente para coisas inanimadas. Resquícios de experiências passadas podem ilustrar essa idéia.

As pessoas se habituaram a falar o "para sempre" o tempo todo, a não pensar que o amanhã traz impossibilidades - ou que nem este sempre chega. Agem com tanta simplicidade ao reclamarem dos problemas que tem que enfrentar ao longo dessas interações humanas, mas ignoram que desprezam a razão em momentos oportunos. É mais fácil ouvir o coração, o som do perigo, desarmar as preocupações com a certeza de que as imprudências sempre são saborosas - até provar do amargo, do azedo, do lado podre das emoções. Primeiro, o auto-conhecimento, depois o descobrimento do outro, do sexo oposto (ou não), do diferente, do que pode te complementar ou desestruturar: as coisas andam acontecendo de forma invertida, formando-se primeiro os laços para depois perceber os nós.

Sufocar o outro é uma das conseqüências de um problema puramente individual, onde o indivíduo deve ser capaz de perceber em si os erros a serem corrigidos. O homem não está mais acostumado a dividir, uma vez que desde cedo é ensinado a crescer diante dos medos, a enfrentá-los bravamente, sem tomar conhecimento de sua origem - podando o mal ao invés de arrancar-lhe as raízes. E, então, são cada vez mais numerosas as famosas desilusões, que tanto inspiram músicos e outros artistas, mais incompreensíveis e perturbadores os desfarces que algumas mentiras encarnam e, óbvio, mais frios e rápidos os relacionamentos. São crianças que brincam de adulto e adultos que insistem em serem crianças: a bagunça já está formada.

Uma das razões para a incompatibilidade é o famoso egoísmo - mas, em tempos de felicidade, ceder não parece ser uma tarefa árdua. Defender idéias também não é perigo quando se sabe com quem está lidando e o que está sendo dito - acredito que muitas confusões vem da não-reflexão das futuras situações inesper
adas (cabe nessa chave a vantagem do auto-conhecimento). Como última coisa a ser observada, nada é mais importante do que a tão discutida confiança - que se estabelece com o tempo e a certeza involuntária e ímpar de cada um da dupla.

Eu espero não ver mais sujeitos enrolados com fios no programa da Márcia, respondendo se traiu ou não a esposa, nem testes banais em revistas de meninas sobre a fidelidade ou a veracidade dos sentimentos "do gato por você", mas isso é apenas um daqueles desejos que estão bem longe da realidade. Até lá ainda vou ouvir muito sobre adolescentes e seus anéis de compromisso discutindo na parada de ônibus sobre a loira oferecida da festa de sexta ou coisa parecida. Nunca se sabe quais novos "problemas de casal" irão surgir - o que é certo é que, independente de suas naturezas, se acumularão sobre os já citados e tardarão a oferecerem a possibilidade de um adeus (tão nobres quanto os casamento das fábulas).



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