Chegou sozinha, com cara de bunda. Não estava acostumada a andar sobre sapatos tão altos e desconfortáveis, tampouco a ter de puxar a saia do vestido para baixo o tempo todo. Os passos apressados, a bolsa apertada nas mãos nervosas, a cabeça baixa entregavam todo o medo que existia nos minutos finais que precedem o cruzar de uma porta.
O lugar estava cheio de rostos desconhecidos, iluminado de maneira aconchegante, recheado de mesas e cadeiras enfeitadas. Um sujeito estranho surpreendeu a garota, segurando umas folhas de papel e mostrando os dentes num sorriso exageradamente receptivo. Levou-a até um grupo de pessoas mais ou menos da sua idade.
Ela não falou muito, se sentou e examinou o ambiente - à procura de alguém que ainda não conhecia ainda mas que, nos seus sonhos, apareceria a qualquer momento e, tirando os desconfortáveis grampos que prendiam o seu coque festivo, a puxaria pelo braço, fazendo-a correr até algum paraíso não muito distante dali. Sabia que esses lugares especiais nunca estavam muito longe, bastava procurá-los com vontade, sem olhos repressores.
Mexendo as pernas compulsivamente, acenou para um garçom que servia coquetéis coloridos. Bebeu tudo de um gole, fechando a cara para as expressões assustadas dos seus companheiros de mesa. Passou os dedos pelos brilhosos e numerosos talheres que rodeavam o prato branco de porcelana. Droga, o guardanapo deslizara até o chão e agora combinava com a cor do seu humor. Consultou o relógio do celular e aproveitou a deixa para catar algum chiclete na bolsa.
O batom deixava sua boca insinuante. Junto com o decote, tal ousadia era verdadeira perdição - embora não soubesse. Se sentia como a última da fila de qualquer sujeito presente, sem saber que era um verdadeiro ímã de olhares pretenciosos, tímidos, encantados, de todos os jeitos. A cadeira vazia ao seu lado mantinha acesa a esperança de encontrar uma alma interessante - com quem pudesse, no mínimo, fugir do diálogo habitual. Sim, estava calor, a música estava boa (quer dizer, não estava - mas faz parte da educação concordar que tudo está sempre o máximo), a aniversariante estava bonita.
Se entretia encarando homens que visivelmente estavam namorando, sorrindo com desdém quando um ou outro mostrava-se interessado. Não, não estava afim de arranjar problemas. Isso poderia ser a idéia de cruzar com alguma namorada ciumenta ou mesmo um garoto grudento. Coçou a testa, analisou a decoração, resolveu ir ao banheiro fumar. Se incomodou com a fila na entrada e com o excesso de meninas e risadinhas que preenchiam toda a extensão do balcão das pias.
Acendeu um cigarro, ajeitou o vestido, soltou os cabelos. Sentia-se melhor assim, escondida sob os fios compridos. Não demorou para retornar ao lugar de origem, agora ocupado por uma jovem loira de vestido prateado. Resolveu passar reto, desistiu de esperar a dama terminar a conversa. Cruzou os braços e se encostou numa coluna grega, de gesso antigo.
Percebeu quando o cara descabelado cruzou a porta, com as mãos nos bolsos e expressão curiosa. Ele pegou uma taça e caminhou silencioso pelo salão. Nenhum funcionário sorridente o abordou. Alisou a parte de trás da calça com as mãos, à procura do bolso onde guardara o celular. Consultou a hora e sorriu para a aniversariante, que dançava uma música que parecia não acabar.
Ele reconheceu o símbolo tatuado nas costas dela, que dera a volta na coluna a fim de analisar uma escultura que estava sobre a mesma. Caminhou rapidamente até a garota, tocou-a no ombro e, num segundo frio e demorado, fitou de perto o rosto da jovem que o observava. Incrível como o gosto musical é capaz de interferir na vida das pessoas, pensou por um instante. Disse que gostava da banda, do emblema tatuado e de como estava se sentindo por fora de todo aquele clima de contos de fada daquela cerimônia - não com essas palavras. Ela esfregou o dorso da mão nos lábios, espalhando o vermelho por bochechas e queixo, afogando-se no azul dos olhos que se cerravam.
Para quem estava lá entediado e prestou atenção foi uma cena "ridícula" até o beijo visivelmente fogoso acontecer: a atenção continuava voltada para ela - a garota que tropeçava nos próprios pés.
segunda-feira, 10 de março de 2008
Lady in Red
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2 comentários:
Uaaaauuu!!!!
Q tri q ficou...sério, adorei
muito bem escrito.
XD
=****
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