sexta-feira, 13 de julho de 2007

TPM

Eu escutava "Julho de 83", do Nenhum de Nós, e ficava realmente esperando que os meus quinze anos não passassem. Só porque tinha um trecho na música em que o cara dizia "eu tinha quase dezesseis...". Depois de um tempo eu vi que isso era simbólico mesmo, porque eu continuei ouvindo a música com o mesmo sentimento, senão maior. E eu fiquei pensando um série de coisas hoje, mas que vou guardar para quem realmente merece ouvi-las. Não é que sejam assim muito espetaculares nem nada, mas sei lá, significam alguma coisa pra mim.
Eu fiquei prestando a atenção no que eu ando fazendo com o mundo ao meu redor e, de repente, fiquei com medo da redoma. Semi influência de uma outra música, dessa vez "Ode to my family", do Cranberries. Sabe, às vezes eu penso que nas minhas tentativas de, sei lá, me afastar de tudo eu fui longe demais. Virou um misto de claustrofobia com síndrome do pânico, para ser mais precisa. Eu não quero ficar trancada, sozinha, mas também não quero estar lá fora... pessoas.
E se aquela história de se tornar insensível for realmente verdade? Eu tenho medo de ter matado parte de mim com isso. Mesmo que eu saiba que nada morreu, enfim. Eu dormi pouco essa noite; fiquei rolando na cama e pensando na vida. Eu nem lembro da última consulta, mas eu poderia dizer que foi uma das mais importantes. Não pelas conclusões quase óbvias da mulher, mas porqu
e tiveram vários momentos em que eu realmente tive de me questionar. Ou, pelo menos, enfrentar o olhar de outra pessoa sobre mim.
Sabe, não que a gente devesse se importar, mas uma vez na vida tentar entender as visões de outros indivíduos sobre a minha pessoa, sei lá, é necessário. Para se conhecer mesmo. Porque você é a soma do que você é, interiormente falando, e de como você está, ou seja, o que seu exterior diz. Eu demorei vinte mil anos para entender que "to be" era uma coisa só, com o significado de "ser, estar" e talvez a demora tenha rendido em alguma reflexão.
Hoje é um daqueles dias do tipo "eu não pertenço a esse lugar". Comecei o dia com uma prova de literatura, que não estava agendada... É sério, eu tive que trocar de classe umas sete vezes só nesse período. Num dia qualquer eu teria me irritado muito, mas - sei lá (pela vigésima vez) - hoje foi tão diferente. Atrás de mim estava sentada uma garota, e atrás dessa, uma outra terceira. Era só passar para a fileira de classes do lado, mas todo mundo é incapaz de exercitar os glúteos no i
nverno. No verão também, lógico. Gentileza é uma coisa que não funciona o calendário inteiro.
Já não bastava a guria de trás não ter feito o pequeno esforço, visto que a merda da classe estava mais próxima dela (em vários sentidos...), ficou muito tempo reclamando como se fosse a vítima. Bah, mas se existe alguém que eu realmente abomino é essa guria. Eu sei que eu reclamo e que faço várias besteiras, mas o dia que eu ficar parecida com ela, por favor, me enjaulem e me joguem no mar. Sem pensar duas vezes.
Falta pouco tempo para o vestibular e eu fico impressionada que as pessoas, na minha turma, que mais colam nas provas são aquelas que fazem cursinho ou coisa parecida. E conseguem ir bem mal. É uma alienação incrível. Tudo bem, eu sou realmente careta e chata com essas coisas. Eu realmente odeio "malandros" e me sinto muito desgostosa por viver num país culturalmente conhecido por essa palavra. Com excessão de castigos tipo a palmatória, não me importaria que minha escola fosse bem mais rígida. Mas com uniformes japoneses, por favor, nada de bege-cocô com bordô.
Ontem, apesar de tudo, eu me senti sei lá, deficiente, com o
gato. Era o caso da pessoa com quem eu não sabia ser doce, que uma vez eu citei aqui. Não sabia e ainda não sei. É uma das pessoas que mais me desarma. Às vezes eu enxergo como um caso perdido, ou então eu percebo o elo que existe... não exatamente entre nós, mas com tudo o que está ao nosso redor: são pessoas realmente importantes para ambas as partes, que eu me arrependo de não ter conhecido antes. Sabe, eu me sinto uma intrusa de vez em quando. É o caso do "eu não pertenço".
Eu não posso negar que deixei um pouco de lado meu afeto por esses bichanos depois de tudo. O gato passou a ser um gato e, dentro disso, eu deixei de lado parte da minha identidade. Nos conhecemos há bastante tempo, antes de todos. Antes das rachaduras acontecerem, eu poderia dizer que nosso vínculo era realmente forte. A semelhanças eram muitas... eu não gostava da comparação, ora por ser algo realmente chato, ora por me sentir inferior, ora por prezar a diferença. Mas gostava do gato, ah se gostava!
Enfim, rachou. Isso nunca vai mudar, já foi discutido mas nã
o sei se haverá um consenso. Aos poucos está sendo reconstruído o castelo. Mas castelos assim são de cartas - e elas voam. Eu não sei ser doce, já disse. Me sinto culpada por não passar a sensibilidade, a delicadeza que o gato merece. Eu sou vulgar, minha fala é ríspida, eu pareço a pessoa mais fria e sebosa do mundo quando eu tento ser espontânea e divertida e não consigo. A Anita chama isso de "lado hetero da Ivy". Não por ser hetero, mas por que eu encarno um homenzinho nojento. Enfim.
Eu me sinto como se estivesse pisando em solo inimigo às vezes, como se a bandeira que eu estivesse carregando não representasse o meu brasão. Sei lá, o gato é tão querido. Foi nesse ponto que eu falei em inveja. Mas eu refleti e não é isso. Não desejo o mal do gato, em hipótese alguma. E até passei a gostar da hipótese do gato ser um gato. Só que o que, ao meu ver, nos divide, é a importância que damos às coisas. Razão x Emoção. E, claro, vários outros detalhes que envolvem terceiros...
Várias coisas que eu fiz tiveram um segundo sentido. Cor
tar o cabelo, não colocar piercing, evitar certos hábitos. É estranho quando uma pessoa bem parecida com você está por aí, nas ruas. E eu me sinto sem um lugar, como se o que eu estivesse fazendo o mesmo que me aninhar na cama do gato, no lugar dele. Não quero as mesmas coisas, não quero promoção, eu realmente prezo a individualidade. Já aconteceram situações diversas, onde eu em senti no papel de substituto, onde eu tinha que proteger o gato. Mas nós não temos mais abertura para isso; eu sinto receio, ela sente o cheiro.
Isso me deprime, não quero falar disso. Queria poder acreditar que tudo vai melhorar, mas eu não vejo um futuro muito bom. Ainda mais com direções tão opostas... mas sempre no mesmo sentido. Sei lá, eu me sinto sozinha nesse ponto. Eu me sinto um lenço de papel, tipo um brinde de uma embalagem de papel higiênico: todos iguais, juntinhos, felizes. É como se tudo que eu fizesse fosse ser comparado ao que o gato faz. Não quero ser e não sou melhor. Nem pior. Apenas poder estar no mesmo plano. Mas eu já nem sei o que é isso. Faz tempo que eu não sei.
Falta o último episódio, para eu acabar de ver a terceira
temporada de L Word (eu demorei, eu sei). Daí pego a quarta e, enfim... é esperar o resto. Foram bem tristes esses últimos. Daqueles em que você se identifica com todo mundo, e todo mundo está cheio de problemas. Sabe, eu quero poder fechar os olhos, respirar o ar gelado e ficar horas nessa felicidade. Mas sozinha eu não consigo. Vou pedir ajuda, comprar um martelinho e fugir da redoma. Esses fantasmas não me fazem bem.
Cheguei em casa e a minha mãe disse tudo errado. É a típica situação em que você pensa "ah, ela não tem culpa", pensa que ela está estressada ou preocupada, mas não deixa de ser a situação em que ela deveria ter ficado quieta. Eu não sonho com crianças, tampouco quero que elas assistam meu casamento acabar. Eu não aguento mais ouvir que "ser filho de pais separados deve ser muito bom. você ganha mais presentes, tem duas casas" e segue uma lista de coisas bem toscas. Ah sim, você passa a ser um mimado e coisas assim.
Poxa, o que eu faço é ouvir sermão em dobro, aturar os dois brigando quase sempre por minha causa, ter preocupação e pressão em dobro. Se um deles erra, o alvo sou eu. É uma merda simplesmente ser mencionada como "a tua filha". "Nossa filha" não existe mais, esse é o
peso. Existe a culpa por você ter acreditado que seria melhor assim. Mas não é. Eu não gosto dessa coisa de vida dupla, porque é desequilibrado. Eu vivo com minha mãe, o meu pai é meio ausente. Mas, por conviver com ela, é que eu reclamo dela. Logo, não tem lógica.
Com isso, eu aprendi a fugir das coisas antes que elas virem um problemão. E aprendi que "Sessão da tarde" não passa daquela seqüência semanal de filmes... essas histórias sempre são mágicas, mas nunca são reais. Sei lá, depois disso as coisas que mais me afetaram foram, sei lá, relacionadas as tentativas de poder dos outros sobre mim. Eu cresci sozinha, nunca vou me encaixar com um ambiente cheio de pessoas. Quatro pessoas, três... já é o suficiente pra eu fechar a boca e perma
necer assim eternamente. Doses homeopáticas, por favor.
Eu não quero ser mega sociável, não vejo porquê nisso. Eu não vou ser natural com o plural. Eu sou ímpar, não tenho porquê para perder minha natureza. Tentar fazer com que eu conviva com pessoas é o mesmo que me fazer andar por um trampolim, para fora do navio. A mulher disse que a distância vem da independência, que nada mais é do que medo.
Eu sinto medo das portas que eu criei, cuja chave eu engoli. Eu me sinto realmente mal, a ponto de sentar no chão e não ver o tempo passar. Por outro lado, é o momento mais feliz pelo qual eu estou passando. Tipo aquele sentimento de euforia que só te traz certezas, que só te afasta de todo esse lado mofo do dia-da-dia. É como se eu pudesse deitar a cabeça no travesseiro e realmente dormir tranqüila, porque eu confio de olhos fechados (literalmente também) em tudo o que está acontecendo, na força que existe entre quatro mãos que se cruzam, frente a frente. Olhos nos olhos. Gostaria realmente de dizer o que eu queria dizer.
Sei lá, sou a pessoa mais feliz do mundo. Porque felicidade não deixa de ser um acordo entre o Bem e o Mal. Yin e Yang.


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